Frango de rua resiste à crise
‘FAST FOOD’. Devido ao corre-corre do dia-a-dia, o ‘franguité’ passou a ser a opção para o almoço ou jantar de muitos. O negócio vive momentos complicados devido à subida dos preços. A venda de frangos nas ruas ainda dá lucros, mas longe dos números do KFC.
Começou com o ‘cabrité’, e logo, ‘evoluiu’ para o ‘franguité’. É assim que são conhecidos popularmente os frangos grelhados feitos nas ruas de Luanda com recurso à carne de frango, mais acessível do que a de cabrito. Em alguns lugares, acompanhados com batatas fritas e maionese e noutros com salada, têm servido de almoço ou jantar de muitos. O volume de vendas varia de acordo com os dias de semana. Nos finais de semana, são mais rentáveis.
Viveu bons tempos e já esteve na moda, mas face à crise e à subida dos preços, tem vivido grandes dificuldades que resultaram na queda “drástica” dos lucros. Se antes com 50 mil kwanzas, o costa-marfinense Doctor Lamín conseguia comprar todos os ingredientes necessários para o negócio (cinco caixas de frango, batata-rena, cebola, óleo vegetal, sacos de plástico e maionese), no final do dia, conseguia um lucro também de 50 mil kwanzas. Com a subida dos preços, tornou-se impossível obter estes lucros. Agora precisa, no mínimo, de 80 mil kwanzas e os lucros só chegam aos 10 mil kwanzas.
Quem também vive em tempos de sufoco são as ‘tias’ dos famosos ‘franguité’ do Kikagil, no Morro Bento, em Luanda. Os preços do ‘take-away’ com batata-frita e salada passaram de mil a 1500 kwanzas. Sem salada, custam entre 800 e mil. A alteração dos preços é justificada com as compras que se fazem nos armazéns e supermercados. “Há clientes que não aceitam os preços”, lamenta Emília Inácio, uma das vendedoras do local, que conta que, por semana, ela e as amigas, chegam a gastar quase um milhão de kwanzas para as compras. Apesar de terem lucros de 200 mil kwanzas, assegura não satisfazer pelos gastos que faz com a renda do local, pagar os sete ajudantes, sustentar a família a ainda tirar uma parte para a kixiquila. “O rendimento é pouco e o gasto é muito.”
Todas começam a vender a partir das seis horas e só terminam depois das 23 horas. Por causa da hora, muitas vezes, passam a noite no quintal onde têm montado o pequeno restaurante. Cada pessoa usa o restaurante durante uma semana, num sistema rotativo. Por semana, pagam de renda 60 mil kwanzas.
Aos finais de semana, as vendas são animadoras porque se regista mais afluência de clientes. Em dois dias, chegam a facturar mais de 60 mil kwanzas. Emília Inácio recorda com saudades os tempos que só necessitava de 300 mil kwanzas para as compras.
Tal como Emília Inácio, o costa-marfinense Doctor Lamín, na sua pequena bancada no bairro Calemba, em Luanda, queixa-se das constantes alterações dos preços. Diferente das ‘tias’ do Kikagil, Doctor Lamín usa uma assadora e um fogão eléctrico, o que diminuí os custos. Há quatro anos no negócio, aprendeu a ‘profissão’ com o irmão. Em tempos de crise, fala em “coragem” para continuar com o negócio, na esperança de ser apenas uma “fase passageira” e que em breve as coisas vão voltar ao normal.
Quando comprava a caixa de frango a três mil kwanzas, chegava a vender mais de três caixas por dia. Agora nem a duas caixas chega. Antes, o ‘take-away’ de frango com cebolas, batata frita rondava os 600 kwanzas. O preço teve de ser duplicado, passando a custar agora 1200 kwanzas, com frango, batata frita e maionese. Confessa que apesar dos poucos lucros, ainda dá para se virar.
Nos últimos tempos, os preços dos bens de consumo registaram subidas consideráveis, a queixa mais consistente entre os comerciantes, que referem como igualmente problemática a oscilação vertiginosa dos preços. Antes com oito mil kwanzas, no mercado do 30 ou Catinton era possível adquirir um saco de batata. Mas agora, é necessário muito mais. Os preços são inconstantes. Há vezes que chegam a custar mais de 30 mil kwanzas. O saco de carvão passou de dois mil para seis mil kwanzas. A caixa de frango disparou de quatro mil a 12 mil Kwanzas.
SEM PROTECÇÃO
Apesar de se tratar de alimentação, em alguns lugares não são observadas as regras de higiene no que toca à preparação, manuseio e conservação dos alimentos. Alguns vendedores não usam luvas e nem toucas na cabeça. Os frangos são apenas retirados e colocados a grelhar, algumas vezes sem ser lavados ou temperados. Noutros lugares são grelhados ao ar livre sem protecção de poeira e de moscas. As hortaliças e legumes não são bem lavadas e as batatas fritas em óleos reutilizados.
KFC: o frango mais popular do mundo
Se nas ruas há o ‘franguité’, no outro extremo, há os restaurantes KFC, especializados em frangos fritos. Em Angola, o KFC, existe há quatro anos e já emprega cerca de 400 pessoas. A KFC Corporation é a cadeia de restaurantes de frangos mais popular do mundo, tendo mais de 20 mil restaurantes distribuídos por 120 países de todos os continentes. A marca serve mais de 12 milhões de clientes por dia. São oito os restaurantes da marca em Angola. Segundo o ‘Mercado’, o grupo Ibersol, responsável pela implementação dos restaurantes no país, investiu cerca de 20 milhões de dólares na rede de estabelecimentos. Há oito em Angola: sete na capital e um em Benguela.
Tudo começou quando, nos EUA, o coronel Harland Sanders descobriu a sua verdadeira vocação aos 40 anos de idade. Os frangos começaram primeiro a ser comercializados em postos de gasolina e logo se expandiram pelo mundo, tornando-se num negócio milionário. Um dos segredos do KFC é a sua receita secreta à base de 11 ervas e especiarias. A receita original manuscrita está alegadamente trancada numa cave em Louisville, nos EUA, com cópias parciais de segurança noutros locais. A companhia afirma que os fornecedores dos temperos só entregam produtos da parte da receita, ignorando a identidade uns dos outros. Garante que nem sequer o presidente da empresa conhece a lista de ingredientes, sendo as poucas pessoas que a conhecem obrigadas a um acordo estrito de confidencialidade. O mito do ingrediente secreto é um dos triunfos da marca.
MAIS CARO
Os restaurantes KFC começam o seu atendimento a partir das 8 horas. Mas têm os serviços Drive-Thru, com atendimento 24 horas por dia. Os menus são compostos por frango a partir de 990 kwanzas e o mais caro chega aos 5.390 kwanzas.
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