“Há estilos que não vendem sobretudo para espectáculos”
MÚSICA.Guelmo Cruz, produtor e realizador do programa ‘Talentos à Quinta’, na rádio Escola, quer recuperar o projecto ‘Concerto das Gerações’ e criou a Guelvamos em 2002. Foi director de produção de eventos da LS Republicano, durante oito anos.
Porque criou a Guelvamos Produções (GP)?
Desde criança que já gostava de cantar e participava em festivais musicais, mas nunca pensei em levar muito a serio. Começo com essa aventura, em 2002, depois de realizar a festa de finalistas do IMEL. No mesmo ano, vou ao Lubango estudar e crio o concurso ‘Vozes de Ouro’ de novos valores e imitação musical. Em Novembro, surge a ‘Guelvamos Produções’. Na altura, não realizámos um concurso, porque o Ministério da Cultura avisou que não podia realizar um concurso sem que houvesse uma entidade.
E como entra na LS Republicano?
Entro em 2005, depois de ter realizado várias edições do ‘Vozes de Ouro’ e inclusive o primeiro grande espectáculo de Anselmo Ralph no Lubango. Na altura, fiz uma entrevista ao Republicano, na Rádio Huila. Pouco depois, criámos a parceria entre a Nino Republicano e a GP. E nós éramos representantes do Nino Republicano na região. Em 2006 ou 2007, o Nino evolui para LS Republicano e convida-me a participar como director de produção.
Que comparação faz com que se fazia há dez anos?
Naquela altura tinha menos condições técnicas, operacionais e financeiras para realizar um espectáculo. Era quase tudo à base de improviso. Hoje, as coisas são mais facilitadas, porque temos mais opções de serviços, em Luanda. No interior, as condições continuam a ser péssimas. Não há palcos, salas de espectáculos em condições. Há poucos produtores e realizadores.
Quanto fica um espectáculo fora de Luanda?
Se falarmos em levar um Yuri da Cunha, o ‘cachet’ pode ficar acima dos três milhões de kwanzas. A montagem de todo o material não fica a menos de nove milhões de kwanzas. Estou a falar de um som dos mais baratos, que já fica em um milhão e meio e transporte acima dos 600 mil kwanzas. Não compensa fazer espectáculos fora de Luanda, porque não há retorno, talvez com patrocínio! A venda de bilhetes não chega para cobrir despesas. Fazer espectáculos em Angola é muito caro. Nós os produtores não temos apoio como devíamos ter. Fala-se da Lei do Mecenato, mas, na prática, não se vê nada. Os empresários recusam-se em apoiar actividades culturais dentro e fora de Luanda. Fazemos a cultura por gosto.
Há artistas que realizam concertos de duas ou mais horas, mas que levam mais de cinco convidados. Será esta uma estratégia ou é falta de confiança?
A questão não é muito falta de confiança. Não estamos muito habituados a ver um concerto do artista ‘fulano’ ou ‘sicrano’. Também há uma interajuda de artistas, facilitação e promoção de outros artistas. Muitos artistas não têm muita popularidade e crença, e, sozinhos, não conseguem encher o Cine Atlântico, por isso, chamam outros para garantir o sucesso. Mas porque também nós, os produtores, habituámos o público. Um ou outro produtor é que faz espectáculo da Yola Semedo, Paulo Flores, Puto Português e Yuri da Cunha, mas também são espectáculos direccionados para um público-alvo mais selecto. Para mais de quatro mil pessoas, é bom trazer mais convidados, porque um artista só não garante a enchente.
Isso serve para todos?
Costumo classificar os artistas por classes A, B e C. Um Paulo Flores ou um Matias Damásio raramente anunciam os convidados, mas, mesmo assim, há uma enchente.
Os artistas de gospel e afro-jazz reclamam que são excluídos…
Cada produtor é um produtor. E não têm a obrigação de chamar todos os artistas. A produção é um negócio e tenho de chamar os artistas que me garantam retorno. Agora, quando estamos a falar de espectáculos subvencionados ou datas comemorativas em que alguém paga, aí posso levar todos e mais alguma coisa. Mas, em Angola, raramente temos esses espectáculos. Há estilos que não vendem sobretudo para espectáculos.
Quantos artistas agencia?
A Sandra Cordeiro, que está em estúdio, a Telma Lee e ainda a banda Mozangola que está disponível a trabalhar com todos od artistas.
A produção musical é um bom ramo para se investir?
É! Porque o país precisa disso. O entretenimento é um ramo ainda muito fértil e bom negócio. Só que, infelizmente, os empresários não olham para a cultura como negócio. Temos 18 províncias e os espectáculos não chegam a todas. Nos grandes centros comerciais, deviam criar salas multiusos para cultura, além dos teatros que já existem.
Projectos?
‘Talentos à Quinta’, que leva artistas consagrados e novos talentos, um programa rádio-cultural, na rádio Escola, que passa das 21 horas à meia-noite. E ainda dar continuidade ao ‘Concerto das Gerações’, que parou por falta de apoios.
PERFIL
Nome: Guelmo da Cruz ?Pio Baptista
Aniversário: 21 de Novembro de 1986
Naturalidade: Kuíto, Bié
Estado civil: Casado
Filhos: Três
Ocupação(s): Jornalista, ?produtor de espectáculos
Artista que gostava de gerir a carreira: Yola Semedo, ?por ser muito disciplinada ?e vive cultura, sem desprimor para outros artistas.
“A Sonangol competia só com as empresas estrangeiras. Agora está a competir...