“O xadrez não é caro e não gasta rios de dinheiro”
DESPORTO. Criada em 1999, a escola Macovi aposta forte na massificação do desporto nas comunidades. Além de o xadrez ser o cartão-de-visita, dispõe de outras modalidades como ciclismo, futebol salão, karate-dó, andebol, judo e basquetebol. Correia Victor Mbeco não esconde a satisfação pelo sucesso, mas gostaria que o xadrez fosse mais apoiado.
Como está a escola Macovi?
Em fase de reorganização. A massificação continua, apesar de perder as melhores atletas de Angola e de África. O sucesso reside no espírito de dinamismo, criatividade e força de vencer, apesar das dificuldades. A Macovi foi criada a 25 de Julho de 1999, fruto de um projecto que reunia membros da antiga associação Clube de Amigos do Uíge em Xadrez e surgiu a ideia de criar a Escola Macovi. O nome é uma forma de homenagear o meu falecido avô, Manuel Correia Victor. Temos núcleos no Uíge, Lubango, Lunda-Sul, Malanje e Cunene.
Continua com o projecto da massificação de xadrez nas escolas?
Vai indo, mas não como pretendíamos. A partir dos três, quatro anos, as crianças já podem dar os primeiros passos no xadrez. Levar o xadrez a todas as escolas é o nosso principal objectivo, em parceria com a Associação Provincial de Luanda. A modalidade já começou a ser uma disciplina em duas escolas. Mas a ideia é chegar a toda a província. O projecto pretende chegar a todas as escolas de Luanda, depois do lançamento na escola 612-C, junto ao ‘Hospital dos Queimados’, que começou em 2014. As aulas são leccionadas em dois períodos, de manhã e à tarde. O programa pretende criar nos alunos hábitos de pensar a longo prazo, incentivá-los a gostar da modalidade e a descobrir novos talentos.
Como foi o processo de Esperança Caxita?
Infelizmente, ela e mais três xadrezistas, Maria Domingos, Delfina António e Domingas Tavares, deixaram de fazer parte da escola. Estão a crescer e têm objectivos de vida e a escola não está em condições financeiras para as manter. Houve uma boa proposta do Progresso do Sambizanga. Em troca, recebemos dinheiro que foi utilizado para a compra de um autocarro. Vai ser difícil, mas estamos a trabalhar e a preparar outras campeãs. Com o nosso espírito de dinamismo, criatividade e força de vencer, vamos conseguir ter boas xadrezistas e elevar o sucesso que a escola já ganhou.
Macovi não vive só do xadrez?
Claro que não. Além de o xadrez ser o cartão-de-visita, temos outras modalidades como ciclismo, futebol salão, karate-dó, andebol, judo e basquetebol, os dois últimos com escalão de formação. Não cobramos nada aos atletas.
Qual é a vossa relação com a federação e associação provincial de xadrez?
Com a federação é nula. Apenas se resume a ser institucional, quando participamos em campeonatos nacionais. Nunca recebemos nenhum tabuleiro e muito menos o autocarro prometido pela actual direcção há quatro anos. A Esperança Caxita não conseguiu o título de Grande Mestre por culpa da federação, porque a atleta não realizou qualquer estágio e jogos de preparação. Ela tem muito futuro no xadrez. Na associação, vai acontecer a renovação de mandatos e estamos expectantes quanto às eleições de forma a dar novo rumo à modalidade em Luanda.
Qual é o estado da modalidade?
Está boa. Mas devia ser ainda melhor, caso surgissem mais equipas. Se os 16 clubes que participam no Girabola tivessem xadrez, o país ganharia muitos campeonatos africanos e estaríamos entre os melhores do mundo. Não é cara, o tabuleiro e as peças podem fazer mais de 20 anos de uso, em relação às outras modalidades que gastam ‘rios de dinheiro’.
Quem é o melhor xadrezista angolano de todos os tempos?
Adérito Pedro. Com maior investimento e acompanhamento de uma direcção coesa, seria o nosso primeiro angolano com título de Grande Mestre. A nível mundial, continua ser o russo Garry Kasparov. A Rússia e a China são países que investem muito na modalidade.
Aceitaria vender a escola Macovi?
Não. A escola Macovi não tem preço. É um projecto que vem da alma. Foi criada na comunidade e vai continuar na comunidade. Temos apoios da administração do bairro ‘Neves Bendinha’ que cedeu o espaço, onde funciona a sede no interior do parque infantil ‘Augusto Ngangula’. Apesar dos apoios da Saigás e Jonce, ainda assim, precisamos, por cada época desportiva, de mais de um milhão de kwanzas. A nossa sala e os escritórios estão em estado de degradação, não há materiais apropriados para aulas de xadrez, como o caso de projectores e computadores, mas, naquele pequeno, espaço temos feito maravilhas.
PERFIL
Nome: Marceliano da Conceição Correia Victor Mbeco
Data de nascimento: 26 de Julho de 1965, em Luanda
Estado civil: Solteiro
Cor: Preta
Hoobies: Internet e passear
Prato preferido: Funje com carne e quizaca
Bebida: Sumos e água
Filmes: Acção Música: Romântica
Modalidade: xadrez
Ídolo: Garry Kasparov
Atletas formadas: ?São muitos. Maria Domingos, Esperança Caxita, Valquíria Rocha, Joseleine Baptista, Domingas Tavares.
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