O PRESIDENTE E A ESCOLA DA FOME

20 Nov. 2024 Editorial

Embora tardia, não é uma notícia má. Pelo contrário. O Presidente João Lourenço finalmente deu a entender que está em fase avançada na curva de aprendizagem sobre o reconhecimento da fome. Melhor dito, sobre a existência da fome em Angola. Foi um processo longo e doloroso. Demorou o tempo de um mandato e, com isso, mais do que tempo, perderam-se e perdem-se vidas. Em 2019, João Lourenço não sabia que existia fome no país em que é governante pelo menos desde os 29 anos (hoje tem 70). Disse-o à portuguesa RTP. Dois anos depois, em 2021, perspectivou a fome como sendo relativa. Afirmou-o aos militantes do seu partido num comício. Agora, em 2024, foi comprometer-se, no Brasil, a erradicar a fome até 2030.

O PRESIDENTE E A ESCOLA DA FOME

Naturalmente, esta é a parte má da notícia. E as razões são por demais óbvias. Se o Presidente precisou de cinco anos para perceber que existe fome, não poderá certamente combatê-la em seis anos.  Não há rigorosamente nada que ele possa fazer para concretizar o novo desejo. Nem com ‘kwendas’, nem com magia, nem com feitiço. É muito mais fácil encomendar mais um executivo Bombardier ou mais um 787 Dreamliner com suites presidenciais, salas de jantar e mesas de jogo. Para combater a fome, o tempo de aprendizagem do Presidente foi excessivo e a elaboração de planos de combate à miséria, à escala de país, leva tempo. Testemunhámo-lo todos há bocado com os famigerados ‘Planas’. Ainda em 2023, o defenestrado e agora recuperado Manuel Nunes Júnior dizia que o Planagrão constituía “uma das principais linhas orientadoras para o alcance da auto-suficiência alimentar”. Destacado teórico e executor do ‘revisionismo lourencista’, pelo menos antes de ser afastado do convívio na Cidade Alta, o então ministro de Estado para a Coordenação Económica raramente perdia uma oportunidade para se referir aos Planas. Instalados apenas um ano depois, não há mais um ministro que fale em ‘Plana Isso’ ou ‘Plana Aquilo’. Nem o substituto de Manuel Nunes Júnior. Talvez pela sua experiência mais financeirista, José de Lima Massano lembrar-se-á poucas vezes da principal linha orientadora para o alcance da auto-suficiência alimentar. Estará mais focado no câmbio, nas taxas de juro, na inflação e nos números das finanças públicas. 

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