ANGOLA GROWING
PREVISTA NA ALTERAÇÃO DO CÓDIGO TRIBUTÁRIO

Empresas desconhecem abate da dívida pela dívida

COMPENSAÇÃO. Lei foi revista no final do ano passado. Abate pode permitir que empresários regularizem dívida com a AGT quando o Estado também é devedor. Associações querem maior divulgação por parte da autoridade tributária.

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Muitas empresas com dívidas ao fisco e a quem o Estado também deve desconhecem as alterações que foram feitas no código geral tributário no final do ano passado e que passaram a permitir a compensação da dívida pela dívida.

O reparo foi feito por Adilson Sequeira, técnico da AGT, num encontro com empresários da hotelaria e restauração, quando estes insistiam no perdão fiscal e reclamavam o pagamento de dívidas do Estado. O técnico tributário atribui parte da culpa aos contabilistas que, no seu entender, não comunicam aos empresários. Conforme explicou, a compensação da “dívida pela dívida” também vai ser aplicada quando o imposto sobre o valor acrescentando (IVA) estiver em vigor. “Mesmo com o IVA, quando a empresa solicitar um reembolso a título de crédito fiscal, se verificar que tem uma dívida de outro imposto, como por exemplo, o industrial, será apenas reembolsada a diferença e liquidar a dívida com outros impostos”.

Ramiro Barreiro, secretário-geral da Associação dos Hotéis e Resorts de Angola (AHRA), diz ser uma “pena” a falta de conhecimento desta garantia da lei. E garante que a associação vai sensibilizar e informar os associados. “A compensação da dívida pode facilitar e aligeirar muitas dívidas com a AGT. Tem faltado informação”, reconhece.

Ramiro Barreiro garante que a associação desconhece quanto os hoteleiros devem ao fisco e o que o Estado deve aos empresários do sector, por isso está a fazer-se um levantamento para apurar as dívidas. Um processo que, entretanto, não tem sido fácil, já que muitas empresas não querem revelar as suas dívidas. “Os associados também não facilitam o nosso trabalho. Mas entendemos. Há um associado que, há dias, revelou que o Estado lhe devia cerca de 300 milhões de kwanzas. É muito dinheiro. O Estado tem de pagar. Vamos aguardar. Começámos recentemente a trabalhar com o Ministério das Finanças para tratar desta dívida. Tem havido uma abertura de diálogo por parte do Governo”, refere.

AIA culpa AGT

Por sua vez, o presidente da Associação dos Industriais de Angola, José Severino, também admite que muitos empresários desconhecem “essa facilidade”. Defende que, para a informação fluir, a AGT tem de deixar de achar que Angola é Luanda. “As informações não fluem, o ‘Jornal de Angola’ não circula, e o Diário da República também não. Esse é o problema. A AGT tem de anunciar mais rigorosamente. Devia fazer circular a informação. O fisco tem mais propensão à cobrança do que a reconhecer direitos dos contribuintes. Isso é um problema de sensibilidade.”

A lei 18/17 altera a 21/14 e determina que a compensação de créditos tributários por dívidas não tributárias pode efectuar-se no âmbito do procedimento tributário, a título oficioso ou mediante solicitação do contribuinte. A compensação só tem lugar após o reconhecimento da dívida a favor do contribuinte pela Unidade de Gestão da Dívida Pública.

O Ministério das Finanças anunciou, em Março, uma nova estratégia de regularização da dívida. Estava previsto regularizarem-se os passivos do Estado com os prestadores de serviço através da compensação com créditos em bancos públicos, por muitas empresas que reclamam dívidas ao Estado serem simultaneamente devedoras de bancos públicos.

A secretária de Estado do Tesouro, Vera Daves, acredita que era uma “oportunidade para diminuir créditos malparados junto destes bancos”, mediante o pagamento da dívida das empresas em contas domiciliadas dos mesmos. “Há muitos credores a pagarem juros de mora nalguns bancos. O objectivo são os fundos ou títulos a serem pagos caírem na conta onde o credor estiver domiciliado ou carregado o crédito para se abater directamente”, referiu na altura.

A dívida governamental está avaliada em 69,5 mil milhões de dólares, sendo 40% interna, o que corresponde a 30 mil milhões de dólares.