Novas medidas de calamidade afundam restaurantes
Restauração. Uns estão a fechar portas e outros estão a tentar sobreviver. Proprietários criticam restrições e pedem ao Governo que tome “medidas urgentes” para salvaguardar empregos.
As novas medidas do estado de calamidade para a restauração agravaram a situação financeira dos restaurantes e similares.
Alguns proprietários lamentam que o sector esteja em “coma induzido”, enquanto outros atiraram a ‘toalha ao tapete’, fechando mesmo as portas. Outros ainda pedem “medidas urgentes” do Governo, defendendo ser possível a preservação simultânea da vida humana e da economia.
Desde o dia 10 deste mês, com o agravamento das restrições, que os restaurantes e similares estão proibidos de abrir portas aos fins-de-semana. Estes estabelecimentos só podem abrir de segunda a sexta-feira, das 6 às 18 horas, para atendimento presencial e até às 22 horas para entregas ao domicílio.
Ao VALOR, o presidente de direcção da Associação de Hotéis, Restaurantes Similares e Catering de Angola (AHORESIA) critica o Governo por não ter criado medidas que possam apoiar a restauração, a exemplo do que fez com alguns sectores no início da pandemia. João Gonçalves prevê dias mais “complicados” para o sector que “está a sufocar e a definhar” e estabelece paralelos com outros países. “Em outras realidades, já há uma abertura do turismo e Angola tem seguido o contrário. Sem apoios, não haverá sobrevivência por causa dos gastos diários como água, energia e outros serviços”, apela.
Para o sócio-gerente do restaurante Peixe do Cabo, na Ilha de Luanda, Bráulio Nobre, as novas medidas “não fazem sentido”. Este operador lembra que os dias de maior de facturação para a restauração são precisamente os finais de semana e confessa que tem tentado reinventar-se para “sobreviver”. O restaurante confecciona peixe fresco há cinco anos e precisou abrir à segunda-feira, habitual dia de descanso, para tentar compensar o final de semana, mas foi “um dia fraco”. “Temos uma faturação ao final de semana que justifica a semana toda. Estamos a tentar ver se conseguimos sobreviver. Não sei se vamos aguentar muito mais”, lamenta.
Outro restaurante que também está a tentar contornar as novas medidas é o Bueno Vivo, em Talatona. O gerente, Avelino Lucas, prevê que as novas medidas signifiquem “quase uma paralisação”. Apontando também os fins de semana como “os dias com mais facturação”, Lucas coloca abaixo dos 10% a facturação nos dias úteis, face ao total semanal. Com 57 funcionários, até ao dia 10 de Março, o restaurante teve de dispensar 44 por conta do agravamento dasrestrições. “Não conseguimos pagar salários”, justifica, confessando que as entregas têm sido um ‘escape’, apesar de “não ser suficiente e não cobrir grande coisa”.
O responsável do restaurante Bugilo Tropical admite, por sua vez, entender as medidas do Governo por causa do aumento de casos, mas considera que não trabalhar ao final de semana é um “problema”.
‘Emblemático’ Jango Veleiro fecha portas
O conhecido restaurante Jango Veleiro, na Ilha de Luanda, fechou as portas por causa da pandemia. O proprietário do espaço, o empresário Pedro Godinho, confirmou ao VALOR que o espaço está “tecnicamente falido”, encerrado e sem previsões de reabertura.
Dos 348 trabalhadores que a unidade já teve, hoje contabilizam-se apenas 20, mas estes mantêm-se apenas porque a “estrutura não tem portas e precisa de ser vigiada”.
O empresário explica a decisão de encerrar com a falta de recursos financeiros para pagar salários e sobretudo o dever de pagar o Imposto de Rendimento de Trabalho (IRT), por exemplo.
“Noutras geografias, como nos Estados Unidos, o governo encontrou soluções, fez injecção de capital a fundo desde que para garantir a manutenção dos empregos. Aqui, a única possibilidade é pagar às prestações mas, mesmo assim, não tem como se aguentar”, explica.
Apesar de reconhecer os resultados positivos alcançados com as medidas adoptadas pelo Governo para evitar a expansão da covid-19, Pedro Godinho defende, no entanto, que se encontre um “ponto de equilíbrio entre a economia e a saúde no sentido de evitar mais desempregos”. O empresário sugere “medidas mais amigas como, por exemplo, a emissão de alvarás pandémicos que permitiriam funcionar dentro do normal”. “As unidades que manifestassem o interesse de obter estes alvarás seriam obrigadas ao cumprimento de uma ‘check list’ relacionada com as medidas de segurança e, caso fossem aprovadas, receberiam o alvará e estariam aptas para trabalhar dentro do normal porque o objectivo é apenas reduzir o nível de contágio”.
Notando que “todos os dias existem unidades de negócio a entrarem em coma induzido”, Godinho pede “urgência” na tomada de medidas para a protecção dos empregos.
Relatos de vários outros restaurantes que optaram pelo encerramento, ainda que temporário, estão por confrmar, como é o caso do Club S, no embarcadouro do Mussulo, e o Cais de 4, na Ilha de Luanda.
“A Sonangol competia só com as empresas estrangeiras. Agora está a competir...