EUA risca acordo com o Irão, petróleo ‘dispara’ para 76 USD
DIPLOMACIA. Preço do petróleo começou a subir, mal se soube da decisão do presidente norte-americano de abandonar o acordo sobre o programa nuclear. ONU e os aliados reprovam a decisão de Trump. Rivais do Irão aplaudem.
A decisão do presidente dos EUA de abandonar o acordo sobre o programa nuclear iraniano deu um ‘esticão’ aos preços do petróleo, com o barril do Brent a chegar perto dos 80 dólares na passada sexta-feira.
Donald Trump assinou a ordem de ‘saída’ do programa e indicou que os EUA vão agravar as sanções económicas contra o Irão, colocando-as ao “mais alto nível”. Ficam assim repostas todas as sanções que haviam sido levantadas na sequência do acordo alcançado em 2015 contra o regime iraniano. E fica também concretizada a ideia manifestada de Trumpo quando era apenas candidato presidencial.
Por altura da campanha eleitoral, já criticava o acordo, considerando-o “pior da história”, ao mesmo tempo que prometia mesmo rasgá-lo, se eleito.
Nos últimos meses, Trump rodeou-se de fortes críticos do acordo iraniano. Trata-se de Mike Pompeo, secretário de Estado, e John Bolton, conselheiro para a Segurança Nacional. Este último chegou mesmo a defender uma intervenção militar contra o Irão para acabar com a vontade de Teerão de ter bomba nuclear.
Trump sustenta que o acordo de 2015 falhou no objectivo de limitar o desenvolvimento de mísseis balísticos por parte do Irão, tendo apenas limitado as actividades nucleares por um curto período de tempo (até 2030). Em contrapartida, o Irão garantiu 100 mil milhões de dólares decorrentes do levantamento de sanções, dinheiro que Trump reiterou estar a ser usado por Teerão para “financiar operações terroristas e guerras por procuração”, na Síria e no Iémen.
Trump assegurou ter provas de que o programa “é uma mentira”. O presidente norte-americano aludia aos documentos apresentados, há uma semana, por Israel que alegadamente comprovam que o regime iraniano nunca deixou de prosseguir objectivos para alcançar armamento nuclear.
Donald Trump acrescentou que qualquer país que apoie o desenvolvimento do programa nuclear do Irão será também alvo de sanções por parte de Washington. “Os EUA não voltam a fazer ameaças vazias. Quando faço promessas, cumpro-as”, atirou. Considerando que se trata de um acordo “desastroso”, Trump mostrou abertura para negociar um novo compromisso que efectivamente contribua para a segurança internacional.
O presidente iraniano prometeu continuar com o acordo nuclear se os seus interesses forem garantidos e que tomará decisões mais tarde caso isso não aconteça. Hassan Rouhani apelou à cautela “para ver como os outros países reagem”, já que o anúncio de Trump, no seu entender, foi uma experiência histórica para o Irão, acusando os norte-americanos de “ nunca cumprirem com os seus compromissos”. “Não fizemos nada de errado e é inaceitável que os EUA se retirem”, declarou o presidente iraniano.
Todos contra os EUA
O secretário-geral das Nações Unidas revelou sentir “profunda preocupação” com a decisão de Trump. António Guterres pediu aos demais países o cumprimento do acordo.
A chefe da diplomacia europeia, Federica Mongherini, também se pronunciou contra Washington, salientando que o acordo dissuadiria o Irão de obter armas nucleares. “A União Europeia está determinada a agir de acordo com os seus interesses de segurança e a proteger os seus investimentos económicos”, referiu Mongherini, para quem o “acordo com o Irão é o ponto culminante de 12 anos de diplomacia”, e por isso “pertence a toda a comunidade internacional”.
A diplomata instou os líderes e cidadãos iranianos “a não deixar ninguém desmantelar o acordo”.
O presidente francês, Emmanuel Macron, lamentou a decisão de Trump. Também a Alemanha e o Reino Unido encetaram esforços na tentativa de evitar que os EUA abandonassem o acordo, uma decisão com impacto negativo para muitas empresas europeias com presença no Irão. A Rússia e a China também defendem a manutenção do acordo iraniano.
Apoios de Washington
Por sua vez, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, apoiou a decisão de Trump. Além de Israel, também a sunita Arábia Saudita é favorável à posição de Trump, uma vez que Riade pretende reduzir a capacidade de influência regional do xiita Irão.
Os EUA ficam em grande medida isolados na cena internacional, desde logo porque os restantes cinco países que assinaram o acordo pretendem que o mesmo se mantenha em vigor. Esta poderá ser, até ao momento, a decisão mais relevante de Trump em termos de política internacional, sendo ainda impossível avaliar os efeitos que a mesma poderá ter não apenas no Médio Oriente, mas também para o conjunto das relações internacionais.
Subida do preço do petróleo
A Arábia Saudita, maior exportador mundial de petróleo, anunciou que adoptará as medidas necessárias para evitar problemas de abastecimento após a decisão dos EUA. O governo saudita “trabalhará com os principais produtores de petróleo dentro e fora da OPEP e com os principais consumidores para limitar o impacto de qualquer problema de abastecimento”, afirmou o ministério saudita da Energia.
Desde a aplicação do acordo do Irão com as grandes potências, as exportações iranianas de petróleo passaram de um milhão de barris por dia para os 2,5 milhões.
A Arábia Saudita, que actualmente extrai 10 milhões de barris diários, pode elevar a sua produção até 12 milhões de barris.
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