"Fui ingénuo, acreditei na possibilidade da abertura da comunicação social pública, colocada ao serviço do Estado, dos cidadãos e da verdade"
Quase meio ano após a publicação da sua obra “Eu, o Meu Percurso, o Meu Partido”, José Guerreiro volta a ‘abrir o livro’ para explicar, ao detalhe, o que o levou a escrever. Mas também para esclarecer eventuais equívocos sobre as circunstâncias que determinaram a sua exoneração da TPA. Confessa ter sido tomado por alguma ingenuidade pela alegada abertura da comunicação social pública, dá conselhos úteis sobre as reformas de que o seu partido, o MPLA, e o país necessitam, incluindo a abertura democrática que pressupõe a alternância política. Nesta entrevista feita por email, ‘Zé’ Guerreiro não deixa e desafiar o Presidente João Lourenço, a quem enviou uma cópia autografada, a ler o seu livro.
São passados pouco mais de seis meses desde que apresentou a obra “Eu, o Meu Percurso, o Meu Partido”. É um livro simultaneamente histórico, de reflexão e de crítica, dirigida até ao poder actual em Angola, poder este que o senhor até já serviu também como presidente do conselho de administração (PCA) da TPA. O lado crítico pode ser entendido como um desabafo? São críticas que encobrem algum ressentimento?
Desabafo? Não. Ressentimento? Não. Talvez desilusão, que está associada a um histórico do meu envolvimento no passado, aliada a expectativas não satisfeitas e, sobretudo, à necessidade genuína de deixar claras e escritas as minhas opiniões. Como diz, servi com orgulho, de que não me arrependo, desde Abril de 1974, o partido que tem estado no poder, através de várias tarefas, missões e funções. Nunca me poderão apelidar de traidor, arruaceiro, dissidente, opositor, frustrado, oportunista ou vira casaca. Como, infelizmente, é habitual em certos círculos, rotular as pessoas que, mesmo no mesmo partido, têm opinião divergente da cartilha oficial. Têm é que ver-me como pessoa com opinião, desde sempre, como crítico, mas construtivo e dando sempre opiniões e sugestões, quando achava necessário e como cidadão que pretende contribuir para a melhoria da situação do país, em cada fase da história que vivi. À semelhança do que fazem muitos outros cidadãos. Escrevi por necessidade interior e por respeito a amigos e conhecidos que sempre acharam que as memórias e as vivências devem ser passadas a escrito. Podem todos estar descansados. Não pretendo cargos, carros, casas, envelopes, reconhecimentos públicos pós-morte e outras mordomias ou hipocrisias. Só quero ficar bem com a minha consciência – escrevi o que vivi, contei a minha versão de factos, dei as minhas opiniões, deixei as minhas reflexões sobre o que penso, sobre o passado e o futuro. Só isso. Podendo estar errado nalgumas análises e até ser incompreendido.
Por que razão decidiu apresentar então essas reflexões e críticas nesta fase? Afinal, como confessa no livro, é um projecto que começou propriamente em 1980 e que descontinuou então. Por que agora? O timing hoje tem algum simbolismo particular?
Não é bem como refere. Eu sempre fui pessoa com opinião própria e habituado a reflectir, a polemizar positivamente e a dar a conhecer as minhas ideias. Não se pense que deixei tudo, agora, para “despejar” neste livro e usei um timing especial. Atravessei no passado as discussões académicas intensas sobre o marxismo, o leninismo, o maoismo, o trotskismo, o poder popular, o pan-afrcanismo, o revisionismo. sei lá! Por isso rio-me quando alguns, felizmente poucos, distraídos, arrivistas ou novatos, opinaram de que só escrevi este último livro porque fui exonerado de PCA da TPA. Se tivessem lido o meu primeiro livro, publicado em 2009, sobre a história da publicidade em Angola, perceberiam que, naquela altura, reagi a uma tentativa de uns novatos reescreverem fraudulentamente a hstória do surgimento da imprensa privada no nosso país e das origens da publicidade em Angola.
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JLo do lado errado da história