No maior mercado de Angola
COMÉRCIO. Mais de quatro mil vendedores, todos dias, movimentam maior mercado de Angola que pode facturar, só em cobranças de bancadas, lojas, casas de processo e barracas, um milhão de kwanzas por dia.
A administração do Quilómetro 30, em Viana, gere um mercado com 4.468 vendedores distribuídos em bancadas, que pagam maioritariamente 200 kwanzas pelo espaço maior e 100 para os menores e mais 100 kwanzas pela limpeza. Há ainda 55 lojas, 29 casas de processo (que vende produtos variados), 35 barracas de comes e bebes, número que segundo o administrador António Domingos, já foi maior, mas diminuiu devido à crise. Os armazéns anexos ao mercado não são controlados ou fiscalizados pela administração do mercado, porque têm alvará.
Só das bancadas organizadas, a administração chega a receber perto de 900 mil kwanzas, um valor que, no entanto, é incerto segundo o administrador, pois o número de vendedores diário é variável. As 55 lojas rendem à administração 11 mil kwanzas diários, as 29 casas de processo dão 5.800 e as 35 barracas chegam ais sete mil, totalizando 923.800 kwanzas por dia, sem adicionar o valor dos bagageiros e dos taxistas que também pagam pelo local de carga e descarga de passageiros.
O mercado do Km30 é, até ao momento, o maior centro de escoamento de produtos agrícolas, pecuária, pesqueiros entre outros, provenientes de todos os pontos do país.
Os vendedores, maioritariamente senhoras, vêm de todas as partes de Angola e adquirem a mercadoria internamente, porque o fornecedor leva o produto ao seu encontro e distribui as vendedoras e estas, por sua vez, revendem outros retalhistas internos e dos mercados mais pequenos e ainda aos zungueiros.
Aqui vende-se (quase) tudo, desde produtos da cesta básica aos mais sofisticados como placas solares, ar-condicionado, mobília de casa, animais vivos e abatidos, produtos importados, desde a fuba de milho, farinha de trigo, bacalhau, grão de bico, arroz, produtos de limpeza, tanques de lavar roupa e muito mais.
Na área da pecuária, há um posto de veterinário que aprova a qualidade dos animais a serem vendidos e ou abatidos. Os vendedores lamentam que, apesar da época natalina, “as vendas não aumentaram” como nos anos anteriores, devido à crise. Se antes por final de semana, época em que mais se vende, vendiam mais de dez cabeças de animais, actualmente, “as vendas semanais nem ultrapassam as dez cabeças”. Como Domingas Manuel, que vende cabrito há mais de cinco anos. No fornecedor, um cabrito grande chega a custar 20 mil kwanzas e revende a 22 ou 23 mil. Por dia pode vender duas ou três cabeças, mas adverte que “há dias em que também não se vende nada”, embora “estejamos a viver o mês de natal.”
Já no curral dos porcos, o matadouro trabalha em conexão com os vendedores. O cliente leva a carne pronta e limpa. Há ainda uma equipa que depende da disponibilidade financeira do cliente, porque para matar, depilar e tirar as miudezas os preços são outros. O preço do porco varia de cinco mil kwanzas para o leitão, até 15 mil para o porco maior e mais mil para limpar as miudezas.
É nas áreas do peixe fresco e seco e na carne seca onde se encontram produtos nacionais como javali, pacaça, seixa, gazela, jiboia, macaco, bagre seco, fumado e escalado, cacuço seco e fresco, catato, tortulho, entre outros produtos.
Os peixes frescos cacuço e bagre provêm das aldeias de Masoso e Cabaça e são vendidos no Km30, estas, por sua vez, compram e revendem a grosso e a retalho aos outros mercados.
Em melhores dias, a facturação pode chegar até aos 50 ou 70 mil kwanzas por dia, mas “com a desvalorização do kwanza, as vendas desceram muito”, conta Engrácia Alberto, de 49 anos, vendedora de peixe seco há seis. Na sua bancada, o monte de bagre, com três peixes médios, custa 2.000 kwanzas já o atado de carne de javali custa entre três e os oito mil kwanzas.
Há ainda quem nem se dedique à venda de produtos, preferindo ter o ‘ganha-pão’ nos jogos, os ‘famosos tômbola’. Como é o caso de Pai Love, que vende fichas de ‘tômbola’, ‘terno’, ‘quino’, a 50 kwanzas cada uma e a colecção a 300 kwanzas.
Diariamente, os jovens, que trabalham com vários distribuidores, fazem mais de oito jogos, e por cada jogo vendem mais de 60 colecções. Por dia, chegam a ter perto de 25 vencedores. Os prémios variam entre os 1.500 e os 20 mil kwanzas e para está época inovaram com o prémio de um cabaz composto de um saco de arroz, uma caixa massa, uma caixa de óleo, uma grade de gasosa.
Há também a venda de água em sacos, que custa por embalagem 10 kwanzas. As senhoras compram o balde de cinco litros a 25 kwanzas, e o gelo a 50 kwanzas. No balde, saem 50 sacos
Na área das verduras, a ‘mão’ de couve custa a partir de 100 kwanzas e vai até 300, já a cabeça de repolho entre as 100 e 250. Há também outros legumes como cenouras, feijão-verde, alface, quiabo, beringelas, rama de batata, jimboa, alho, jinguba, entre outros.
O mercado ainda tem uma área das roupas novas e fardos, de venda de cabelos brasileiros e não só. Os mais de 400 metros quadrados que o mercado ocupa, tem de tudo para a satisfação das necessidades básicas.
JLo do lado errado da história