“Nunca estive preocupado com os concursos”
MÚSICA. Já leva mais de 30 anos de carreira. Com seis álbuns, acredita que a sua arte não é reconhecida o suficiente. Critica que se esteja a fazer cópia das músicas antigas e que se esteja a optar muito pelo comercial. Garante que se estivesse na música pelo dinheiro, já teria desistido.
O autor de ‘Doçura’ e ‘Sassa Mutema’ iniciou a carreira artística aos oito anos, como bailarino, depois maestro de carnaval e culminou no grupo KS, na Catumbela, Benguela, terra natal. A ida para Luanda deu-se por incentivo de Nelo Paim, em 1995, em companhia de Mamborró (já falecido). Com ‘Sassa Mutema, Flay ganhou projecção para o projecto ‘Pomba Branca’, que juntou 40 vozes da velha e nova gerações para cantarem a Paz, em 1997.
Pelos 30 anos, já se considera uma “lenda”. Desde criança, almejava brilhar nos palcos, alertando que a “intenção nunca foi por dinheiro, mas a massificação da cultura e a realização de sonho”, pois entende que “a arte não tem preço”. Apesar de reconhecer que “a vida está difícil”, principalmente para ele.
Considera-se feliz por compor músicas, que já têm mais de 20 anos e “não morreram”. “Naquela altura, não fazíamos música por dinheiro, era mesmo o coração. A música é um fenómeno muito nobre e não se compadece com fama nem dinheiro. Nasci para a arte, porque a arte não tem preço.”
Fundador da banda Voga, alerta que quando fala sobre a falta de valorização não é que seja um apelo ao dinheiro, mas, sim, de reconhecimento pelos anos de carreira e de alguém que deu o seu contributo e principalmente nos anos difíceis, porque “o dinheiro a gente trabalha. Já lá se foi o tempo em que os artistas trabalham por e simplesmente”.
Crítica os promotores de espectáculos que levam artistas por simpatia e conveniência. “Praticamente os espectáculos que têm a chancela do Estado ou que a Cultura devia ser autónoma, são feitos por produtoras e, quando o artista não tem vínculo, fica de fora.”
Flay concorreu apenas a único concurso, o Top Rádio Luanda, deixando claro nunca se preocupar com isso porque vê “artistas nomeados em categorias que não são as deles”.
Recorda que teve momentos maravilhosos como quando entrou pela primeira vez nos estúdios da RNA e ter gravado as primeiras músicas e quando fez parte do leque de artistas que actuaram com Eduardo Paim, reconhecendo que aprendeu tudo com Paim. Outro momento marcante foi o lançamento do álbum ‘Catumbela meu berço’, e ter sido lançado em Catumbela, com a oportunidade de oferecer o disco ao então presidente José Eduardo dos Santos. Também regista, como “um bom momento”, a actuação na caravana da 9.ª brigada em Cuemba, Bié, antes do derradeiro combate que culminou na morte de Jonas Savimbi.
Flay admite que a música angolana está “no bom caminho”, apesar de haver cantores que fazem cópias. “Ainda temos fazedores com dignidade e honra, que vão mantendo a sua musicalidade e vão oferecendo bons trabalhos ao público. Tudo quanto se está a fazer hoje, é consequência do que já se fez. Hoje há muitas músicas parecidas, há muita cópia. Para os fazedores de hoje, estamos sempre a subir, se pararmos e analisarmos, é só cópia. Por isso, é que há artistas a sobreviver com as músicas do antigamente. Ali também se fizeram boas coisas.”
O artista chega a ser o porta-voz de alguns problemas, relações, afectos e desafectos e os cupidos de várias situações. A música ‘Sassa Mutema’ já reconciliou casais, garante, e a ‘Doçura’ é actual até hoje. “Mas quando a escrevi, tinha apenas 19 anos e não tinha experiência nenhuma no amor, que me pudesse dar razões para escrever aquela história.” No entanto, segundo Flay não se pode comparar nenhum contexto, pois “nenhum é melhor do que o outro”. Entende que a cultura seja dinâmica. “Hoje há maior e mais possibilidade e a tecnologia está mais avançada em relação à do passado”. “Para os menos atentos serei crucificado, para os mais atentos, vão entender.”
Perfil
Joaquim Lopes da Silva Neto, de 45 anos, é natural de Catumbela, Benguela. O pseudónimo Flay surge do diminutivo de Flávio. Na tentativa de adoptar um nome artístico, optou por consultar o dicionário de inglês. “To fly’ quer dizer voador e permaneceu o Flay, mas escrito ‘à língua portuguesa, até hoje todos o tratam assim.
Está ligado às artes desde os oito anos, começando na dança, depois em grupos carnavalescos. Fundou a banda Voga que actuou, durante cinco temporadas, com Jacob dos Kassav.
Tem gravados seis álbuns; ‘Com doçura’ em 1998; ‘Catumbela meu Berço’ em 2001; ‘Lições da Vida’ em 2004; ‘Desabafo’ em 2007; ‘Sempre Firme’ em 2012; ‘Flay 20 anos, de Catumbela para Luanda’ em 2014.
Participou dos projectos ‘Pomba Branca’, ‘Somos de ti natureza’ e ‘Bibiri.
Este ano foi homenageado em Benguela pela rádio Benguela e em Cacuaco juntamente com Fedy.
É director da Banda 21 de Janeiro, da Força Aérea.
JLo do lado errado da história