Empresários pressionam para a criação de uma zona franca na Huíla
INDÚSTRIA. Facturação anual de cerca de 300 milhões de dólares e criação de 150 mil postos de trabalho, com a instalação de fábricas de pequeno e grande portes, são as previsões de um grupo de empresários que enviou o projecto a João Lourenço.
Empresários de Quilengues entregaram ao gabinete do Presidente da República um ‘dossier’ que prevê a instalação de uma zona franca naquele município da Huíla. Se receber ‘luz verde’, serão instaladas entre três e seis mil empresas, sobretudo unidades industriais.
Ao VALOR, o vice-presidente da Cooperativa Agrícola ‘Aurora Impulo’, Almeida Pinho, fundamenta a decisão com a necessidade de o país sair do “marasmo e da excessiva dependência” do estrangeiro para produtos que podem ser feitos com recurso à matéria-prima local.
Além disso, acrescenta, com uma produção de escala, “o escoamento para os principais pontos de consumo no país e no estrangeiro será mais fácil”. O empresário defende a necessidade de se explorar a proximidade da zona com os portos do Lobito e Namibe, podendo ainda beneficiar de um ramal do Caminho de Ferro de Moçâmedes, além de ficar a 600 quilómetros da fronteira sul com a Namíbia.
“Como é que não temos uma fábrica de palitos, mas exportamos madeira para a China? Não temos indústria de cutelaria, de pratos, canecas, ou mesmo de papel, mas temos potencialidades para o fazer. Estes são apenas alguns dos múltiplos exemplos a considerar na proposta que já foi entregue ao Presidente”, explica o empresário que projecta a criação de 150 mil postos de trabalho directos e uma facturação anual entre os 200 milhões e os 300 milhões de dólares.
Na proposta entregue a João Lourenço, são identificados mais de 150 itens de produtos industriais que o país não produz, mas que, “havendo vontade política, podem ser alavancados”.
Almeida Pinho entende que a zona franca vai criar ‘stocks’ de produtos e ajudar a “bolsa de valores a ser mais dinâmica, poderosa e com maior número de empresas”. “O país precisa disso como do pão que o nosso organismo necessita todos os dias. É preciso investir com urgência em sectores que ressuscitem a economia se não seremos engolidos”, argumentou. Almeida Pinho antevê também a redução dos preços, numa altura em que “a nossa mão-de-obra também será competitiva e teremos a necessidade de formação profissional em domínios essenciais ligados às tecnologias modernas e informática”.
De acordo com o empresário, em Quilengues, já existe o ‘embrião’ daquilo que pode vir a ser a futura zona franca, uma unidade industrial da Jembas que produz queijo, chouriço, iogurte, leite e carnes, além de chás de diversas variedades comercializadas sobretudo em Luanda. Há ainda 250 fazendeiros e mais de dois mil camponeses e um efectivo bovino de entre 20 e 25 mil cabeças. “Temos ainda metais raros que podem ser explorados e dinamizar as fontes de arrecadação de divisas. Enfim, temos água”, acrescenta, lamentando apenas a falta de energia eléctrica, “uma promessa antiga do ministro da Energia e Águas, João Baptista Borges”.
No entanto, não é a primeira vez que um grupo económico se posiciona para estimular o surgimento de uma zona franca. Em 2013, por exemplo, a AIA anunciou que seria criada uma zona por empresários da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), na Região Sul de Angola que integraria as províncias da Huíla, Namibe e Cunene.
Potencial das zonas francas
Cerca de quatro mil zonas francas existem em 135 países, gerando 80 milhões de empregos e uma facturação à volta de 850 mil milhões de dólares. Em África, o Egipto lidera com 10 zonas francas “todas elas apinhadas de fábricas”, seguindo-se a África do Sul e a Nigéria com uma cada uma. A mais recente no continente é a zona franca do Djibuti, aprovada em Junho, e que deve começar com o concurso de investidores chineses.
“A Sonangol competia só com as empresas estrangeiras. Agora está a competir...