“O futebol angolano não tem estrutura para uma liga”
DESPORTO. Trouxe experiência de jogador para gestão desportiva e, nessa condição, não tem dúvidas em apontar debilidades do futebol angolano. E também do Petro que Sidónio Malamba reconhece ter perdido terreno nos últimos anos.
Como é ser director para o futebol do clube com mais títulos em Angola?
É uma grande responsabilidade gerir um clube como o Petro de Luanda e também gerir as relações humanas com os jogadores e a equipa técnica.Mas, apesar da inexperiência nos primeiros anos como dirigente desportivo, a experiência, como jogador, ajudou-me.
O futebol angolano tem estrutura para ter uma liga?
Acredito que não. É muito difícil termos uma liga, porque requer e exige muita organização em todas as áreas, como treinadores, gestores e jogadores. Mas é preciso começar e, quem sabe, as coisas começam a melhorar para chegar a um nível aceitável.
É difícil negociar com jogadores?
É muito difícil, tendo em vista a situação do próprio país, além de questões culturais. Ainda assim, devemos adaptar-nos de acordo com a nossa realidade.
O jogador angolano já vive do futebol?
Uma pequena percentagem já vive da modalidade. O custo de vida em Angola é muito alto, mas, à medida que as coisas vão passando com maior naturalidade, a vida dos atletas vai melhorar.
O que falta no futebol angolano?
Muita coisa. Quando nos profissionalizarmos nas infra-estruturas, nos recursos humanos e noutras áreas do saber, o futebol angolano vai ser respeitado.
Jogou no ASA, no estrangeiro e terminou a carreira no Petro de Luanda. Qual é o seu clube do coração?
Costumo a dizer que não existe clube do coração. É um mito que se criou. Nasci e cresci no ASA, foram muitos anos e também muitas conquistas, amizades e tenho um carinho muito grande pelo clube. Sempre fui fã de Mendinho, que jogava no Inter, mas, como morava no bairro Popular, o sonho era jogar no Petro de Luanda e consegui concretizar esse objectivo. Terminei bem a carreira e não fiquei insatisfeito por ter deixado de jogar, apesar de poder jogar mais dois anos. Quando terminei, a situação financeira não estava tão boa como nos dias de hoje, mas não era má.
Quem é o jogador do Petro mais bem pago?
Infelizmente, não posso responder a pergunta. Mas posso dizer que não existe um atleta mais bem pago. O pagamento é feito por níveis A, B e C. Os do lote A são os mais bem remunerados, aqueles que são internacionais, conquistaram títulos e são titulares regulares. O B é pouco abaixo deste nível, enquanto no C, estão aqueles que subiram de escalão de júnior para sénior e começam a dar os primeiros passos. Podem passar para outros níveis tendo em conta a sua prestação.
Há sete anos que o Petro não conquista um Girabola. O que se passa?
Apesar de ser o clube mais titulado do futebol angolano, são muitos anos de jejum sem vencer, mas estamos a trabalhar. São fases e a situação económica deteriorou-se. Estamos a traçar todas as linhas para que possamos rapidamente ultrapassar este cenário. Também estamos a trabalhar para melhorar as infra-estruturas, ponto em que fomos ultrapassados pelo 1.º de Agosto. O Petro deixou de ser um clube patrocinado pela Sonangol e passou a ser da Sonangol. Tem a maior responsabilidade de melhorar em todos os aspectos.
Como vê a juventude angolana?
A juventude tem-se degradado à medida que o tempo passa, muito por culpa dos níveis sociais que Angola vive. Perde-se nos aspectos culturais e mais coisas. Acredito, com grande vontade e empenho do Governo, as coisas podem melhorar na saúde e educação para que os jovens não se percam.
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