ANGOLA GROWING
PROJECTO

Falta de ‘know-how’ obriga a renegociar gestão da Quiminha

INVESTIMENTO. Falta de capacidade técnica e ‘know-how’ sobre indústria agrícola comercial obrigou Governo a renegociar, através da Gesterra, gestão do projecto Quiminha, em Luanda, para rentabilizar investimentos realizados pelo Estado.

O mega-projecto agrícola da Quiminha foi o foco do negócio fechado entre a estatal Gesterra e o grupo israelita Tahal Internacional que permitirá a parceria de gestão público-privada prevista para os próximos sete anos. Entre as novidades trazidas, pela gestão estrangeira, figuram o ‘know-how’ e a implementação do modelo agrícola israelita, cujo distintivo é o control do funcionamento da produção por parte dos trabalhadores do projecto de forma colectiva.

O projecto agro-industrial consiste na implementação de 300 residências, sendo que a cada uma está associada uma área de um hectare para a exploração agrícola familiar. Implantada no Icolo e Bengo, a leste de Luanda, a Quiminha conta com um centro de logística para o processamento e empacotamento dos produtos, além de um aviário. Do projecto, é esperada uma produção anual de 22 milhões de ovos e 60 mil toneladas de produtos agrícolas com uma previsão de facturação anual na ordem dos 52 milhões de dólares.

Consultado a propósito pelo VALOR, o engenheiro agrónomo e especialista em agricultura familiar e mecanizada Carlos Baptista explicou que sempre criticou o projecto Quiminha e outros que têm as mesmas características “por se tratar de empreendimentos demasiado ambiciosos para as capacidades angolanas” a nível tecnológico. “São projectos megalómanos que não permitem uma gestão adequada sem assistência externa, dificultam a fiscalização, criam muito pouco emprego relativamente aos montantes investidos e facilitam as condições que conduzem à corrupção. A estes 370 milhões de dólares para a gestão agora assumida pelos israelitas e angolanos devem ser acrescidos os 208 do investimento”. Relativamente às vantagens da nova parceria, o especialista avança mesmo que o formato em que foi concebido o projecto já teria de prever gestão estrangeira. “Aliás, foi estrangeira a concepção e a implantação do empreendimento. Os angolanos limitaram-se a acompanhar, sem assumir o controlo, dada a sua complexidade. Agora não vejo outra hipótese”, acrescenta. Questionado sobre alternativas e melhores caminhos, explica que “teríamos capacidade de gestão e possibilidade de prescindir de assistência estrageira se o projecto fosse menos complexo”. Temos experiências de projectos agrícolas tipo “Dubai” que falharam ou estão em vias disso. Veja-se o que se passa com o Pólo Agro-Industrial de Capanda ou o Pólo do Cubal”. Na sua opinião, os capitais públicos deveriam ser aplicados de forma mais racional, na agricultura e em qualquer outro sector.