SANDRA CORDEIRO, CANTORA E COMPOSITORA

“Faltam escolas de música”

MÚSICA. Sandra Cordeiro é das vozes angolanas mais conhecidas do ‘worldmusic’, Até já foi considerada uma das melhores vozes de África, num festival de jazz. Tem dois álbuns e prepara terceiro. Acredita que falta de bons instrumentistas está na ausência de escolas e conservatórios de música.

O que tem feito?

Estou em estúdio a preparar algumas músicas promocionais e um ‘vídeoclip’. Com a crise, o trabalho físico é muito difícil. Vou deixar para o próximo ano o lançamento do álbum. Fiquei praticamente um ano parada, por causa do casamento e da maternidade.

Gosta de compor, também dá composições para outros interpretarem?

O Gabriel Tchiema já pediu para cantar uma composição minha, porque gosta como componho. Mas ainda não aconteceu. Será uma honra ouvi-lo cantar. Componho, sobretudo quando na presença de artistas que dão ideia de harmonia. Gostava de compor mais. Uns dos instrumentos que toco é o piano. As coisas fluem com naturalidade.

O que prefere interpretar?

Depende do local. Canto de tudo, desde o clássico, o semba e a kizomba. Em locais fechados, adopto estilos mais clássicos da música angolana como o ‘Mbiri-mbiri’, ‘Muxima’, entre outros. Nos locais mais agitados, procuro estilos mexidos ou versões de músicas calmas em mexidas.

Pretende ficar só pelo clássico?

Não quero ficar só no ‘worldmusic’, quero também estar com públicos diferentes, com novas sonoridades e ritmos e claro que sempre terei as composições mais clássicas. É como tudo, depende do estado de espírito.

Não aparece em grandes shows, porquê?

Não sei explicar. Não depende de mim. Tem que ver com os promotores e de quem faz os convites. Se calhar, também é o estilo que faço. As pessoas não vão ficar aí de pé para ouvir este estilo, gostam de dançar e animar o espírito.

O que tem de ser feito?

Precisa-se de um trabalho conjunto com o Ministério da Cultura. Os órgãos de informação têm de passar mais as músicas, promover festivais com esse estilo.

Em Angola, há bons representantes do afro-jazz?

Já há muita gente a fazer boa música. Mas os que conheço não têm oportunidade nem a dimensão de popularidade que têm os outros. Para esse estilo não há muitos patrocínios.

Já foi eleita uma das melhores vozes africanas. Que portas se abriram?

Foi bom saber que sou ouvida fora de Angola e fazer parte das melhores vozes de África pela Prix Decouverte RFI da Rádio Francesa, que destaca as 10 melhores vozes de África. A partir daí, fui convidada ao 4.º melhor festival de jazz do mundo, que se realizou, na Cidade do Cabo, na África do Sul.

Há vozes angolanas que mereçam o mesmo destaque?

Há: Jack Nkanga, Totó, Toty Samed, Selda, Gari Sinedima e muitos outros.

Não há bons instrumentistas?

Há instrumentistas bons, mas são poucos os que são respeitados. Muitas vezes queremos fazer concertos ao vivo, mas estão sempre ocupados, e isso tem dificultado imenso o trabalho. Isso porque não há escolas e conservatórios de música. Muitas vezes, temos pessoas com vontade de se tornarem profissionais e surge a questão: onde se vai fazer a formação? Não há onde nem como começar. Existe ainda um monopólio de instrumentistas. Precisam-se de mais.

Será esse o motivo da troca de estilos de muitas artistas?

Também! Muitos trocam porque é o ‘ganha-pão’. Mas depende muito dos objectivos de cada um. Há músicos cujo objectivo é cantar em salas de bar e continuar em sítios mais restritos.

É o seu caso?

Não! A arte depende do estado de espírito. Tenho dois álbuns clássicos, mas quero mudar um pouco, com novas sonoridades.

Dá para viver só da música?

Vivo com dignidade só da música. É possível viver, mas depende do que se pretende alcançar. Se for para comprar ou ter uma vida de luxo, não dá. Mas se for para uma vida digna dá.

Como está a música clássica em Angola?

Está boa, porque temos bons artistas que fazem bar e muito bem, como a Lípsia, Toty Samed entre outros.

É um estilo a seguir?

Com certeza.Lembro-me que comecei com Afrikkanita e a Selda confessou que se inspirava em nós e sinto-me uma impulsionadora dos que surgiram.

Aceita qualquer convite?

Já não, depende muito do palco, porque há locais em que já não dá para ir, por causa do prestígio.

É muito caro ter a Sandra num evento?

Depende da especificidade do evento. Um casamento com três músicas não fica menos de 400 mil kwanzas.

Cantaria em ‘playback’ num concerto?

Não, prefiro cantar apenas com um guitarrista, não é admissível fazer um concerto em ‘playback’.

 

PERFIL

Nome: Sandra da Silva ?Cordeiro Silva

Nascimento: 23 de Abril de 1983

Estado civil: Casada

Naturalidade: Luanda

Referencias musicais: Filipe Mukenga, Totó, Paulo Flores, CelineDion, Bobby Macferrim e muitos mais

Álbuns: ‘Tata Nzambi ?e Luandense’