ANGOLA GROWING
Kassy, artista plástica

“Na arte não há padrões”

ARTES PLÁSTICAS. Com apenas dois anos de carreira, Kassy nota algum crescimento nas artes plásticas, em Angola. Aconselha os colegas a saírem da arte convencional por entender que não existe padrão. Integrante da plataforma de Jovens Artistas Angolanos (JAANGO), faz parte da exposição que está patente no Memorial Dr. António Agostinho Neto, em Luanda, até 1 de Agosto.

Arte

Considerada autodidacta, Cassilda Pinto Fernandes, conhecida das lides artísticas como Kassy, de 41 anos, formada em jornalismo, largou os mais de 15 anos como directora de recursos humanos, para se dedicar por inteiro às artes.

A pintar profissionalmente há dois anos, acredita que, com a arte, consegue expressar e apresentar as suas insatisfações sobre os vários problemas sociais e também fazer uma crítica e, de uma forma empática, expor o seu sentimento. “O que fez dedicar-me às artes são os problemas sociais, só na arte consigo manifestar a minha insatisfação.”

Kassy acredita que, apesar do rumo que a arte está a tomar, “é importante sair da arte convencional, tanto em Angola, como no resto do mundo, e mostrar que a arte não tem barreiras nem limites”, recorrendo aos exemplos da música, poesia e literatura.

Entende, por isso, que, “na arte, não há padrões”. “Devemos retratar o dia-a-dia e expressar sentimentos verdadeiros, sempre foi assim em todas as épocas, como Vincent van Gogh, que pintava aquilo que dizia a alma.

O artista tem de usar a máxima criatividade”. “Angola tem muito potencial e tende a crescer. Já há pessoas com algum poder financeiro que já estão a investir, isso é bom, os bancos já começam a aconselhar os clientes a investir em arte”, afirma.

Vê que as artes plásticas, em Angola, estão “a andar a passos largos”, apesar de, durante algumas décadas, haver poucos artistas com nível internacional. Apela que haja mais sensibilização dos compradores, embora reconheça que, nos últimos dez anos, Angola registou um número de compradores, não por estar na moda, mas porque começam a ver o valor da arte.

“Ainda temos muito a fazer em termos de sensibilização, mas isso começa desde pequeno. Os pais, os média e as escolas têm um papel importante na sensibilização do gosto e valorização da arte.”Por isso, acredita que se se promover mais concursos, o interesse vai aumentar gradualmente.

Kassy tem residência artística no Centro Cultural Brasil-Angola, onde também dá formação a jovens e crianças e integra o núcleo de artistas da plataforma de Jovens Artistas Angolanos (JAANGO Nacional’ 2018). A plataforma é organizada pelo Espaço Luanda Arte, que congrega artistas plásticos angolanos residentes em Angola e no estrangeiro, em várias disciplinas.

A exposição é constituída por telas produzidas a óleo, acrílico e instalações, e fica patente até 1 de Agosto, no Memorial Dr. António Agostinho Neto, em Luanda. Kassy mostra-se preocupada com os jovens que estão a formar-se no Instituto de Belas Artes.

“O problema é que muitos estão lá, não por amor à arte, mas por falta de oportunidade de se formarem noutra área.” Vê a existência de um museu de belas artes, em Angola, como um trampolim para a massificação da arte angolana. Por outro lado, apela que se criem mais residências artísticas e espaços para a criação de arte, pois entende que funciona “como terapia”, por ser “agradável” e “ajuda a evitar outros vícios menos bons para saúde e a sociedade”.

Kassy prepara outra exposição individual ainda sem título e lugar. Faz parte também do grupo de jovens que realizam passeios da campanha ‘Reviver’, que consiste em fazer passeios turísticos com destaque para a ‘rota dos escravos’ e da associação de solidariedade Kalu. Inicialmente, esteve ligada à pintura acrílica e algumas técnicas mistas.

Com o projecto JAANGO, foi desafiada a sair dessa área de conforto e experimentar a instalação e teve de trabalhar com ferro, alumínio, madeira e colas. Participou em várias exposições colectivas e individuais com destaque para a do Centro Cultural Brasil-Angola ‘Além das ilusões, a vida no mato urbano’, onde, por sinal faz residência artística e outra colectiva no Memorial António Agostinho Neto ‘Dualidades’, em 2017.