ANGOLA GROWING
EZEQUIEL PEDRO, REALIZADOR

“O cinema não tem pessoas sensíveis, capazes de aceitar projectos”

08 May. 2017 Marcas & Estilos

CINEMATOGRAFIA. Há 30 anos no cinema, e com mais de 10 filmes e documentários realizados, Ezequiel Pedro confessa não ser fácil filmar em Angola. A “falta de sensibilidade e o desprazimento pela arte” são os principais motivos. Apesar disso, consegue superar as dificuldades. E prepara a estreia do documentário ‘Histórias do Deserto’.

 

Aos 50 anos, Ezequiel Pedro tem a sua vida dedicada à realização de documentários. A paixão pelo cinema começou cedo. Com 20 anos, por iniciativa do Instituto Angolano de Cinema, o autor do ‘Comboio da Canhoca’ partiu para Cuba onde se formou em Produção de Cinema e de Televisão. Ao regressar a Angola vê o sonho de realizar filmes quase que destruído, pois o Laboratório de Cinema acabava de ser exterminado.

Foi então que passou a ver a ficção como uma “ilusão”, o que o ‘forçou’ a trabalhar na realização de documentários. “Enveredei no documentário porque a ficção é uma utopia, ninguém dá dinheiro para produzir um filme em Angola. Mas se aparecer um estrangeiro a produzir um filme, no país, vai surgir dinheiro até em fundos próprios”, justifica o realizador.

Quadro do cinema angolano, Ezequiel Pedro afirma que, outrora, havia mais oportunidades de gravação e produção de filmes. “Hoje não conseguimos produzir um documentário por ano. Por falta de sensibilidade e por não se conseguir pôr as pessoas certas nos lugares certos, como resultado existe um certo desprazimento”, confessa.

O cineasta recorda que, ao tempo do partido único, o cinema tinha sempre um orçamento. E os projectos eram aprovados e financiados de dois em dois anos. Ezequiel Pedro lamenta o facto de isso não acontecer nos dias de hoje. E culpa o Instituto Nacional de Cinema e o Ministério da Cultura por terem dificuldades de aprovar um projecto cinematográfico.

Apesar de acreditar no profissionalismo dos colegas, o realizador reconhece que o cinema feito em Angola ainda é muito ‘arrojado’, “não tem pessoas sensíveis e capazes de aceitar projectos. O cinema requer dinheiro e, se não há dinheiro, não há filmes com qualidade”.

Por ser uma das artes mais caras Ezequiel Pedro defende que , para não permanecer dependente de patrocínios, se criem políticas de protecção para salvaguardar o seu desenvolvimento. Por outro lado, tem esperanças que as próximas gerações de criadores “vão encontrar um local limpo e bem iluminado”. Namibe em documentário A proposta do documentário ‘Histórias do Deserto’ surgiu com o objectivo de retratar, de forma cinematográfica, as potencialidades da província do Namibe. Em causa está o turismo, agricultura, a beleza do deserto e do mar, entre outras riquezas que a terra da Welwitschia Mirabilis oferece.

Com o apoio do Ministério de Hotelaria e Turismo e do governo do Namibe, a realização do documentário ‘Histórias do Deserto’, ficou avaliada em 258 mil dólares e a sua finalização está prevista para Julho deste ano.

O seriado segue numa das fases mais ‘perigosas’ da sua realização, a pré-produção. Toda a equipa envolvida no projecto está na ‘luta’ da selecção de locações e de todas as áreas que possam dar garantias de que o Namibe é um potencial em todas as vertentes, não só do ponto de vista do deserto e do mar. Segundo o realizador Ezequiel Pedro, as gravações terão a duração de 40 dias, e vão poder contar com sugestões do público a fim de se tornar o conteúdo do documentário “mais enriquecido”.

 

Filmografia

 

O comboio da Canhoca

Quem faz correr Quim Caravana

O grito I

O grito II

O grito III

Sabor a mim

Os Kamussekele

Os Himbas

Os Autóctones do sul de Angola

Okavango – Zambeze

 

PERFIL

 

Ezequiel João Sebastião Pedro é formado em Cinema e Televisão pela Escola Internacional de Cine e Televisão de San António de los Baños, em Cuba. Actualmente, trabalha como realizador de documentários na Televisão Pública de Angola. É coordenador do curso de cinema, rádio e tv da Escola Nacional de Formação Artística (DINFA), em Luanda. Também é membro do novo cine latino-americano e integrante da rede internacional Laureate. Representou Angola na produção e realização do maior filme de África, intitulado ‘Caravana’.