Isabel dos Santos nega transferências associadas à sua família
Isabel dos Santos negou, esta segunda-feira, ter feito transferências associadas à sua família, após uma investigação ter revelado que ela e o marido foram alvo de relatórios sobre actividades suspeitas, e que classificou de "difamatória".
"A engenheira Isabel dos Santos nunca fez transferências associadas 'à sua família', sendo esta alegação falsa e difamatória. A engenheira Isabel dos Santos é uma empresária independente, não existindo nenhuma associação entre os seus negócios e a sua família. A empresária só representa os seus interesses próprios e de mais ninguém", refere um comunicado a que a Lusa teve acesso, reagindo à investigação divulgada no domingo pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ), da qual o Expresso, do grupo Impresa, é parceiro.
De acordo com a investigação, a empresária "foi alvo de dois relatórios sobre actividades suspeitas em 2013 nos Estados Unidos, um do JP Morgan e outro do Standard Chartered" devido a "transferências ligadas à Unitel e ao negócio dos diamantes em que Sindika Dokolo, marido de Isabel dos Santos, foi sócio do Estado angolano".
Segundo o Expresso, o relatório tem dezenas de páginas e foi concluído em 16 de Outubro de 2013: "É um dos dois documentos incluídos nos FinCEN Files que estão relacionados com Isabel dos Santos. Uma funcionária do departamento de 'compliance' do JP Morgan Chase Bank, nos Estados Unidos, enviou-o no dia seguinte para a FinCEN, a agência federal responsável por processar e reencaminhar suspeitas sobre potenciais esquemas de lavagem de dinheiro para eventual investigação pelas autoridades policiais".
Na nota, lê-se que "Isabel dos Santos ou as suas empresas nunca foram clientes de nenhum banco norte-americano", apontando que "é completamente falso e difamatório que um banco norte-americano" tenha ajudado a empresária "em transferências associadas à sua família ou ao Estado angolano".
O documento acrescenta que o JP Morgan realiza, "na qualidade de banco correspondente do banco BFA/BPI", pedidos de "'compliance' regulares, solicitando informações sobre várias transacções e de vários clientes do banco", considerando que esta é uma prática "absolutamente normal".
Apesar de nem Isabel dos Santos ou o seu pai serem clientes, "o relatório enviado à FinCEN mostra como o JP Morgan tinha estado envolvido indirectamente, como banco correspondente, em transferências relacionadas com a família e com o Estado angolano" e "houve uma transferência, em particular, que chamou a atenção do 'compliance' da instituição: Sindika Dokolo tinha enviado a 2 de Março de 2012 quatro milhões de dólares para uma conta de uma empresa holandesa, a Melbourne Investments BV, que passaram por uma conta correspondente do JP Morgan".
As transacções financeiras relatadas nos artigos jornalísticos são de 2013, ou seja, ocorreram há mais de sete anos. Esta informação é regurgitada e requentada e faz parte da campanha difamatória que continua a ser alimentada por aqueles que viram os seus rendimentos ilegítimos cortados na Sonangol quando a engenheira Isabel dos Santos ocupou o cargo de PCA de Junho de 2016 a Novembro de 2017", reforça a nota.
Isabel dos Santos sublinhou que ela ou o seu marido "não fazem parte de qualquer esquema ilegal e/ou ilegítimo de circulação de fundos no sistema bancário internacional ou norte-americano" e refutou as "falsidades e notícias regurgitadas e sem fundamento".
"É clara a intenção de provocar danos reputacionais, pelo que se refuta estas falsidades e estas notícias regurgitadas e sem fundamento", concluiu a empresária.
O relatório inclui uma lista de 26 entidades e pessoas – em que constam Isabel dos Santos, Sindika e José Eduardo dos Santos – que pudessem ser partes relacionadas, englobando a Galp em Portugal, onde a empresária tinha uma participação accionista indirecta.
"Ao todo, o banco identificou um total de 829 milhões de dólares em transferências ocorridas entre 2005 e 2013 relacionadas com o universo dessas entidades, mas pôs de lado a esmagadora maioria delas e concentrou-se em rever apenas algumas dezenas de milhões", refere o Expresso.
Foram identificados movimentos efectuados entre 3 de Julho de 2006 e 2 de Março de 2012 de contas controladas por Sindika Dokolo que passaram por contas correspondentes de bancos estrangeiros no JP Morgan.
A investigação envolve mais de dois mil documentos bancários confidenciais ("FinCEN Files") obtidos pelo BuzzFeed News e partilhados com o ICIJ, e que revelam como alguns dos maiores bancos mundiais, entre os quais o HSBC, foram usados em processos de fraude.
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