“Há pouco investimento, porque pensam que é uma arte pobre”
ENTREVISTA. Com mais de 25 anos de carreira, Manuel Teixeira entende que o teatro angolano cresce em “quantidade” e “qualidade”, mas lamenta o “pouco” investimento dos empresários. O actor, conhecido por ‘Avô Ngola’ devido à personagem que interpretou na década de 1990 e integrante do grupo Julu, lamenta não haver salas específicas de exibição das artes cénicas.
Como vê o teatro em Angola?
O teatro em Angola está a crescer quer em qualidade, quer em quantidade. Hoje, em quase todas as províncias, já se vê grupos a representar peças aceitáveis tanto do ponto de vista artístico, como temático.
Há pouco investimento?
Claro! Há pouco investimento porque muitos pensam que é uma arte pobre, que não dá lucros.
Quem devia investir?
Os empresários. Sobretudo os angolanos que não se vêem estimulados a investir porque ainda não sentem os benefícios, como a isenção de impostos, a projecção da empresa através da publicidade, etc.
O que tem feito para que a arte de representar seja mais valorizada?
As personagens que desempenho, principalmente as que passam na televisão, têm um carácter muito educativo, sobretudo o ‘Avô Ngola’, que as pessoas reconhecem ser um meio para despertar as consciências no resgate dos valores morais e cívicos e de outros males que enfermam o nosso país. Logo a partir destas representações, as pessoas reconhecem o valor das artes cénicas e percebem que, sorrindo, se aprende melhor.
O que mais o preocupa enquanto actor?
A falta de uma sala convencional para a exibição dos grupos, a falta de um local para o grupo Julu transmitir aos jovens, e não só, a sua experiência em teatro comunitário para o desenvolvimento.
Muitas vezes já interpretou personagens de alcoólatra. Na vida real, o público associa-o a esse tipo de personagem?
Eu interpretei o personagem ‘Zeca Bord’Água’ na série ‘Sede de Viver’ que era um alcoólatra e logo as pessoas associaram-me a um grande beberrão, mas a medida que me foram conhecendo pessoalmente foram mudando de opinião, porque a minha aparência mostra o contrário. Dai as pessoas dizerem “A televisão engana!”. Mas, para mim, tem sido motivo de satisfação porque isso significa que me tenho ‘vestido’ bem das personagens.
E quando isso acontece como ultrapassa?
Procuro aperfeiçoar-me cada dia para melhorar as minhas ‘performances’ e, desta forma, continuar a merecer o respeito e a admiração das pessoas.
Qual tem sido o seu maior desafio?
Continuar a lutar para ter um local onde o Julu possa dar aulas de teatro comunitário, porque muitos pais e encarregados de educação solicitam para enquadrar os seus filhos no teatro.
Onde se sente mais prestigiado e confortável: no palco ou diante das câmaras?
Sinto-me melhor no palco. Porque a reacção do público vê-se na hora e ajuda-nos a testar a nossa capacidade de improvisos.
Segue algum ritual antes de entrar em palco ou a inspiração é repentina?
Na oração onde buscamos a nossa inspiração. Antes de actuarmos, o Julu faz uma reza.
Vive exclusivamente do teatro?
Tenho a representação como primeira opção, mas vou fazendo outras actividades para obter outros rendimentos para a família.
O grupo Julu recebe apoio de empresas?
O Julu, em função dos trabalhos que faz, recebe uma compensação.
Está a preparar alguém para dar continuidade ao seu legado?
Directamente, não estou a preparar alguém específico, mas indirectamente vamos transmitindo os nossos conhecimentos aos mais novos e sei que também sou motivo de inspiração de muitos jovens, por isso penso que vão aparecer muitos actores com a qualidade de Manuel Teixeira.
O que representa a personagem do ‘Avô Ngola?
O ‘Avô Ngola’ representa sabedoria, transmissão de mensagens educativas e de alerta. Em suma, é o ‘avô’ do povo angolano. Por isso, pretendo representar sempre essa personagem até à minha última respiração.
PERFIL
Nome completo: Manuel ?Alves Teixeira
Estado civil: Casado
Data de nascimento: 2 de Novembro de 1965
Naturalidade: Luanda
Formação: Curso de Teatro Comunitário para o Desenvolvimento Curso de Interpretação de Televisão e outros.
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