“Não é apenas o rico que bebe vinho”
VINHOS. Jornalista e director da revista ‘Vinhos Grandes Escolhas’, Luís Lopes realizou, recentemente, em Luanda, formação de prova de vinhos. O enólogo reconhece, em entrevista, que há, em Angola, uma cultura de vinho fortemente enraizada que torna o consumo do produto transversal a todas as classes sociais.
Que avaliação faz do vinho produzido em Angola?
Conheço apenas uma marca, Serras da Xixila. Para uma primeira experiência, num país que não tem histórico de produção de vinho, surpreendeu-me pela positiva.
Em Angola, existem bons apreciadores de vinhos?
Em Angola, existe, sobretudo, uma cultura de vinho fortemente enraizada no povo angolano. Quero dizer com isto que o vinho faz parte do dia-a-dia do angolano e o seu consumo é transversal a todas as classes sociais. Não é apenas o rico que bebe vinho. Quem tem menos dinheiro bebe o vinho mais barato, mas continua a apreciar o vinho. Este é um caso absolutamente único a nível de África. Mesmo países produtores, como a África do Sul, não têm este tipo de cultura de vinho.
Qual é o nível de aceitação do vinho português no plano internacional?
A notoriedade dos vinhos de Portugal tem vindo a crescer de ano para ano, conquistando mais consumidores, em todo o mundo, incluindo os Estados Unidos da América. Hoje, entre os principais mercados para o vinho português, já se inclui também a China.
No passado mês de Abril, houve um encontro do Clube Vinhos de Portugal, em Luanda. Qual foi o propósito deste evento?
Primeiro que tudo, fomentar a amizade e a partilha de conhecimentos entre pessoas de dois países e culturas, tendo como ponto de partida e de união a paixão pelo vinho de Portugal. Ao mesmo tempo, proporcionar aos membros do clube um vasto conjunto de experiências e conhecimentos sobre vinhos portugueses.
Como foram seleccionados os membros do clube?
Os membros foram seleccionados enquanto líderes de opinião reconhecidos como tal pela sociedade angolana e vêm sobretudo da área da imprensa, rádio e televisão, com excepção de um prestigiado chefe de cozinha, Helt Araújo, que aqui tem como colegas Ernesto Bartolomeu, Kumuenho da Rosa, Sérgio Figueiredo, Mateus Gonçalves, José Guerreiro, Evaristo Mulaza, Sebastião Vemba e Pedro N’zagi.
Os vinhos portugueses continuam a ser os mais consumidos pelos angolanos?
Sem dúvida, e a larga distância de quaisquer outros. E, apesar das dificuldades que o país atravessa, sobretudo em termos de acesso a divisas para a aquisição de bens importados, Angola continua a ser um mercado muito importante para os vinhos de Portugal. Quando Angola recuperar destas dificuldades, a procura de vinhos portugueses sairá ainda mais reforçada.
Além dos portugueses, que vinhos os angolanos mais consomem?
Consomem também vinhos sul-africanos, franceses (sobretudo champagne), chilenos. Mas, como referi, os vinhos portugueses são, de muito longe, os mais procurados. Foi recentemente indicado director da revista ‘Vinho - Grandes Escolhas’.
Quais são os seus grandes desafios?
Apesar de a revista se ter estreado agora em Maio, é feita por uma equipa que, desde há muitos anos, lidera o jornalismo de vinhos em Portugal. O nosso desafio é oferecer aos nossos leitores ainda mais e melhor do que aquilo a que os acostumámos ao longo de quase 28 anos. E continuar a ganhar novos leitores para a causa do vinho de qualidade.
Constitui uma mais-valia a existência de uma revista do sector dos vinhos?
Sem dúvida. Uma boa revista tem um contributo fundamental para aumentar o conhecimento e o grau de exigência do apreciador de vinhos. Recentemente orientou uma formação, em Angola, virada para o mercado vinícola.
Que tipo de conhecimentos transmitiu aos formandos?
Em resumo, fez-se uma introdução geral aos vinhos de Portugal e uma referência àquilo que são todos estes vinhos únicos e diferentes produzidos a nível mundial.
Quais foram os conteúdos da formação?
História, regiões de origem e o que as distingue, castas de uva, solos e climas, tipos de vinho, métodos de produção, serviço e conservação de vinhos, harmonia à mesa, enfim. E tudo isto acompanhado de prova de cerca de 12 vinhos distintos que representam alguns dos muitos estilos de vinhos produzidos em Portugal.
A quem foi dirigida essa formação?
Nesta fase, a formação é sobretudo dirigida a profissionais das grandes cadeias de retalho alimentar (super e hipermercados), sobretudo as pessoas que lidam mais de perto com os vinhos e bebidas e que contactam com o cliente final.
É a primeira vez que ministra este género de formação em Angola?
Não! Já vimos fazendo este tipo de formação, várias vezes por ano, desde 2014.
A formação foi apenas sobre ‘conhecimento sobre os vinhos portugueses’?
Sim! Este trabalho é financiado pela Viniportugal, organização que congrega a produção de vinho português e que tem como uma das suas missões dar formação e informação sobre os Vinhos de Portugal, em todo o mundo. Mas é claro que, durante as acções de formação, se acaba por responder a muitas dúvidas transversais que se aplicam a qualquer vinho, independentemente da sua origem.
PERFIL
De nacionalidade portuguesa, Luís Manuel Ramos Lopes, de 56 anos, licenciado em Ciências da Comunicação, fundou e dirigiu entre em 1989 e 2017, a Revista de Vinhos. Desde Maio de 2017, é fundador e director da nova revista mensal ‘Vinhos Grandes Escolhas’. Anualmente prova mais de 5.000 vinhos. Devido ao seu contributo para o desenvolvimento do vinho de Portugal, o Estado português entendeu, em 2003, condecorá-lo com a Medalha de Honra ?da Agricultura.
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