“Empresários fogem dos apoios aos músicos”
MÚSICA. Apesar de já ter trabalhado com grandes nomes da música nacional ?e internacional, DJ Dias Rodrigues ainda sonha gravar com Carlitos Viera Dias e ?Rui Mingas, ‘colossos’ do semba. Produtor e técnico de som da RNA, garante que produção musical angolana “baixou muito” devido à crise.
Como surge o projecto ‘Pikante’?
‘Pikante’ surgiu em 2000, na senda da produção com Caló Pascoal, DJMania e Nelo Paim, que foram os meus ídolos. Ensinaram-me como as coisas funcionam, mas foi uma experiência muito boa. Até hoje trabalho com eles e vou caminhando. Em 2001, conheci o grande Bentinho Feijó e Calo Barbosa (dos Tabanka Djazz’) que fui ‘comendo’ a experiência e aprendo todos os dias.
Paga aos artistas que participam no seu projecto ou é por cortesia?
Na maior parte das vezes, entramos num acordo de trabalho. Não canto, mas produzo. Há sempre acordos no qual os músicos são sensíveis. Aos outros que vivem fora de Angola pago sempre, mas o pagamento pode não ser o que devia pagar, porque existe a amizade. Nem tudo na vida é dinheiro.
Com que artistas gostava de trabalhar e que ainda não trabalhou?
Gostaria de ter dois grandes kotas da música angolana, Carlitos Viera Dias e Rui Mingas. São os colossos do semba em Angola e sei que me vão dar uma oportunidade, porque sabem do que sou capaz de fazer para o semba, não fugindo muito daquilo que fazem, mas no contexto actual.
Qual dos cinco ‘Pikantes’ foi o mais difícil de concluir?
Confesso que o Pikante 2 e 3 foram os mais difíceis, porque era abertura da nova era do DJ Dias Rodrigues, que tinha de tentar dar o seu melhor. Depois de fazer o Pikante 1, tinha a obrigação de tentar fazer melhor. Um DJ não pode fazer um disco mais ou menos. Ou faz para tocar, ou não faz, porque é um juiz que conhece bem aquilo que toca e que faz dançar.
Como está a produção musical nacional?
A produção baixou muito e é normal divido à crise em Angola. Mesmo assim, tentamos dar o melhor. Mas foi uma queda muito grande. Antes da crise, todas as semanas, havia um disco novo. Agora, nesta fase, só saíram sete discos na praça.
A música é das melhores apostas?
A música é sempre um negócio. É algo que ninguém despensa, tem várias vertentes para o negócio, mas não vou dizer que é a melhor aposta do mercado, mas tem o seu espaço.
Os músicos reclamam da falta de apoio. Como podem ser ajudados? Apoio?
Não existe empresário que só quer ajudar. De dez, talvez só um possa dar. Todo o mundo que pretende ajudar quer sempre ganhar alguma coisa. O empresário angolano, muitas vezes, foge. É a lei de quem tem cinco para receber 15. Já nem vou falar do Ministério da Cultura, porque até o esquecemos! Está tudo complicado. Até para gravar tem de se ter algum no bolso. As produtoras querem ter retorno financeiro. Já passou essa fase de ajudar. É com muita tristeza que vemos muitos músicos a morrer sem sequer terem comida. Será que nunca tiveram apoio? Hoje fica tudo mais complicado, todo o mundo gosta de música, mas na hora são só mentiras.
A repescagem de sucessos antigos tem algum propósito?
A música angolana nunca morre. O semba tem algo de muito especial e tudo o que é musica do passado representa momentos únicos e especiais. Nós, os jovens, temos a dura missão de dar continuidade àquilo que foi feito. Estamos a melhorar e a modernizar as músicas antigas que, para nós, não morrem.
Tem autorização dos donos das músicas para fazer nova roupagem?
As músicas estão registadas na SPA ou na SADIA. Não se paga directamente a eles, mas, de qualquer forma ,fizemos menção na capa do disco o título das músicas e o autor, que também é essencial para não fazermos morrer as músicas. Estamos bem encaminhados para continuarmos a produzir. Depois de mais de 20 anos ,torna-se música popular a qual não temos qualquer problema em regravar, deste que se cumpra com os trâmites legais.
O que o sexto ‘Pikante’ terá de diferente?
O sexto será diferente de todos, em termos de estilo e de prioridades. Não vou fugir muito do habitual, mas terá sempre algo especial. Será composto por semba, semba cadenciado, r&b, zouk, kizomba, músicas tradicionais. Resumindo, musicas para dançar.
Quando é que vai ser lançado?
Estava tudo programado para sair em Dezembro, mas, devido a alguns atrasos financeiros, prefiro concluir tudo entre Janeiro e Março. As músicas promocionais estão sempre a tocar como ‘Céu’, com C4 Pedro, e ‘Nossa Música’, de HeavyC.
Todos os seus projectos estão ligados só à música?
Quase todos. Faço aquilo de que gosto. Tenho a empresa DR Produções, de espectáculos e eventos. Quando não estou 100%, está sempre alguém que me representa melhor.
Entra na música por influência dos irmãos. Está a preparar também o seu filho para este mesmo caminho?
(Risos...). Na vida há sempre seguidores. Às vezes, cria-se o próprio dom. Os meus manos fizeram-me o que sou, um DJ que toca tudo. O puto sempre me observou e também se fechava no quarto a treinar técnicas de misturas. Hoje está mais maduro, mas não pode deixar de estudar. Tem de estudar se quiser tocar.
PERFIL
Nome: Dias Correia Rodrigues
Naturalidade: Luanda
Estado civil: Casado
Filhos: 4 filhos
Desporto que pratica: futebol
Clube que apoia: ‘1 de Agosto’ ?e Sporting de Portugal
Maiores conquistas:? Os meus filhos
“A Sonangol competia só com as empresas estrangeiras. Agora está a competir...