CONCORRÊNCIA ÀS AGÊNCIAS IMOBILIÁRIAS

Intermediários alimentam os arrendamentos

HABITAÇÃO. O mercado de intermediários já não se limita à compra e vendas pouco organizadas. O negócio é rentável e motiva o aparecimento de novos agentes. Usam agora as redes sociais para a divulgação. Mas ainda há anúncios colados na parede. Por cada negócio fechado, o intermediário informal recebe 10 por cento. As agências cobram 5% por venda.

Quem quer comprar, vender e/ou arrendar casas, escritórios e/ou carro em Luanda, Huila, Lobito, Huambo ou em Benguela, já encontra um mercado mais desenvolvido, profissional e dinâmico nas redes sociais.

Os anúncios evoluíram dos papéis colados nas paredes para os portais. “Os interessados em vender ou arrendar os seus apartamentos, vivendas, terrenos, armazéns, lojas, casas no gueto ou na cidade, viaturas novas ou usadas, devem entrar em contacto connosco através dos contactos.” É o mais comum dos avisos nas redes sociais.

O negócio rende, aos intermediários, 10% do preço total do imóvel em arrendamento ou na venda. A percetagem é a ‘tabela’ quer seja em carros novos ou usados, casas, terrenos, escritórios e armazéns. A exemplo da PropriCasa, Algi Lda e AZ Imoveis.

Wilson da Silva, de 29 anos, é um intermediário na Huíla há nove anos. Graças às comissões que recebe, conseguiu construir a sua casa, comprou um carro em segunda mão, está a pagar a faculdade, onde frequenta o curso de Desporto, e sustenta a família.

Como intermediário, não se limita à venda ou renda de casas, também negoceia fazendas, carros, terrenos e outros “desde que sejam legais, nada contra a lei”, garante. Para publicitar, usa as redes sociais com o nome ‘Intermediário Huíla’ e deixa os contactos em locais onde encontra um anúncio. Por um apartamento T3, com água e luz, consegue arrendar a partir dos 50 mil kwanzas por mês. Do dinheiro pago, recebe 10% do valor.

Desta forma, confessa que consegue “evitar outros vícios como roubar e drogar-se” e assim encontrar “algo melhor”. Acredita que o mercado imobiliário tende a crescer e garante que “é um bom negócio e moderno”, que o tem ajudado “a sobreviver”, uma vez que o emprego “não está fácil”.

O intermediário adverte que nem sempre há clientes. “Há meses em que não há trabalho” e, nos últimos tempos, o que mais aparece são arrendamentos e vendas de casas. Para as outras áreas “está difícil”. “Ganhamos 10% por cada venda, mas com a crise só estamos a sobreviver nos arrendamentos”, reforça. Outro intermediário é Estevão Vunge que também usa o Facebook como veículo de anúncios. Sente que o negócio está em baixa, desde que surgiu a crise, pois há meses em que não aparece nenhum cliente, mas há intermediários que “felizmente têm sempre clientes”. Para ele, o segredo é “ser acima de tudo honesto e ter seriedade”. “Muitas vezes só queremos a nossa comissão e mostramos produtos ou casas em péssimas condições e os clientes só se apercebem depois de pagarem.”

Ana Zuzarte, responsável da empresa imobiliária ‘AZ Imoveis’, não tem dúvidas de que o mercado imobiliário “baixou muito desde que os expatriados começaram a sair em massa”. A mediadora acredita numa mudança futura, mas lamenta que, nos últimos tempos, “o mercado esteja a sofrer alterações constantes”, porque os proprietários passaram a normalizar os valores de modo a facilitar no pagamento dos impostos.

Com a Nova Lei do Arrendamento, em que não há obrigatoriedade de pagamentos de rendas e alugueres acima dos seis meses, “as coisas complicaram-se”. Na AZ Imoveis, as comissões são transversais a todas as empresas. Cobra-se por venda 5% de comissão e por arrendamento uma renda, o previsto por Lei.

Há ainda empresas como o portal de classificados Ango Casa que não intermedia nem media, simplesmente presta serviços gratuitos. A Ango Casa pretende, nos próximos cinco anos, permanecer grátis de forma a conquistar o mercado, mas mantendo parcerias com empresas imobiliárias.

Na sua página do Facebook, indivíduos e empresas podem anunciar o imóvel que desejou vender ou arrendar. Para tal, têm de garantir que o produto não é fraudulento, porque a empresa é dotada de gestores que investigam sempre que alguém tenta anunciar na página. Domingos Vemba, gestor de vendas da Ango Casa, revela já se terem deparado com anúncios fraudulentos, mas, depois de uma pequena investigação, foi descoberto e logo o anunciante é eliminado.

De acordo com um estudo elaborado pela Proprime, em 2015, uma empresa de consultoria e avaliação imobiliária de Angola, os imóveis de escritório e habitação localizados em Luanda ainda têm apresentado um alto nível de procura, e não há indícios de que essa procura deva diminuir nos próximos anos. Ou seja, tudo vai depender da profissionalização do sector para atender à procura.

Em entrevista ao jornal ‘Expansão’, o director-geral da Urban, Marco Cardoso, acredita que hoje “já não se fazem negócios com os valores insensatos de finais da década passada” e admite que, nessa altura, por ter havido “um mercado muito informal e com pouca oferta de qualidade, existiu muita especulação”. O aumento da procura, o maior nível de formação dos intervenientes no mercado a ajuda das plataformas ‘online’ são elementos que vieram contribuir para o desenvolvimento do mercado imobiliário angolano, afirma Marco Cardoso.