Oficinas de bairros: um negócio rentável
AUTOMÓVEIS. O negócio das oficinas é o que mais cresce em todo o país. Há cada vez mais carros a circular e também mais avarias e mais acidentes. Não faltam clientes tanto nas oficinas formais, como nas oficinas de bairro, com preços variáveis.
O tempo chuvoso é o mais favorável para os mecânicos. É nesta época que há mais acidentes como despistes, colisões, embates entre viaturas e contra os lancis, mas também perda dos rolamentos, motores gripados entre outros danos. O negócio cresce com a chuva e os clientes precisam de mais materiais.
Nas oficinas informais, os clientes compram as peças nas lojas que o mecânico dá como referência, mas a realidade é diferente para as formais que já oferecem uma gama mais completa. O negócio é rentável, reconhecem os profissionais, mas também tem “bons e maus momentos”.
Localizado no bairro Mártires de Kifangondo, a oficina de Fernando Gonçalves é uma das mais antigas. Mecânico com 60 anos, começou aos 13 como ajudante, e em 1975 criou o seu próprio espaço onde trabalha até hoje. Na oficina, presta-se serviços de pintura, mecânica e bate-chapa e prestação de outros serviços.
Por lá, já passaram vários trabalhadores que beneficiaram de formação. A empresa conta com cinco funcionários, que fazem pintura, bate-chapas e mecânica. Não tem mais funcionários, porque com a crise “não dá para empregar muita gente, porque os clientes também são em menor número”. Em tempos mais favoráveis, chegou a empregar entre 10 e 15 trabalhadores.
Estipular os preços de cada conserto é uma tarefa difícil, porque cada avaria tem um valor próprio, que depende muito da marca de carro, do tipo de cliente (há preços de ‘amigos’) e da própria avaria. Mas, por exemplo, a pintura de um carro médio, como o Kia Picanto, fica por 100 mil kwanzas.
Por semana, pode receber cerca de três a quatro clientes, mas é no final do mês que o movimento se torna mais intenso, em que os clientes aproveitam o salário para arranjar os carros.
Já no local onde trabalha Hamilton da Silva, de 31 anos, na Calemba, em Luanda, um quintal improvisado como a oficina, a especialidade é só mecânica. As tabelas de preços variam também, muitas vezes, conforme o tipo de cliente, o carro e a avaria que o automóvel apresentar.
Hamilton da Silva ambiciona criar uma oficina própria. Apesar de ter apenas o quintal para arranjar os carros, actualmente, trabalha com quatro jovens entre profissionais e aprendizes, num espaço cedido por um amigo que também é mecânico. Em média, recebe dois a três carros por semana.
Para entregar um automóvel pronto, a oficina demora, em média, cerca de três a cinco dias, apesar de também depender muito do tipo de avaria. No caso de haver necessidade se retirar o motor da viatura e reparar, pode demorar no máximo três dias. Do que sabe, explica, Hamilton da Silva tenta transmitir aos mais novos.
O mecânico admite existirem muitos mecânicos que “não são honestos” e que, muitas vezes, entram em conflito com os clientes, porque recebem muitos carros e “depois não conseguem dar conta do recado”. No entanto, lamenta que haja muitos clientes que não pagam o que lhes é cobrado. “A honestidade de um mecânico mede-se pelo número de trabalhos que recebe, tendo em conta o número de funcionários que tem e a disponibilidade”, esclarece. No seu quintal, cobra , por exemplo, pela refinação de um motor de um I10 cem mil kwanzas, enquanto o de um V8 pode chegar aos 500 mil.
A profissão é rentável porque há sempre trabalhos por fazer. “Raramente passamos um fim-de-semana sem trabalho.” Há 15 anos como mecânico, já conseguiu comprar um terreno e está a edificar a sua casa. O pai foi a sua grande influência.
Erivaldo do Rosário é outro jovem que trabalha como mecânico há pouco menos de um ano, no Bairro Popular, numa das quatro oficinas que o seu tio tem espalhadas por Luanda. Formado em mecânica, o jovem de 28 anos espera um dia ter o seu próprio espaço e não hesita em recomendar a outros jovens que sigam esta profissão, mesmo àqueles que “gostam do imediatismo” ou de empregos com mais visibilidade.
BCI fica com edifício do Big One por ordem do Tribunal de...