Fraudes preocupam operadores
SEGUROS. Empresas temem que fraudes atinjam os números registados na Europa. Perante registos considerados “preocupantes”, companhias criam medidas para o combate ao fenómeno e apertam na fiscalização.
Os sinais de fraude no seguro automóvel em Angola já são “bastante preocupantes” e as seguradoras começam a criar condições para investir à semelhança do que fizeram, anos atrás, para combater o mesmo fenómeno com a saúde.
“A luta hoje passa por refinarmos o nosso sistema de combate à fraude no seguro de responsabilidade civil automóvel. Só neste ano, frustrámos três ou quatro tentativas de fraude”, conta Pedro Galha, director comercial da Protteja, acrescentando que uma das apostas foi criar “uma linha própria de oficinas”.
Ainda assim, muitos acorrem a oficinas alheias para adulterar custos. Na Protteja, os peritos verificam os danos para conferir se a factura corresponde à realidade. “Recentemente, tivemos alguém que sofreu um risco na porta e queria a reparação do painel de todo o lateral direito. O orçamento real era de 25 mil kwanzas, mas apresentou-nos um orçamento de 250 mil, são disparidades excessivas porque as pessoas querem aproveitar-se, mas o nosso perito detectou a fraude”, revela Pedro Galha.
A Master Seguros registou três tentativas de fraude no segmento automóvel, em 2017. A directora comercial da seguradora, Narweba Lopes, afirma que “a assimetria de informação entre clientes e seguradoras jamais deixará de existir”, porque os clientes, “sempre terão motivações para omitir informações sobre o perfil de risco na contratação ou sobre as circunstâncias de ocorrência de sinistro, para o seu favorecimento”. No seguro automóvel, a lei prevê excepções de aceitação do sinistro e uma delas é a recusa do uso do cinto de segurança. “Se perguntar a um taxista que reporta um sinistro, quantos dos seus passageiros usavam o cinto de segurança até ao sinistro sem dúvida que dirá todos. Aqui, a componente ética da nossa relação contratual desaparece por adulterações da realidade material dos factos.”
Na tentativa de inverter o quadro, a Master está a investir em processo de ‘due dilligence’ na operação com cada cliente, bem como em tecnologia para assegurar a monitorização “apropriada” do segurado.
No mesmo diapasão, Cátia Ramos, directora comercial da Confiança Seguros, embora sem avançar números, teme que Angola registe os “níveis de fraude iguais aos da Europa, onde clientes do seguro de vida simulam até a própria morte”. “Falo com alguns colegas e percebo que os números de tentativa de fraude têm vindo a aumentar, sobretudo no automóvel. Isso é um sinal de que os segurados estão a ter ciência sobre os seguros, porque é preciso perceber as coisas para poder engendrar a burla.”
Para se defender dos ataques, a Confiança Seguros, que também possui uma rede de oficinas, criou um gabinete de sinistros “muito atento” aos detalhes e que “faz todo o tipo” de averiguações quando é comunicado um sinistro. “Como qualquer seguradora que se preze, não pretendemos pagar sinistros fraudulentos”, sublinha Cátia Ramos.
João Sena, da Associação de Seguros de Angola e director de sinistros da Fidelidade, por sua vez, partilha das preocupações dos colegas e receia que os níveis possam atingir “rapidamente” os 10% do total de custos com os sinistros, como ocorre na Europa. Como explica, a fraude tem um “severo impacto” no mercado, dado que o sector se baseia em “princípios de boa-fé”, tendentes a segurar perdas dos segurados, “mais ou menos significativas”.
“A prática fraudulenta ataca directamente o sistema, desequilibrando-o, uma vez que as tentativas e fraudes efectivas consomem recursos que seriam para satisfazer indemnizações decorrentes de sinistros verdadeiros a segurados e terceiros que estão de boa-fé e que pagaram os seus prémios para estarem protegidos”, observa Sena, acrescentando que a fraude pode ser usada para alimentar crimes, “estendendo assim a sua influência negativa” a toda a sociedade.
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