“Estamos a ser salvos pelo nosso accionista que está fora do país”
ENTREVISTA. Gestor revela que Multichoice, empresa especializada em Tv por assinatura, tem em curso ‘master plan’ que ‘promete’ mudança total do negócio, em Angola, a nível dos serviços e formação de pessoal. Afirma, por outro lado, que empresa tem resistido aos efeitos da crise ‘por culpa’ da presença robusta que grupo mantém em África.
A Recentemente a Multichoice celebrou 18 anos de presença no mercado angolano. Qual o balanço que faz do desempenho da empresa nesse período?
Foram 18 anos de muita aprendizagem e desafios. O país, ao longo desse período, assinalou muita história, vários momentos económicos e social. E nós, Multichoice Angola, passamos por todas estas etapas. O presente é de muito optimismo, embora saibamos as dificuldades que o país atravessa, do ponto de vista económico. Mas estamos a olhar para este período como de oportunidades.
Esse período de oportunidades, como se traduz, em termos práticos, para a empresa?
Traduzimos isso com, por exemplo, a abertura de novas lojas como a que recentemente inaugurámos, em Viana, e de 16 novas unidades que surgirão até ao final de 2017. Vamos ter também uma presença directa em todas as províncias, embora já estejamos por via dos nossos agentes.
E porquê a aposta na presença directa nas províncias, quando até já há representantes locais?
Porque estamos a trabalhar, acima de tudo, com serviços, que é algo complexo. Queremos usar essas unidades próprias até para a formação, para além de tê-las como unidades padrão. Queremos que os nossos agentes, que são cerca de 380 espalhados pelo país, possam ter uma ‘benchmark’ e possam fazer uma comparação, sabendo o que é ideal e como o cliente deve ser tratado. O cliente vive de experiências e uma experiência mal sucedida desestimula-o a continuar connosco, até porque existe concorrência. Sabemos disso e, por isso, estamos a investir não somente em activos, como lojas, mas também em novos sistemas tecnológicos.
Como está a decorrer a aposta em novos sistemas tecnológicos?
Este sistema está a ser todo reformulado. Temos um sistema principal que vai ser alterado por um outro moderno e actualizado e que faz parte da gestão do cliente. Este sistema está a ser implementado até Abril do próximo ano. Estamos a investir também muito em pessoas. Quando há crise, as empresas normalmente desaceleram os investimentos, mas, no nosso caso, é o contrário. Estamos a aumentar o número de colaboradores. Estamos a trazer cada vez mais pessoas especializadas e angolanas. E estamos a fazer isso porque consideramos que já existe hoje pessoal local capacitado. Mas queremos também trazer pessoas de fora que tragam novo oxigénio. Queremos criar, dentro do nosso negócio, uma massa crítica e pessoas que possam trazer, de facto, opiniões que façam com que cresçamos e melhoremos o negócio. Este plano chamamo-lo internamente ‘turnaround plan’ e traduz-se numa mudança total do negócio a nível do pessoal, dos serviços, investimentos em activos e produtos.
Que novidades poderão haver a nível dos produtos disponibilizados pela Multichoice no mercado angolano?
O desporto vai continuar a ser a nossa principal aposta. Continuamos com as grandes ligas internacionais sob nossa exclusividade. Temos também um investimento forte nos conteúdos infantis. Estamos a tentar, cada vez mais, melhorar o conteúdo local. Nosso investimento na Banda TV e na Palanca, que são empresas locais com as quais fizemos uma parceria muito forte, começa a dar resultados. Mas não paramos por aí. Estamos a estudar como desenvolver mais e melhor o conteúdo local. Isso não é fácil, principalmente neste momento económico difícil, porque o investimento de produção é muito caro. Há uma série de elementos que se devem ter em conta, desde os estúdios, equipamentos, que concorrem para a realização de uma produção (televisiva) com qualidade. Não podemos associar a produção local a algo que não é bem feito, não! Queremos ter produção local e bem feita.
Os conteúdos em português vão continuar a ser das grandes apostas da empresa?
Acreditamos que a língua portuguesa precisa de ser cada vez mais difundida e, por isso, vamos apostar em trazer mais conteúdos que falem a língua portuguesa. Este ano já tivemos os resultados e são muito bons. A partir de conversas com os nossos agentes, percebemos isso. Os agentes são os nossos termómetros e têm dito que os nossos produtos têm vendido muito, em comparação com o nosso concorrente principal, o que demonstra que passamos a ser uma oferta preferencial. Isso nos agrada muito.
