“Faltam críticos de arte em Angola”
ARTES PLÁSTICAS. Há oito anos que organiza exposições, lá fora e em Angola. Mas sente que há um desconhecimento da profissão, daí que haja poucos angolanos ?a optar por trabalhar em galerias. E lamenta a falta de apoios, do Estado e de empresas.
Como entrou para a curadoria?
Há oito anos em Douala, Camarões. Comecei por comprar arte e apoiar a Associação de Jovens Artistas dos Camarões, que incluía artistas visuais, escritores, fotógrafos e escultores. A partir daí, comecei a organizar pequenas exposições para promover artistas e a arte contemporânea que aí se produzia. De partida para Paris, onde vivi cerca de quatro anos, tive várias formações na área da História da Arte Contemporânea e de produção de exposições de arte.
Que dificuldades encontrou nos primeiros anos em Angola?
Um cenário artístico pouco desenvolvido e, por isso, pouco estruturado e disperso, com poucos espaços de exposição e com fraca programação assídua e consistente.
A profissão já é valorizada em Angola?
Ainda existe um desconhecimento acerca desta profissão. Existem curadores mais preocupados com a pesquisa e outros com uma vertente mais prática e de produção. De qualquer das formas, é uma profissão que tende a desenvolver-se e a adaptar-se às necessidades de cada contexto cultural.
O que está a faltar?
Visão para a importância desta profissão, pessoas com capacidade para trabalhar no âmbito educativo e não só comercial; condições para pesquisa (apoios financeiros e logística), acesso a arquivos e registos, há urgência em trabalhar a questão do arquivo em Angola.
O que está em causa é a produção artística?
Existe imensa produção artística e artistas não faltam. O importante seria apostar na formação e no pensamento critico.
Já há críticos de arte em Angola?
Infelizmente, é uma área que faz imensa falta em Angola e existem muito poucos com essa capacidade. A noção de crítica de arte diz respeito a análises e juízos de valor emitidos sobre as obras de arte que, no limite, reconhecem e definem os produtos artísticos como tais. Envolve interpretação, julgamento, avaliação e gosto.
Faz curadoria em exposição colectiva e individual. Qual deles exerce mais pressão e atenção sobre o curador?
Depende muito do projecto e é independente do facto de ser uma exposição individual ou colectiva. Existem exposições que podem demorar anos a serem concretizadas ou existirem já as condições para as produzir. Existem muitas variáveis como o campo de pesquisa e a dimensão que se queira dar; a produção envolvida e as condições e recursos existentes no momento.
É fácil dirigir exposições num país em que a cultura artística é tímida?
Diria que os grandes desafios incluem encontrar profissionais de várias áreas, produção, sobretudo apoios financeiros e institucionais; e público suficiente para visitar. Acredito também que seja uma área em franco crescimento e é importante que se façam esforços no sentido de não nos desmotivarmos.
Qual é o papel do curador?
O curador é o individuo que ‘pensa’ a exposição como conceito, faz a pesquisa, escolhe os artistas e as peças de arte que vão compor a exposição, trabalha muitas vezes com as questões de produção, gere um orçamento e pensa nas questões práticas como a comunicação, o design de imagem e os suportes de comunicação. Além destas questões, pode preocupar-se com eventos paralelos, como programa de visitas guiadas, conversas com os artistas, mesas-redondas para a discussão do tema proposto, entre outros.
O curador é visto como o principal influenciador para que a obra seja comprada. O curador deve influenciar o artista na concessão da obra?
Não, de todo. Pode haver um trabalho conjunto, mais intelectual entre o artista e o curador, mas este não deve intervir no processo criativo do artista e na obra em si.
PERFIL
Sónia Ribeiro, luso-moçambicana, casada com um angolano há cinco anos, é galerista, consultora, activista cultural, curadora, produtora e coleccionadora. É licenciada em Gestão de Recursos Humanos e Psicologia do trabalho, em História da Arte pelo Institut des Etudes Superieurs d’Art (Paris), e em Curadoria pela Sothebys de Nova Iorque. Já realizou perto de 20 curadorias entre individuais e colectivas.
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