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NTONI A’NZINGA PREOCUPADO COM COMBATE À CORRUPÇÃO E COM AS ELEIÇÕES

“Nunca houve transparência em Angola”

09 Feb. 2022 Economia / Política

RELIGIÃO. Reverendo Ntoni A’Nzinga tece duras críticas à governação, por causa da “falta de transparência” no combate à corrupção, receia haver “intolerância política” e crítica o acordo entre o Governo e a Igreja Católica.

“Nunca houve transparência em Angola”

O reverendo Ntoni A’Nzinga critica, em entrevista à Rádio Essencial, a governação angolana por “nunca ter sido transparente” na forma como conduz o processo do combate à corrupção e que “não tem resultados significativos na vida dos angolanos”.

Reverendo da Igreja Evangélica Baptista de Angola (IEBA), Ntoni A’Nzinga lembra que foi entre os anos 1980 e 1990 que se criou a primeira instituição especializada no combate à corrupção e nunca se chegou a nomear a entidade que a poderia liderar. “Estão a combater a corrupção com a mesma PGR que não fez nada desde as decisões tomadas a nível do congresso do partido (MPLA) e do Parlamento”.

Ntoni A’Nzinga critica ainda a forma como, “coercivamente”, se têm retirado os bens a alguns empresários, sem explicações. “A transparência é regra da democracia, falta isto em Angola desde o início, apesar de todo o barulho que temos feito”, sublinhou. Como exemplo da falta de transparência, questiona-se sobre o destino dos “milhões recuperados pelo Estado”, ao mesmo tempo que Angola continua a “recorrer ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e ao Banco Mundial para empréstimos financeiros”. Por isso, reafirma “não haver clareza”. “Posso aceitar que têm recuperado alguma coisa, mas o meu problema é que não se declarou o total que foi roubado.”

Além da corrupção, o reverendo chama a atenção para a “intolerância política” que, para ele, “ganhou força em todo o país ao ponto de as pessoas não pensarem que é intolerância quando se encontram numa situação de intolerância”. Para reforçar a ideia, Ntoni A’Nzinga alerta que se chama “intolerante aquele que exprime as suas ideias e pensamentos e tolera quem abusa do poder do Estado.

O líder religioso critica igualmente o comportamento dos políticos, considerando que os partidos, em Angola, “não estão ao serviço do povo”, que todos eles “lutam apenas para alcançar o poder” e que se “transformaram em espaços de controlo de poder”.

O papel da Igreja Católica e as relações desta com o Governo mereceram fortes críticas de Ntoni A’Nzinga. O reverendo garante que ainda aguarda por explicações do executivo e da hierarquia católica para justificar a renovação da Concordada. Ntoni A’Nzinga entende que o Governo não está a tratar todas as igrejas em pé de igualdade e, caso não haja explicações formais, admite que a IEBA possa apresentar um protesto ao Governo.

Ntoni Nsinga foi o convidado do Programa Essencial Entrevista, da Rádio Essencial, transmitido às terças-feiras, depois das 17.30 com reposição quarta-feira, depois das 9 da manhã.