ANGOLA GROWING
MADEIRA ANGOLANA ENFRENTA A CONCORRÊNCIA DO ESTRANGEIRO

Fabrico de móveis ?tem crescido e dá lucros

CARPINTARIA. Os marceneiros, sobretudo os que trabalham com móveis, sentem-se uns ‘artesãos’. Mas fazem da profissão um modo de vida bem lucrativo. Todos garantem que, com a madeira angolana, fazem “melhor” do que se constrói no estrangeiro e não temem a concorrência. O maior fornecedor de madeira em Luanda é o mercado do Kikolo, onde uma tábua de quatro metros pode custar 16 mil kwanzas.

Em todas as marcenarias, é comum serem os clientes a levar já o modelo da peça que querem, geralmente um móvel para casa. É no final do mês que mais recebem encomendas. Semanalmente, estas pequenas marcenarias podem atender três a quatro clientes. Os lucros não são revelados, mas quem trabalha a madeira assegura que vale a pena ser marceneiro e entende que, a cada dia, a profissão tem sido “mais valorizada”.

Foi por isso que João Lourenço, formado em contabilidade, abraçou a profissão por curiosidade. Há quase 20 anos nesta área, hoje com 52 anos de idade, garante conhecer a “melhor madeira para mobílias” e descreve-se como “bom profissional”. Na sua marcenaria, no bairro Popular, em Luanda, emprega sete pessoas, entre carpinteiros e marceneiros.

Para ele, a mobília importada “não traz concorrência”. Está aliás convencido de que quem compra móveis no estrangeiro pode ter de o fazer duas vezes num único ano, mas quem “procura a nacional pode ficar com ela mais de 30 anos, dependendo dos cuidados”.

As mobílias completas de quarto e de cozinhas e as portas são as mais requisitas. Mas João Lourenço tem notado que, com o aparecimento dos armazéns de mobílias, as encomendas de portas e mesas “foram muito reduzidas.”

É ao lado do supermercado Jumbo, na avenida Deolinda Rodrigues, que António Mwabi Nkane, de 42 anos, expõe a sua mercadoria, mas é na Mabor onde a fabrica. Há mais de 15 anos como marceneiro começou a trabalhar no mercado do Kikolo com alguns mais velhos. Actualmente, é dono de uma marcenaria e trabalha com oito homens com idades entre os 32 aos 68 anos. O grupo produz camas, gavetas, cómodas, guarda-fatos, portas, janelas, rodapés, corrimões, entre outros.

O marceneiro garante que o negócio é “lucrativo e de qualidade” e que, apesar da alteração dos preços no mercado, ainda aconselha a que se compre mobílias feitas com madeira nacional, justificando que a importada, quando apanha água, inflama e que é “só bonita por fora”, já “a nacional tem uma garantia de 60 anos, quando bem cuidada”.

Por uma cama de casal, pode-se pagar a partir de 55 mil kwanzas, tamanho ‘king’ 70 mil, guarda-fatos a 100 mil, solteiro maior a 45, criançaa 30 e beliche a 55 mil.

Outro funcionário é António José, de 42 anos, que trabalha em marcenaria há 15 anos e não tem dúvidas que “a profissão é rentável” e tem sido “muito valorizada”. Tal como o patrão, o ‘mestre’, não receia os grandes importadores e põe em causa a qualidade do material vindo de fora, mas reconhece que a importada “é mais bonita”.

António José alega que os preços das mobílias estão mais elevados por causa da crise e também por causa da exportação da madeira.

O mercado do Kikolo é o maior fornecedor de madeira nacional, em Luanda. Aqui, uma madeira de 50 cm de largura por quatro metros de altura pode custar 16 mil kwanzas. Com esta peça, o marceneiro pode fazer um par de bancas que vende a 16 mil kwanzas cada. Uma tábua de 66 cm de largura por quatro metros de cumprimento custa 14 mil kwanzas e com 45 cm custa 10 mil.

 

A GERAR EMPREGO

Na marcenaria de Mateus Afonso, de 33 anos, no Prenda, em Luanda, trabalham mais sete jovens. Há mais de 15 anos neste ramo, aprendeu a moldar a madeira com o pai, depois criou o seu próprio espaço. Uma porta de 90 cm por dois metros pode custar até 45 mil, com descontos, já a de 80/2m fica a 35 mil kwanzas. Para as mesas, cadeiras, camas e outros objectos depende muito do feitio que o cliente pede. Sendo o único nas redondezas não tem concorrência, mas garante que é “bom” no que faz.

Já Paulo Augusto, de 27 anos, tem o seu espaço na Calemba, em frente à igreja católica, onde trabalha com mais três jovens. Para chegar a ‘mestre’ fez um curso de carpintaria, em 2002. Mal terminou, começou a trabalhar no Jumbo, como ajudante prático. Na sua oficina, produzem-se portas, camas, guarda-fatos, mesas, cadeiras entre outros objectos.

Os preços variam de acordo com o modelo e tamanho. Uma mesa de seis cadeiras pode custar até 100 mil kwanzas, por exemplo. Já a porta tem um valor inicial entre os 75 a 80 mil kwanzas. Paulo Augusto aconselha os jovens a fazerem alguma formação profissional e a criarem pequenas empresas, gerando mais emprego, porque o mercado “está difícil mesmo para quem se formou”.

Uma das maiores dificuldades, enfrentada pelos marceneiros e carpinteiros, é a aquisição de materiais. A crise fez subir os preços da madeira, cola, verniz e pregos. Com a nova realidade, também eles tiveram de fazer um ajuste no preço das mobílias, o que faz com que os clientes reduzam as compras.

A madeira, normalmente usada por estes profissionais, é proveniente de Cabinda, Uíge e Zaire. As mais usadas no fabrico de mobílias são a moreira, lifaki e cabinda. Garantem os marceneiros que a moreira é que tem “maior qualidade” e é também a mais procurada.