Lula da Silva reafirma pacto com África
PROCESSO JUDICIAL. Ex-presidente brasileiro, condenado a 12 anos e um mês de prisão, recoloca países africanos entre as prioridades na relação com o Brasil, reagindo às críticas do actual partido governante. Lula da Silva atacou duramente a Justiça, que o pode afastar da corrida eleitoral de Agosto como candidato do Partido dos Trabalhadores.
Os países africanos vão continuar a ter o Brasil como um “verdadeiro parceiro económico”, apesar das críticas dos líderes de forças políticas de oposição ao Partido dos Trabalhadores (PT) na relação do Estado com o continente, anunciou o ex-presidente do Brasil e candidato do maior partido brasileiro, Luís Inácio Lula da Silva, no discurso que se seguiu à sua condenação pelo Tribunal Regional Federal.
De acordo com o ex-chefe de Estado, que discursava em São Paulo, num acto de protesto ao julgamento que o condena, agora, a 12 anos e um mês de cadeia, os políticos da oposição ao seu partido consideram menos os africanos , preferindo, assim, manter relações com os EUA. “Eles [a justiça e a oposição ao PT] nunca toleraram a nossa visita a 39 países africanos.
Eles diziam que o Lula deveria estar a visitar os EUA, e não África, porque são complexados. Visitei África com muito orgulho”, lembrou Lula da Silva, de punho cerrado. “Eles [o PSDB e PMDB] fazem manifestações de camiseta amarela para fazer protestos contra os nossos vermelhos. Mas, na segunda-feira, colocam camisa americana e vão para Miami, fazer compras de coisas que podiam comprar aqui”, atacou Lula, saudado, de seguida, por uma salva de palmas pelos mais de 50 mil partidários e associações cívicas pró-Lula presentes no acto.
Numa altura em que Lula da Silva se prepara para seguir viagem para a Etiópia, o juiz Ricardo Augusto Soares Leite, da 10.ª vara Federal, proibiu-o de se deslocar para o estrangeiro e ordenou a apreensão do passaporte. Esse magistrado alegou “possibilidade de fuga” do ex-presidente. Lula era esperado no último fim-de-semana em Adis Abeba, onde participaria de um encontro da FAO sobre a fome no continente africano.
Lula da Silva é o principal candidato à presidência do PT devido às suas políticas sociais implementadas no Brasil quando ocupou o cargo, de 2003 a 2010. Foi, entretanto, acusado, julgado e condenado, na semana passada, por unanimidade, por crime de corrupção passiva e lavagem de dinheiro no ‘caso do triplex’, em Guarujá, uma cidade do litoral sul de São Paulo.
O ‘caso triplex’ refere-se a um processo judicial em que o ex-presidente é acusado de ter facilitado a construtora Odebrechet em vários contratos de empreitadas públicas e, como recompensa, a construtura, que também tem várias obras importantes em Angola, terá oferecido a Lula da Silva um apartamento do tipo ‘triplex’, na zona de praias da classe alta daquela cidade.
“Se eles me condenam por um apartamento que não tenho, que me dêem titularidade”, afirmou Lula da Silva, que aguarda agora por recursos dos advogados aos tribunais de última estância. Analistas brasileiros consideram a condenação não decisiva por haver ainda recursos, mas não descartam a possibilidade de o ex-líder brasileiro ficar de fora na próxima corrida para o Palácio do Planalto, já que a ‘Lei da Ficha Limpa’ proíbe políticos condenados, em segunda estância, a candidatarem-se à Presidência da República.
ÁFRICA DÁ AVANÇOS
Dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) brasileiro revelam que, em 2008, o país atingiu um recorde histórico de 25,931 mil milhões de dólares nas relações comerciais com os países africanos.
Só de Janeiro a Outubro de 2017, a balança comercial entre o Brasil e África fechou a crescer. Neste período, as exportações brasileiras para África totalizaram 7.940 milhões de dólares, um avanço de 26,16% face a igual período anterior, enquanto as vendas de África para o Brasil cresceram a um ritmo mais lento, de 16,01%, somando 4.739 milhões de dólares, revela o MDIC. O governo brasileiro destaca ainda o facto de que, entre Janeiro e Outubro desse ano, o intercâmbio comercial com os países africanos ter gerado para o Brasil um ‘superávit’ de 3.201 milhões.
África e Angola importantes
Vários deputados do PT, que discursaram minutos antes de o ex-presidente chegar à tribuna, já tinham recordado a importância de África nas relações com o Brasil, com exemplos de “bons indicadores” conseguidos logo no segundo mandato de Lula da Silva.
Sem fazer referências específicas a Angola, os deputados disseram que vão continuar a apoiar países africanos. Angola entra no grupo, não por ser Nação africana, mas por ser dos países que mais coopera com o Brasil. O sector alimentar é um dos ramos em que os dois Estados têm muito em comum. A relação Brasil-Angola tem ainda outros fundamentos, na medida em que o pais sul-americano é um dos principais compradores do petróleo angolano, a seguir à China e aos EUA.
Essa relação é ainda justificada pelas várias empresas brasileiras que operam em Angola, com destaque para a Odebrechet, Queiroz Galvão e similares, que controlam várias obras públicas, além de participarem de vários projectos sociais do Governo.
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