O AUTOPROCLAMADO NOVO GUIA IMORTAL
Antes de mais, uma confissão de desinteresse. Ouvir o Presidente João Lourenço, na maioria esmagadora dos casos, é brutalmente maçante. Chega a aproximar-se de um atentado contra a sanidade de qualquer ser razoavelmente consciente. É seguro pensar, aliás, que somos uma gota no oceano entre os angolanos invariavelmente tomados por uma espécie de angústia depressiva sempre que o Presidente fala.

Por altura da campanha eleitoral passada, por exemplo, um dirigente do MPLA actual confidenciou-nos que, “quando o Presidente fala com o coração, o coração de muitos militantes fica na mão”. Era uma referência aos embaraços que se tinham tornado marca nos improvisos de João Lourenço, pontuados sistematicamente ora pela inapelável contradição, ora pela perturbadora ausência de nexo. Desengane-se, portanto, quem pensa que apenas os críticos e os opositores de João Lourenço são varridos por tamanha aflição vezes sem conta.
Esta semana, não foi diferente. Em mais uma conversa com uma televisão estrangeira, João Lourenço brindou o país com um colossal ensaio sobre a irreflexão e a incongruência.
O tema – outra vez – a sua sucessão na Presidência da República. Sem a menor consciência de que em Angola se realizam eleições com vários partidos ou desprezando simplesmente o facto de que estas acontecem, João Lourenço reclamou para a si o direito divino de escolher o seu sucessor. Tão abusivo e anedótico quanto isto é o seu argumento que é, em si, a negação do argumento. João Lourenço julga-se mais capacitado do que qualquer cidadão angolano para decidir quem deve governar o país a seguir a ele. Em momento algum lhe trespassou o menor laivo de lucidez para refazer o discurso e afirmar de modo categórico que o poder de escolher o Presidente da República pertence única e exclusivamente ao povo. Nada disto. Nem pouco mais ou menos. Nem mesmo quando referiu de forma enganosa que respeitaria o estatuto do seu partido e a Constituição da República. Num ápice, o autoproclamado empregado do povo autoproclamou-se o guia imortal do povo. De repente nada mais vale, salvo o que ele pensa em silêncio. O tal silêncio que, por sinal, o leva a navegar no mar das contradições insanáveis como, outra vez, o demonstrou ao referir-se ao que deve ser o perfil do próximo Presidente.
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