“Na África do Sul, a fotografia ainda é um nicho”
FOTOGRAFIA. Esteve em Angola pela primeira vez para apresentar a exposição ‘Mulheres Invisíveis (Invisible Women 2006)’, no âmbito da 3.ª edição do projecto Vidrul Convida’, com a colaboração da AM-Arte. A mostra ficou patente no Memorial Dr. António Agostinho Neto, em Luanda, até 30 de Maio. Sabelo Mlangeni, em entrevista ao VALOR, abordou a experiência em Angola e da expansão da fotografia no mercado sul-africano.
O que retrata a exposição ‘Mulheres Invisíveis’?
A exposição procura não só retratar a força e a resistência das mulheres sul-africanas, cujo trabalho é limpar, diariamente, o lixo do comércio e restos dos vários negócios no centro de Joanesburgo, mas também mostrar que as fronteiras sociais podem ser eliminadas, dando-lhes independência, acesso às necessidades básicas e capacitação económica, apesar de fazerem um trabalho que a maioria considera humilhante. Torna-se necessário abrir as possibilidades para que essas mulheres tenham acesso ao poder político, com leis que salvaguardem, com voz igual, o seu futuro e dos seus filhos, sem que haja leis e costumes repressivos que os restringem.
Como entrou para a fotografia?
Em 2001, mudei-me para Joanesburgo, onde me juntei ao ‘Workshop de Fotografia de Mercado’, graduando-me em 2004. Ganhei o Prémio ‘Tollman de Artes Visuais’, em 2009, o que confirmou ainda mais a minha vocação para esta arte. Desde então, tenho exposto com muita frequência na África do Sul e no estrangeiro, tanto em exposições colectivas, como individuais.
Como vê o mercado na África do Sul?
Na África do Sul, embora tenhamos grandes referências, a fotografia ainda é um nicho. De forma a crescer, um fotógrafo tem de fazer o seu trabalho crescer com amor e não pensar exclusivamente na importância monetária do trabalho. Com trabalho forte, feito com amor, o mercado e a remuneração encontrar-nos-ão sempre.
Quais são suas principais influências?
As minhas influências maiores são os sul-africanos Santo Mofukeng, que representa um pai para mim; Creo Mutwa, um artista e um visionário; David Golblatt, um mestre, e, por fim, uma enorme apreciação pelo trabalho do Paul Strand (norte-americano).
Acompanha trabalhos de fotógrafos angolanos?
Sim, acompanho o trabalho sempre que há suficiente informação, média ou mesmo que a pesquisa o permita. A fotografia nacional é largamente abstracta. E pergunto o porquê disso? E como poderei adaptar-me a essa linguagem? Como podemos abrir o leque da conversa entre a África do Sul e Angola?
Quanto custa uma fotografia de Sabelo Mlangeni?
As minhas fotografias custam entre 18 e 35 mil rands. [Equivalente a 35 a 65 mil kwanzas].
Há quem diga que a edição exagerada de fotografias representa uma ‘inundação digital’…
Mesmo na era analógica, sempre houve bastante pós-produção. Hoje, talvez seja em maior quantidade, até porque quase todos têm um ´smartphone´, com uma quantidade incomensurável de filtros e editores de fotografia ao toque de um dedo, pelo que existem muitos mais ‘fotógrafos’ do que no passado, dando a ilusão de uma ‘inundação digital’.
Uma única foto realmente pode expressar mil palavras?
Sim, uma única foto realmente pode expressar mil palavras. E, nessa linha, uma combinação de imagens pode fazer o seu trabalho crescer com amor. Estou motivado e engajado em (re)criar emoções e (re)acções a essas imagens fotografadas.
Tem algum projecto ou exposição em vista?
Tenho um trabalho em mente que me vai ‘obrigar’ a sair da minha zona de conforto em termos de linguagem, mas que é um tema que me apaixona: ´Paisagens Europeias´, mas visto na óptica de soldados sul-africanos que morreram na 2.ª Guerra Mundial e cujos corpos continuam sepultados nas paisagens de Dieppe, na Normandia, em França.
Quais são os motivos que o fariam voltar a Angola?
As fortes relações sociais e humanas que já criei no curto espaço em Luanda. Em particular, gostaria de voltar para fazer uma residência e criar um impacto importante por entre as pessoas com quem poderei interagir.
Em exposições
Sabelo Mlangeni participou em várias exposições colectivas e individuais, das quais se destacam os 9.ºs Reencontros de Bamako, Bienal do Mali, Festival de Fotografia de Lagos, Nigéria, e exposições na Alemanha, Reino Unido (Londres e Liverpool), Holanda e EUA, entre outras.
PERFIL
Sabelo Mlangeni nasceu em 1980 em Driefontein, na África do Sul. É dos fotógrafos sul-africanos a emergir nos últimos anos, mas tem crescido de forma silenciosa com as fotos a preto-e-branco pungentes. Trabalha dentro de uma comunidade, capturando os seus momentos íntimos.
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