Militantes reagem aos resultados do congresso
POLÍTICA PARTIDÁRIA. Partido no poder alarga comité central e substitui secretário-geral. João Lourenço volta a ‘agarrar-se’ nos aos erros do passado para enriquecer discurso de abertura, enquanto no encerramento disse que não voltaria a falar do que os militantes estavam à espera, a corrupção.
Nos discursos do fim-de-semana alusivos ao sétimo congresso extraordinário do MPLA, João Lourenço voltou, entre outros, a tocar no seu ‘cavalo de batalha’, o combate à corrupção e responsabilizou a equipa económica, quanto à implementação do IVA “ainda este ano”. O presidente do MPLA falou também da necessidade do aumento da produção ‘made in Angola’ e anunciou um novo ‘programa integrado de intervenção municipal (PIIM) ‘.
Em reacção ao discurso de JLo, o embaixador Miguel Costa apela para que cada um “comece por algum lado a fazer alguma coisa, para impulsionar o campo”. Antigo PCA da transportadora aérea nacional, TAAG, Miguel Costa afirma que “o Presidente falou, mas a iniciativa deve ser das pessoas com talento para a implementação de pequenos projectos nos municípios”. Avisa, entretanto, que o sucesso passa pela criação de infraestruturas básicas para alavancar a produção, elegendo como “crucial”, a energia eléctrica, uma vez que, “havendo esse bem público, quem quiser investir no campo, na agricultura, no pequeno comércio ou na hotelaria e no turismo terá a possibilidade de melhorar a sua qualidade de vida”, e ao mesmo tempo, “será mais fácil transformar e conservar os produtos”.
Por sua vez, o empresário Ferreira Nequinha alerta que o sucesso do PIIM dependerá, além das infraestruturas como a electricidade e a água potável, de um melhor posicionamento dos bancos na cedência de crédito. “Os homens com capacidade de trabalhar precisam de uma banca mais comprometida com o problema do arranque da produção interna que não vai acontecer enquanto os bancos continuarem com exigências de garantias absurdas.”
Para Marcos Chitanga, que aderiu ao MPLA em 1974, o discurso de JLo foi “pouco galvanizante”, por ser “muito repetitivo”, quando o que interessa “é a ruptura total com as práticas do passado”. “O PIIM é uma boa iniciativa enquadrada nas autarquias”, assinala, referindo, contudo, que o MPLA só poderá vencer as eleições autárquicas se der um pouco mais do que fez até agora “transformando os discursos em acções práticas na vida do cidadão”. “Se o cidadão sentir a pulsação de que há resultados, então os mandatos do MPLA poderão duplicar ou mesmo triplicar”, mas se não o fizer, diz o militante do partido maioritário, “o melhor será nem sequer avançar para esse desafio porque vai perdê-las [as eleições] ”.
Referindo-se aos resultados do congresso, o também jurista entende que “o Presidente e o partido de forma geral estão com algumas dificuldades de romper definitivamente com as práticas antigas que resultaram na delapidação do erário”. “Há um choque porque o que está mal é o comité central estar mancomunado com a acumulação primitiva de capital, uma prática lesiva ao Estado”.
Assim, considera Marcos Chitanga, “o correcto seria afastar todo o comité central, pô-lo todo em casa”, porque “fora desse quadro”, acrescenta, “o Presidente não vai conseguir corrigir o que está mal, porque a acumulação primitiva de capital não foi uma simulação, provocou falência da Caixa Agro-pecuária e Pescas, do Besa, e de vários outros programas”.
Empresas com fundo públicos
Por sua vez Marcolino Moco, antigo secretário-geral do MPLA, apelou, à margem do conclave do partido no poder, ao pragmatismo ao tratar-se de erros de governação, cometidos essencialmente entre 2002 e 2015, “sob pena de todas as pessoas importantes do país irem parar a cadeia”. Reafirmou uma responsabilização baseada na ética e na moral, promovendo-se “a justiça restaurativa”, adaptável à realidade angolana, ao invés de se importar modelos europeus ou outros.
Moco considerou “sensatas” as medidas tomadas no sentido de se manter funcionais as empresas constituídas, com fundos públicos, mesmo na anormalidade, por garantirem serviços e empregos, revendo-se inclusive a sua titularidade. E aconselhou para se evitarem os erros como os cometidos depois da independência, ao partir-se tudo que parecia ser colonial para se construir tudo de novo.
O sétimo congresso do MPLA elegeu Paulo Pombolo ao cargo de secretário-geral, em substituição de Boavida Neto, e escolheu também um bureau político com 72 membros, alguns dos quais estreantes, bem como um novo comité central que passou de 366 para 497 elementos com a integração de 134 jovens.
“A Sonangol competia só com as empresas estrangeiras. Agora está a competir...