A Multichoice tem estado a actualizar também os preços…
Mantivemos os nossos preços fixos quase por 18 meses. Continuamos hoje a ter o preço mais barato do mercado. Chega a um ponto que é insustentável, com a desvalorização e a escassez da moeda. Hoje temos muitas dificuldades até para pagar serviços no exterior. Se hoje não fôssemos um grupo pan-africano, que está presente em toda África, talvez o nosso negócio seria insustentável. Os nossos fornecedores cobram todos os meses e não temos como pagar, porque não temos como transferir os dinheiros. Temos uma enorme quantia que não conseguimos transferir e ai quem nos salva é nosso accionista que está fora do país. Mas isso não é salutar, porque precisamos de pagar os nossos custos. Os dez por cento que aumentámos (nos preços dos pacotes) são praticamente irrelevantes para o nível de perda que tivemos. Mas dentro de tudo isso, continuamos a investir, por acharmos que é o momento certo e porque acreditamos também que a recuperação (económica) ressurgirá. Confiando nisso, acreditamos que 2017 será um ano diferente.
Quais foram as grandes dificuldades enfrentadas pela empresa no decorrer dos 18 anos de presença, em Angola?
Cometemos alguns erros. Reconhecemos isso claramente. Mas os erros são factíveis. Em 18 anos, tivemos erros e acertos e esses erros foram todos identificados e estamos a trabalhar exactamente sobre eles.
Que erros são esses?
O primeiro elemento que posso realçar é a questão do atendimento ao cliente. Durante um bom tempo, prestamos um serviço, a esse nível, que não era o ideal para o nosso cliente. E é isso que estamos a corrigir agora. Por isso estamos a abrir novas lojas, a mudar o nosso sistema tecnológico. Estamos a ampliar os nossos meios de pagamentos, que é algo que tem de ser fácil para o cliente. Portanto, todo este investimento, a partir do próximo ano, vai ser mais perceptível e os resultados, que já foram bons este ano, vão melhorar para o ano.
A empresa vai continuar a apostar no segmento da televisão ou haverá abertura para novas apostas como, por exemplo, o serviço de internet?
Entendemos que o serviço de internet como algo muito importante, até porque temos alguns serviços hoje baseado em internet. Em breve, vamos lançar um novo serviço, que não é propriamente de prestação de internet, mas que vai permitir o cliente consultar o nosso conteúdo via internet. Não faz parte do nosso portfólio de negócio o investimento em internet, como provedor de serviço de internet. Somos provedores de serviços onde a internet é o centro. O nosso grupo, no mundo, está presente não só pela televisão, mas também por via do chamado serviço ‘e-commerce’. É aí em que nos inserimos. E para aqueles clientes que queiram os dois serviços, nomeadamente televisão e internet, temos parceria com a TV Cabo, que não é nosso concorrente, mas um parceiro que permite fornecer serviços a nossos clientes que queiram aderir ao chamado triplo play, que é Tv, Internet e televisão. Por isso, a nosso ver hoje não justifica sermos mais um prestador de serviço de internet.
Há clientes que, por inúmeras vezes, se queixam de constantes falhas no sinal emitido pela Multichoice. Como a empresa pensa ultrapassar este constrangimento?
O nosso serviço é fornecido via satélite. Temos o nosso satélite que cobre Angola, o Eutel SAT, que era o 33B. Agora, comprámos mais espaço de seguimento espacial no (satélite) 36C. Com este novo espaço, temos um novo transponder (satélite de comunicação) exclusivo, só nosso, o que vai permitir ter a nossa potência ampliada, que já é um facto. Há mais de um mês que deixámos de ter problemas decorrentes de situações meteorológicas, como a chuva, devido ao aumento da potência do satélite. Hoje temos um satélite mais potente que faz com que o nosso sinal seja também melhor. Este é outro problema que podemos dizer que já foi ultrapassado.
PERFIL
Eduardo Continentino é o director-geral da Multichoice Angola, desde Janeiro de 2016, tendo, antes, desempenhado iguais funções em Moçambique por um período de quatro anos. Formado em administração de empresas, Eduardo Continentino ostenta também uma pós-graduação em telecomunicações. Casado, tem 52 anos de idade, 32 dos quais dedicados a projectos ligados a área das telecomunicações.
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