‘Kupapatas’ substituem ‘água para todos’ nos musseques de Luanda
SERVIÇOS. Venda de água em bidões de 20 litros mantém-se como cartão-de-visita nos musseques de Luanda. Jovens motoqueiros das famosas ‘kupapatas’ explicam ao VE os circuitos do ‘negócio’.
Enquanto o projecto de ‘água para todos’ não chega a todos, os moradores, sobretudo os que habitam em zonas suburbanas de Luanda, têm recorrido, entre as alternativas, aos serviços das famosas motas de três rodas, conhecidas como ‘kupapatas’ que transportam até um máximo de 50 bidões de 20 litros.
Com a oportunidade de fazerem o negócio de venda do ‘precioso líquido’ porta-a-porta, na zona dos musseques, as motas começam a roncar a partir das cinco da manhã e terminam às cinco da tarde.
O barulho deixa alerta os clientes que precisam de alguns bidões de água, numa rotina diária, e os preços variam de zona para zona. Por exemplo, no Kapalanga, arredores do complexo Norberto de Castro, em Viana, os motoqueiros comercializam cinco bidões a 500 kwanzas.
No Neves Bendinha, também conhecido como bairro Popular, na rua Machado Saldanha, encontrámos dois jovens que comercializam a água a 75 kwanzas por bidões de 20 litros. Com 35 bidões empilhados na kupapata, Tony Fernandes conta que a procura é grande e, ao final do dia, junta mais de 12 mil kwanzas. O jovem compra a água no bairro Kassequel, bairro onde firmou o acordo com o dono da motorizada que recebe cinco mil kwanzas por dia. Devido à ilegalidade do negócio, Tony conta que a motorizada está com os documentos tratados, mas, nas constantes abordagens pelos agentes da Polícia, são obrigadas a deixar mil kwanzas da famosa ‘gasosa’.
Tony considera o negócio “rentável”, razão por que já pôde juntar alguma poupança com a qual pretende comprar duas motorizadas em segunda-mão, mas para dinamizar outro negócio. A ideia é investir no transporte de mercadorias das vendedoras em diversos mercados de Luanda.
Na zona do Golfe 2, bairro Sagrada Esperança, os revendedores de água compram às escondidas em residências com água da Epal e transportam o líquido em reservatórios de plástico. Francisco Manuel diz ser a melhor forma encontrada para ganhar mais dinheiro. Com o preço de 75 kwanzas por bidões, a facturação diária atinge os 20 mil kwanzas, três mil dos quais destinados à remuneração diária do funcionário que o ajuda na comercialização.
Seis é o número de viagens que Cris Matias consegue fazer por dia. Com uma motorizada de capacidade para transportar mais de 35 recipientes, comercializa o líquido aos moradores do bairro Ingutal, em Viana, por 60 kwanzas o bidão, juntando três mil kwanzas diários para o patrão.
Com os saltos e os esforços no transporte da água a desgastarem-no fisicamente, o jovem traçou, para os próximos tempos, abandonar a actividade e abraçar o sonho antigo de montar uma hamburgaria. Para tal, conta com alguns meios financeiros guardados e um espaço cedido por um familiar.
Com o surgimento de novos bairros em Viana, a procura do precioso líquido também aumentou. No Kapalanga, na zona 17, ter um tanque de água é um luxo e Miguel Ngueve encontrou oportunidade de ganhar dinheiro, vendendo água em bidões por encomenda. Para encher uma kupapata com 25 bidões, o jovem levanta-se às cinco horas, mas, por norma, encontra já o fontenário cheio de outros motoqueiros.
Apesar de ter aprendido a conduzir a motorizada por curiosidade, hoje sente-se seguro, razão por que anda o número de viagens necessário para juntar entre 15 e 20 mil kwanzas, ao fim de cada dia de trabalho.
O bairro do Kapalanga possui apenas um fontenário em funcionamento, estando os restantes inoperantes há anos, daí a procura deste importante líquido.
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