Estofar também é rentável
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EMPREENDEDORISMO. Sentado num sofá ou num cadeirão, desejamos que permaneça confortável enquanto desfruta do relato que se segue, exemplo vivo de que a crise financeira e económica no país também proporciona momentos bons a alguns empreendedores.
A venda de mobiliário de fabrico artesanal voltou a ser rentável, com a redução do volume de importação de mobiliário doméstico ou mesmo com o encerramento de lojas. A causa já se sabe: a crise dos dólares. Apesar de as ‘oficinas’ funcionarem em locais improvisados, quem fabrica e comercializa cadeirões ou sofás consegue ter rendimentos mensais acima de um milhão de kwanzas.
Mais do que um meio de sobrevivência, a actividade é hoje um verdadeiro negócio, largamente beneficiado com a crise financeira e cambial que retirou a muitos consumidores a opção do exterior.
Em Luanda, os fabricantes recorrem, preferencialmente, aos mercados do Kikolo, Panguila (em Cacuaco), Palanca, Calemba II e Madeira, para a compra de matéria-prima. Jeremias Manuel, estofador há cinco anos no bairro Simione, viu o número de clientes aumentar nos últimos meses e decidiu alargar o negócio.
Antes, produzia, em média, três jogos de cadeirões por semana, mas agora disparou para 10 no mesmo período. “Consigo vender mais de oito cadeirões em menos de um mês”, vangloria-se. Para o fabrico, utiliza madeira nacional, prego, cola, grampeador, tecidos de napa e colchões. Quanto ao formato, baseia-se em catálogos dos móveis importados da China, Dubai, Portugal e Itália. Vende um jogo do popular cadeirão em formato L (grande) por 150 mil kwanzas, e o pequeno ou o normal (de três peças) entre os 90 mil e 70 mil kwanzas, respectivamente. O volume de vendas permite a Jeremias um rendimento mensal de até 1,5 milhões de kwanzas, 15% dos quais servem para pagar o arrendamento do espaço.
O empreendedor emprega cinco jovens na sua “oficina de arte”, como chama ao lugar de trabalho. Cada um tem a liberdade de produzir quantos jogos quiser. A recompensa, esta, depende das vendas. Por um conjunto de sofás de 90 mil kwanzas, por exemplo, levam para casa por aí 85%. Num único espaço em Viana, junto ao Ginga Shopping, o VE encontrou mais de 10 fabricantes. São maioritariamente originários de Cabinda, Uíge e Zaire. Aqui, em menos de uma semana estão prontos mais de 50 jogos de “confortáveis sofás” de diversos tipos , 40 dos quais têm venda garantida no mesmo período.
“Usamos a criatividade para ganhar a vida”, diz o estofador M´Belo Pascoal. Para já, os preços são “um pouquinho mais puxados”. Dependendo do formato e tamanho, quem deseja garantir algum conforto em casa paga 90 mil, 150 mil ou 200 mil kwanzas.
Se, para uns, a crise trouxe desgraças, outros viram, na adversidade, o momento ideal para expandir o negócio. M´Belo, designado porta-voz dos estofadores, garante que a ‘coisa’ vai ganhando terreno aos poucos. “Voltámos a ter muitos clientes. Muitos deixaram de adquirir mobílias vindas da China, Dubai, Itália e Portugal. Também fazemos produtos de qualidade e oferecemos preços para todos os gostos e bolsos”. O ‘mestre’ garante que, até meados de 2016, não era possível fabricar mais de três jogos. Agora, a realidade é outra: cada mestre consegue produzir até 10 em apenas uma semana. Ou seja, o negócio está a sair mesmo bem… A estofaria da FTU, em plena Estrada de Catete, no Palanca, será das mais conhecidas na capital do país. A localização privilegiada confere ao lugar uma visibilidade estratégica.
Pedro Paca é proprietário de um espaço que acolhe 15 artistas do estofo. Recebe 5% do valor por cada peça vendida. As vendas variam entre 10 e 15 sofás semanais. “Temos muitos clientes porque vendemos os produtos a preços razoáveis”, explica.
Serviços ao domicílio
A reparação de mobiliário, sobretudo importado, junta-se à venda para a arrecadação de receitas que permitem ‘driblar’ a crise. A dificuldade de movimentação numa Luanda em permanente agitação levam a que vários clientes prefiram receber os estofadores em suas casas, apesar do custo. Jeremias Manuel diz que o tamanho e o material empregado determinam o preço. O tradicional jogo de três peças importado pode sair entre 40 e 70 mil kwanzas, dependendo dos danos. Já para o ‘feito em Angola’, desembolsam-se entre 20 e 60 mil kwanzas. Em alguns casos, clientes preferem que a reparação seja feita em sua residência. Para quem vende, não há problema, até porque a deslocação implica o pagamento de um valor adicional. “E quando assim acontece, o negócio cresce”.
Ilegais, mas pagam à administração
O estofador Pedro Paca diz não ter qualquer documento que lhe autorize o exercício comercial, mas, garante, paga mensalmente 4.500 kwanzas à Administração Municipal do Kilamba-Kiaxi para manter o negócio aberto.
“Estamos a fazer tudo para que, nos próximos dias, tenhamos o alvará comercial, que nos vai permitir vender sem qualquer impedimento dos fiscais”. Com Artur Macaia o problema em questão a prece mais grave: desconhece as regras e os trâmites para a legalização da sua micro-empresa.
Considera “favorável” o rendimento mas diz que falta dinheiro para tratar da burocracia. “Pago 15 mil kwanzas por mês por este espaço, e quase 10 mil à Administração, o que me deixa sem dinheiro para tratar outros documentos. Sei que devo fazê-lo, mas não sei onde me dirigir”.
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