“O músico tem de ser transversal, versátil e deve viver o momento”
MÚSICA. Autor de ‘Carolina’, ‘Mãe Pátria’ e ‘Silêncio’, Mago de Sousa conta já com cerca de 20 anos na música, mas só agora vai lançar o primeiro álbum a solo, ‘Minha Travessa’, previsto para Setembro. Investiu mais de 70 mil dólares, num disco produzido entre Luanda, Portugal e França.
A que se deveu o adiamento do lançamento do álbum?
Estive envolvido em muitas actividades, desde ‘tournées’, e participei em quase todas as campanhas do processo eleitoral, com a música ‘Mãe Pátria’. Isso fez com que não tivesse muito tempo para me dedicar ao lançamento do disco. Mas é provável que até Setembro deste ano seja lançado. Sou o financiador dos meus trabalhos. Dependo exclusivamente da música. Esteve em causa a falta de financiamento.
Fez a música com esse propósito?
Na realidade, compus ‘Mãe Pátria’ há já algum tempo, muito antes das eleições. Compus com o intuito de puxar mais pelo meu sentido patriótico e tocar nas televisões. As pessoas receberam bem. As eleições foram mais um trampolim para a minha carreira.
Três anos é tempo razoável para que tenha um álbum maduro?
O meu disco é intemporal. Se ouvir, vai dar conta que é fora do comum. As músicas ‘Carolina’, ‘Mãe Pátria’, ‘Saudades’, ‘Silêncio’, entre outras, vão ficar para a vida toda, não morrem com o tempo.
Vamos encontrá-lo noutras vertentes?
Algumas vezes, recebo críticas por participar em músicas diferentes das que faço, mas o músico tem de ser transversal, versátil e viver o momento. Já criei a minha patente. Pensam que já tenho três discos, mas só estou no primeiro, fruto de muito trabalho e do respeito conquistado pelo público.
É músico de um público específico?
Sou generalista, mas sinto que estou mais para a faixa dos adultos, muito pelas mensagens passadas.
Como vê o actual estado da música?
Está num bom momento, mas a juventude abaixo dos 25 anos deve entender que as coisas não se conseguem da noite para o dia. Eles querem entrar na música, mas já querem estar em todos os programas de rádio e televisão. No Brasil, por exemplo, para um artista entrar num grande programa, tem de fazer por merecer. É necessário ter maturidade e humildade para encarar a fama. Os concursos de interpretação e imitação são a prova da qualidade da música.
Até que ponto é bom para o artista receber patrocínios?
Dinheiro é sempre bom, nunca é mau receber! Mas a valorização e entrega de algo que conseguimos por mérito próprio não é o mesmo de quem consegue o bolo na bandeja. É só olhar para aquilo que é a minha figura, sou simples e não tenho muitas frescuras e emoções. Durante o tempo em que estou na música, a vida ensinou-me a trilhar caminhos que hoje consigo valorizar e reconhecer cada sacrifício. Sempre que lanço uma música depois de, pelo menos, dois meses, elas batem sem ter de pagar a alguém para a tocar. Tenho de agradecer às rádios pelo apoio que me dão. Canta há cerca de 20 anos, mas só agora ‘explodiu’… Presenciei a revolução da música angolana, vi o ascender de vários artistas, por isso é que muita gente, mesmo no circuito dos artistas antigos, tem alguma consideração, porque presenciou a minha caminhada. Nunca fui de romper barreiras para estar no pódio...
O que motivou o fim do grupo ‘Originais’?
O ‘Originais’ tinha uma matriz, em que cantava mensagens apelativas, canções de fé e esperança, mas a música depende muito da sorte e da possibilidade. Gravámos um disco. O grupo lutou até aonde deu. É necessário que haja sinergias, um conjunto de factores, combinações e interacção entre os colegas. E chega uma altura em que, caminhando sozinho, se consegue alcançar outros patamares. Aproveitei para fazer algumas formações. Não fui o primeiro a sair do grupo, cada um tinha um projecto. Já foi tido como morto… Caiu-me muito mal, porque coincidiu que, no mesmo dia em que foi divulgada a informação, estava com o telefone desligado e causou um alvoroço na família.Tudo isso é fruto da fama. Quem está neste mundo corre esse risco. Antes da fama, ninguém falava de mim, só depois é que os rumores sobre mim surgiram, inclusive já ouvi dizer que sou filho de ministro.
Como se deve gerir a fama?
Tem altos e baixos. A velocidade com que lancei ‘Carolina’ não é a mesma que tenho agora. É necessário que o artista saiba viver às escuras e na luz e conhecer o seu momento, respeitando o dos outros. O artista que fez sucesso há dez anos não é o mesmo que está a bater hoje. Nem toda hora é para ser o ‘homem do momento’. O sucesso é o momento! Temos de respeitar os kotas, cada um deve saber e conhecer o seu lugar, é importante não confundir o facto de estarmos a dividir o mesmo palco.
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