O criador da ‘ex-libris’ da indústria automóvel italiana
INDÚSTRIA. Giovanni Agnelli foi visionário que ergueu fábrica que não se limitou a automóveis: produziu também aviões, armas e submarinos. Contactos políticos ajudaram a gerir marca italiana de maior sucesso mundial.
Quando Giovanni Agnelli resolveu visitar a União Soviética, um país comunista que rejeitava a iniciativa privada, estava longe de imaginar o que esse passeio viria a significar. Em Itália, não faltaram polémicas com o empresário a entrar na lista de suspeitos do regime fascista, liderado por Benito Mussolini, que emergia. O mundo estava à beira de mais uma guerra mundial. Essa visita, em 1932, viria a ter reflexos anos depois. Mal acabou a II Guerra Mundial, em 1945, a fábrica, que Giovanni Agnelli criou, foi convidada pelo governo de Moscovo a erguer a indústria automóvel num país devastado pela guerra. Os italianos conseguiam o monopólio e colocar a sua FIAT a construir, sozinha, o parque da indústria automóvel soviética. Nascia assim o famoso Lada, um carro destinado a toda a gente e que se tornou um símbolo icónico da URSS.
Giovanni Agnelli consolidava assim um sucesso internacional que se aliava ao que já tinha alcançado em Itália. Nessa altura, já tinha montado um dos maiores complexos industriais do mundo. Anos antes, em 1899, um grupo de ricos, entre empresários e herdeiros de fortunas, criou a Fabbrica Italiana Automobili Torino (FIAT), emtusiasmados com as novas tecnologias da altura e dispostos a enfrentar a pujante indústria automobilística francesa, que já contava com marcas como a Renault, Peugeot e Citroen.
A ideia inicial da FIAT, no entanto, passava por entrar no competitivo mundo de carros de corrida, numa altura em que, para a generalidade dos italianos, um carro ainda era simplesmente uma carruagem sem cavalos ou um luxo inalcansável.
Nos primeiros tempos, a fábrica de automóveis, montada como uma cooperatica, contava com Giovanni Agnelli como secretário. Que cedo passou a defender outros rumos para a indústria, nomeadamente com a produção em massa de carros e de motores automóveis.
Um ano depois da fundação da fábrica, Giovanni Agnelli surgia como director e, mais tarde, em 1920, tornava-se presidente, começando a aplicar os seus conhecimentos de engenharia.
A primeira fábrica da FIAT abriu em 1900 com 35 funcionários e construiu 24 carros. Conhecido desde o início por ter talento, aliou-se à criatividade da equipa de engenharia. Em 1903, já apresentava lucros e produziu 135 carros; em 1906, saltou para os 1.149 carros.
A empresa entrou na Bolsa de Milão. Giovanni Agnelli começou a comprar todas as acções e ia gerindo a gestão com os problemas e reivindiações laborais. No início da I Guerra Mundial, a empresa saltou do 30.º para o terceiro lugar da indústria italiana. Além de automóveis, entrava na indústria pesada, produzindo armas, navios de guerra, motores para submarinos, aviões e ambulâncias. Hoje, está presente em 161 países, com 1.063 unidades que empregam 223 mil pessoas, 111 mil das quais fora de Itália. Deixou de ser uma empresa meramente italiana e pertence à Fiat Chrysler Corporation e é presidida por John Elkanan, um neto de Agnelli, mas de origem norte-americana. A sede mundial continua a ser em Turim.
Giovanni Agnelli nasceu em Villar Perosa, uma pequena cidade perto de Pinerolo, Itália. O pai dirigia o município e morreu aos 40 anos, quando Giovanni tinha apenas cinco anos. Estudou num colégio privado católico e depois abraçou a carreira militar, através da academia, até 1893. Seguiu os passos do pai e tornou-se líder municipal em 1895 e senador em 1923 (cargo que ocupou até sua morte, acumulando com a direcção da FIAT).
Apesar de ter lançado as bases para dominar a indústria automóvel também na União Soviética, Giovanni Agnelli viria a morrer em 1945, sem assistir ao grande sucesso de uma marca que rapidamente ultrapassou as fronteiras de Itália.
Na linha da sucessão, seguiu-se um neto, também chamado Giovanni Agnelli, mas apenas em 1966. Nesse ‘intervalo’ de 20 anos, a empresa foi gerida por Vittorio Valleta. Os membros da família continuam a integrar os conselhos de administração da empresa, mesmo com polémicas.
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