Escolha de parceiros atrapalha construção de Refinaria
INVESTIMENTOS. Pelo menos quatro empresas de origem estrangeira terão sido já sondadas pela Sonangol para viabilizar o projecto de construção da refinaria do Lobito, chegaram a ser firmados acordos mas nenhum foi avante. Negócio com indianos pode ser ensombrado por acordos passados não cumpridos.
O processo de construção da refinaria do Lobito ganhou novos contornos na semana finda, desde o lançamento da primeira pedra em 2012, com a anunciada parceria entre a Sonangol e a empresa Engineers India Limited (EIL), para a viabilização do projecto.
A notícia, divulgada em comunicado pela empresa indiana, não antecipa os valores da contratação. No entanto, apesar de não ter havido qualquer reacção oficial por parte da Sonangol, alguns especialistas contactados pelo VE arriscam-se a vaticinar que o negócio deverá constituir apenas mais uma etapa do processo de construção da refinaria do Lobito.
O especialista em energia, José Oliveira, reforça que o projecto (refinaria do Lobito) se tornou praticamente inviável, nos dias que correm, por razões que, primeiro, atribuiu ao seu elevado custo e, depois, a dificuldades por parte da Sonangol em encontrar parceiros estratégicos para a viabilização do projecto.
Para além da EIL, a Sonangol já havia tentado também estabelecer parcerias com a empresa norte-americana, KBR, a espanhola ENI e a petrolífera chinesa SINOPEC. No entanto, sem nunca efectivar os acordos. Os indianos, segundo fontes do VE, há muito que mostram interesse para entrar no negócio da refinação, em Angola, mas sem nunca terem tido êxito. Assim, a anunciada parceria com a Sonangol para a construção da refinaria do Lobito “constitui-se numa oportunidade que os indianos não deverão deixar escapar”.
Apesar dessa ´forte motivação´, os analistas consideram que a actual conjuntura económica que o país atravessa pode, de algum modo, atrapalhar as iniciativas que vão surgindo, visando a materialização do projecto ´refinaria do Lobito´.
“As engenharias financeiras podem ser feitas, mas depois é preciso ter dinheiro para pagar o empréstimo. Acho que, neste momento, nem a Sonangol, nem o país tem capacidade para tal”, considera José Oliveira.
O também engenheiro é de opinião que, no actual momento de crise económica, o mais viável poderia ser a Sonangol recuperar o projecto de ampliação e modernização da refinaria de Luanda, sendo que “seria um processo menos oneroso e mais ajustado ao momento actual”, defende.
NEGÓCIO PODE ESTAR AMEAÇADO
O negócio com os indianos poderá, no entanto, estar condicionado a compromissos assumidos pela Sonangol, no passado, com alguns parceiros, sendo de destacar o caso particular da empresa norte-americana KBR (Kellogg, Brown & Root), contratada, em 2008, para elaborar a planta da refinaria do Lobito.
Segundo fontes do VE, haverá ainda por parte da Sonangol uma dívida por saldar junto da KBR pelos serviços já prestados na refinaria do Lobito, o que “poderá condicionar a transferência de dados técnicos sobre os trabalhos já efectuados para que a nova empresa contratada dirija o processo”.
O VE apurou de fontes oficiais que o acordo com a norte-americana KBR previa um orçamento inicial de cerca de 14 mil milhões de dólares, mas o montante viria a ser reduzido, mais tarde, para quase metade (8 mil milhões de dólares), a pedido da própria Sonangol.
Apesar dos ajustes no orçamento, o acordo entre as partes nunca foi finalizado, sendo que a estatal angolana, a certa altura, terá preferido desistir do compromisso devido, ao que considerava, “os altos custos que o negócio envolvia”.
Nos termos do acordo rubricado com a Sonangol, a empresa KBR, para além de elaborar a planta da refinaria, tinha ainda o direito de escolher as empresas que haviam de construir a infraestrutura, na altura, orçada em cerca de 6,4 mil milhões de dólares.
Antes dos indianos e dos norte-americanos, a Sonangol já havia tentado também estabelecer parcerias com a espanhola ENI e a petrolífera chinesa SINOPEC. No entanto, também com essas os acordos nunca chegaram a ser efectivados.
O projecto da nova refinaria foi apresentado em Março de 2001, tendo sido anunciado na altura que poderia entrar em funcionamento durante o primeiro trimestre de 2006.
O programa do executivo para o sector dos petróleos no período legislativo 2013/2017 prevê que a construção da refinaria de Lobito deverá ser concretizada até 2018, numa área de 3.805 hectares, permitindo processar diariamente cerca de 200 mil barris de crude, criando 10 mil postos de trabalho directos e indirectos.
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