Legalize, cantor, apela a incentivos do Governo

“O artista tem de se preocupar em fazer arte”

MÚSICA. Com 15 anos de carreira, Legalize tem fortes influências dos músicos David Zé, Urbano de Castro, Artur Nunes e Sofia Rosa. Critica o Ministério da Cultua pela falta de incentivos para os artistas e defende a criação de festivais de semba e kizomba, para maior valorização do estilo.Tem dois álbuns gravados e pretende lançar duas músicas ainda este ano.

 

“O artista  tem de se preocupar  em fazer arte”

Como surge o nome ‘Legalize’?

Surge porque uma menina, em Portugal, passou a chamar-nos legalizem, porque erámos migrantes clandestinos. O meu nome, Lito, era muito artístico e, a determinada altura, senti a necessidade de adoptar um outro. E ficou Legalize.

Como foi a adaptação em terra lusa?

Quando se faz arte e bem, nem se sente muito, até os racistas esquecem-se da xenofobia e aplaudem. Senti mais o racismo na construção civil, nos restaurantes e navios em que também trabalhei. Na música, não senti nada disso. Graças a Deus, estive sempre em grandes palcos, discotecas e bares.

Em 15 anos, quais são as suas referências?

Os mais velhos com quem aprendi muito, como o malogrado Bangão, Carlos Burity, Lulas da Paixão, Calabeto, mas sem desprimor aos mais novos, porque encontrei a Patrícia Faria, Yola Semedo, Yuri da Cunha, Ary, Kyaku Kyadaff, Matias Damásio, Maya Cool, entre outros muito bons. Temos bons valores. É só saber estimular.

Como vê a música angolana?

Não está bem, por falta de divulgação. Não digo internacionalmente, porque tudo começa aqui dentro. As músicas mais relevantes de um país têm direito a festivais, como se faz com o samba, fado, pop, reggae, rock entre outros estilos. Aqui também devíamos fazer o mesmo com semba e a kizomba, para valorizar o que é nosso.

Os artistas reclamam?

O ministério da Cultura não organiza nada. É só nome.

Tem de ser o Ministério a organizar? 

Não necessariamente, mas deve criar políticas que proporcionem trabalho aos artistas. Por exemplo, os hotéis tinham de ter um artista nacional a prestar algum serviço, mas tinha de ser de lei. Eu, artista, não posso pegar na minha viola e ir cantar no hotel, posso ser preso. Os centros recreativos viraram igrejas e armazéns. Não estou a pedir que os espaços antigos voltem, mas que se criem espectáculos de 15 em 15 dias, com uma variedade de artistas. Todos teríamos espaço para actuar e lucrar.

Falta divulgação?

O Ministério devia fazer mais. Acho que é o único que tem capacidade de organizar eventos culturais de grande dimensão.

Fala muito em incentivo e estimulo…

O artista tem de se preocupar em fazer arte, ter inspiração e coisas que tocam o âmago das pessoas. Existem muitas barreiras que o artista não entende. Há artistas que só são convidados nas actividades de massa de seis em seis meses. Como vai sobreviver? Se nem os direitos do autor funcionam.

Os associados à Sadia e à Unac não apresentam reclamações?

O que a Unac faz ou deixa de fazer não chega ao meu conhecimento. O direito do autor não funciona, é algo muito oculto. Já ouvi que alguns artistas foram beneficiados, com algumas consultas subvencionadas pela UNAC, mas devia fazer mais.

É normal, depois de estar no topo, o artista pedir apoio para curar uma doença?

Tem de saber gerir. O apoio não é para o fim de carreira. Pedimos incentivo à arte, enquanto estamos no activo. Em Portugal, através da Sociedade de Autores, recebo pelas minhas músicas. Lá respeitam-se os direitos do autor. Em Angola, Teta Lando fez acontecer a pensão dos músicos com mais de 60 anos, mas, antes disso, ninguém recebia nada.

A nossa música tem influências externas. O que pode isso trazer de positivo ou negativo?

De negativo não tem muito. A música evolui. Falta mais incentivo, o que não significa dar dinheiro aos músicos. Não. Tem que ver com a criação de espectáculos, de fábricas de disco.

Para quando o lançamento de novas músicas?

Estou a gravar com o Livongh, na Tudo ou Nada Produções. Estou a pensar em tirar, pelo menos, duas músicas ainda este ano. Tenho feito espectáculos, mas a carreira está bem.

‘Obreiro’ de sucessos

Natural de Luanda, António Demóstenes dos Santos Neto, de 48 anos, é pais de oito filhos. Tem dois álbuns: Deus vive, gravado em 2003, e Mulundu, gravado 10 anos depois. É considerado o obreiro da versão do grande sucesso ‘Gajajeira’, de Urbano de Castro. Tem sucessos como Ndengue da banda’, ‘Dreadlock na city’ e conta com participações, entre outros, de Prince Wadada, ‘Reggae Negro’, ‘Mãe Angola’. Com fortes influências de David Zé, Urbano de Castro, Artur Nunes e Sofia Rosa, fez parte dos grupos ‘Sembaregaae’ fundada por Ney Corte Real, do movimento ‘Fãkambareggae’.