Falta de legislação inviabiliza pequenos negócios em Angola
EMPREENDEDORISMO. Falta de legislação adequada e políticas desajustadas à realidade nacional, excessiva burocracia no acesso ao crédito e ausência de garantias bancárias são factores que inviabilizam oportunidades de negócios em Angola.
O país acolhe, pela primeira vez, de 14 a 19 do corrente mês, a semana global do empreendedorismo, um movimento criado em 2007, visando o fortalecimento e disseminação da cultura empreendedora, para além de pretender capacitar e inspirar homens e mulheres a empreender em qualquer sector de actividade.
Sob o lema ‘O Empreendedorismo Acelera Angola’, o evento vai centrar-se em cinco eixos, nomeadamente juventude, educação, saúde, sector produtivo, tecnologia e inovação, uma abordagem, segundo a organização, que pretende criar um ambiente interactivo entre os diferentes ‘players’ do mercado.
As opiniões entre analistas, operadores económicos e as autoridades nacionais sobre os indicadores do empreendedorismo, em Angola, têm estado repartidas. Se por um lado, está em causa a excessiva burocracia no acesso ao crédito, por outro, os agentes bancários reclamam a falta de garantias, sem, no entanto, descurar o optimismo das autoridades, apesar das críticas sobre a falta de apoio directo às iniciativas de pequenos negócios.
Segundo José Carlos, membro da organização do evento, o empreendedorismo tem um papel crucial no desenvolvimento sustentável de qualquer sociedade, incentiva mudanças na forma de pensar a realidade económica por via do fomento de inovação, competitividade e melhoria da produtividade das empresas.
Aponta ainda que este é um dos objectivos da realização do evento, em Angola, tendo garantido a continuidade dos trabalhos junto das comunidades, no sentido de despertar, nos angolanos, “o espírito empreendedor.”
Relativamente à realidade do país, José Carlos avança que, neste primeiro encontro mundial que Angola acolherá, vão congregar-se diferentes sensibilidades para discutir as formas de fazer negócios no país e exportar os produtos de marca angolana.
“Neste encontro, trataremos questões ligadas à juventude, educação, saúde, sector produtivo, tecnologia e inovação. O objectivo é criar uma estrutura que sirva os interesses dos empreendedores e daqueles que já têm a sua actividade empresarial consolidada”, enfatiza.
Entende, por outro lado, que apesar de alguns entraves que muitos empreendedores enfrentam na realização das suas iniciativas, relativamente à legislação, burocracia nos créditos bancários e capitais de riscos, “o Executivo colocou no topo das suas prioridades, a necessidade de uma estruturada formação de quadros, que contribuam para o desenvolvimento sustentado do país de modo a que o empreendedor possa acompanhar regularmente as exigências de um mundo cada vez mais globalizado.
O empresário diz que o movimento acredita na causa do empreendedor, pressuposto que gera desenvolvimento económico e social e que transforma as realidades através de pequenas iniciativas empresariais e de negócios.
Apesar de ser um movimento que surge no país há quase 10 anos, justifica, a sua incidência ainda é quase nula “por existirem ainda factores ou entraves que inviabilizam iniciativas e projectos, com destaque para as políticas governamentais”.
“Temos programas já elaborados, a nível do Estado, que não contribuem para dinamizar as iniciativas empresariais. Por isso, estamos abertos para discutir as medidas a adoptar para permitir o desenvolvimento empresarial em Angola. Vamos contar com os exemplos da SADC, nomeadamente do Botswana e da África do Sul”, diz.
INCUBADORAS PODEM AJUDAR
José Carlos entende que a criação de mais incubadoras de empresas pode ser uma saída no apoio às iniciativas privadas, porque “não pode ser o Estado a oferecer serviços para o acompanhamento das micro, pequenas e médias empresas em Angola”.
“A realidade diz-nos que as políticas adoptadas para o apoio aos empreendedores ainda não respondem às necessidades do mercado. O que estamos a fazer é partilhar com as pessoas que tiveram sucesso e tentar incentivar os angolanos. A nova lei do investimento privado não protege os pequenos negócios”, afirma o empresário.
Reprova, por outro lado, a constante intervenção do Estado no desenvolvimento da actividade produtiva no país e refere que é fundamental potenciar as entidades privadas para que tenham um papel mais interventivo no mercado.
Emília Dias, sócia-gerente do ABC do Empreendedor, afirma que apesar de existirem algumas iniciativas, por parte do Estado, para o fomento da actividade como são os casos do Balcão Único do Empreendedor, o Angola Investe, entre outros, “a publicitação destas iniciativas não abrangeu o universo de pessoas desejadas”.
“Se a intenção do Executivo é proporcionar oportunidades sustentáveis que visam combater a pobreza e as desigualdades sociais que inviabilizam o desenvolvimento das comunidades, então está aí a oportunidade de discutirmos como desenvolver a actividade empresarial nos mais variados sectores de actividade”, explica.
Actualmente, o perfil do empreendedor guia-se pela oportunidade e necessidade de desenvolver alguma actividade e a grande motivação é o aumento dos rendimentos e a continuação dos negócios.
Dados do Instituto Nacional de Estatísticas (INE) apontam que 23% das famílias, em Luanda, têm actividade rentável e que existem mais mulheres que homens empreendedores.
JLo do lado errado da história