DESDE A QUEDA DE PAIXÃO JÚNIOR

Governo mexe na gestão do BPC pela terceira vez em menos de um ano

BANCA. Alcides Safeca é o terceiro homem, desde o afastamento de Paixão Júnior, a mandar no BPC. Movimentações acontecem ao mesmo tempo em que o banco estatal ‘luta’ para se reerguer da crise dos malparados e da gestão interna. Economistas questionam impacto das alterações no ‘board’ na aplicação das reformas em curso.

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Os accionistas do Banco de Poupança e Crédito (BPC) voltaram a mexer no conselho de administração, com a saída de Ricardo d’Abreu, colocando à frente do banco o antigo secretário do Estado do Tesouro, Alcides Safeca, que iniciou funções na manhã da última sexta-feira, com o empossamento.

Safeca assume a presidência do conselho de administração do maior banco estatal em substituição a Ricardo d’Abreu, que ficou no BPC por nove meses, precisamente a 24 de Março deste ano.

São accionistas do BPC o Estado, com 75%, o Instituto Nacional de Segurança Social, com 15%, e a Caixa de Segurança Social das Forças Armadas Angolanas, que responde pelos restantes 10% do capital social do banco que detém a maior carteira de crédito do sistema bancário.

O novo homem-forte do maior banco angolano em activos (1,6 biliões de kwanzas) deve conduzir a gestão ao lado de 11 administradores, entre executivos e não-executivos, dois dos quais ‘estreantes’, nomeadamente o economista Fernando Heitor e Carlos Antão Fernandes Borges.

Safeca foi, até antes da nomeação ao posto de PCA, um dos quatro administradores da gestão de Ricardo d’Abreu, que integrava também os não-executivos Nayole dos Santos, Djamila Prata e Júlia Correia.

Com esta indicação, Safeca integra assim a lista de três gestores que presidiram ao conselho de administração num espaço de menos de um ano, a contar com o afastamento de Paixão Júnior, em Outubro do ano passado.

Passaram pelo BPC as ‘equipas’ de Cristina Florência Dias Van-Dúnem (presidente do conselho de administração não-executiva) e Zinho Baptista, no posto de presidente da comissão executiva. Seis meses depois, por decisão dos accionistas, é indicado Ricardo d’Abreu no cargo de PCA e PCE, ao mesmo tempo, este que ficou no cargo até finais de Outubro, dando lugar à nova equipa de Alcides Safeca (ver ilustração).

As movimentações no ‘board’ do BPC já mereceram reacções diversas. Ao VALOR, o economista Precioso Domingos disse estar na “dúvida” em relação às reformas em curso no banco, já que, desde Paixão Júnior, é o terceiro presidente à frente da instituição.

“Não esperava a saída de Ricardo d’Abreu do BPC, pois ele esteve ali bastante optimista em relação às reformas. E o BPC já recebeu uma injecção através desse novo mecanismo, que é a Recredit”, disse o economista, para quem as alterações no comando da entidade podem custar a aplicação das reformas.

Nos planos de reformas, insiste Precioso Domingos, “os compromissos são assumidos pelo banco, mas nisso também conta muito o que dizem os PCA. Ou do seu engajamento pessoal. Com estas mudanças, eu agora já não sei às quantas ficamos em termos de reforma. Não creio que, com essa nomeação [de Alcides Safeca], a gestão venha a ser diferente. O banco vai continuar a ter esses problemas”, conclui o economista associado ao Centro de Estudos e de Investigação Científica da Universidade Católica de Angola (CEIC).

Safeca ‘herda’ reformas

Actualmente, está em curso, no BPC, um conjunto de reformas de gestão e controlo interno. Aliás, é neste segmento da administração do banco onde os auditores ‘apanharam’, em 2015, 96 insuficiências, ainda na gestão de Paixão Júnior.

As reformas acontecem ao mesmo tempo em que os sócios decidiram aumentar capital social do banco. Do montante anterior, foi injectada uma soma calculada em 90 mil milhões de kwanzas, montante que será realizado por todos os accionistas na proporção da sua participação.

Na Assembleia, em que foram destituídos os membros do anterior conselho de administração e da comissão executiva, de Cristina Van-Dúnem e Zinho Baptista, respectivamente, os accionistas aprovaram o Plano de Recapitalização e Reestruturação do BPC e incumbiram os órgãos sociais a procederem à sua materialização dentro dos prazos nele definidos. Planos que saltam, assim, para o comando de Alcides Safeca, antigo não-executivo de Ricardo d’Abreu.