ANGOLA GROWING
MATÉRIA-PRIMA TEM SIDO A ‘DOR DE CABEÇA’

Oficinas de utensílios de cozinha à beira da falência

15 Sep. 2021 (In) Formalizando

 

ARTESANATO.   Oficinas de panelas, formas de bolos, cafeteiras e frigideiras e loiças de alumínio, a funcionar no Cazenga, em Luanda, poderão fechar as portas devido ao elevado custo da aquisição da matéria-prima. Preços dos discos de alumínio dispararam nos últimos anos, de 2 para aos 39 mil kwanzas.

Oficinas de utensílios de cozinha à beira da falência

Nzolamesso João Pedro trabalha em oficinas de panelas e diversos utensílios há pelo menos cinco anos. Hoje, a gerir a oficina ‘Janeiro Cordeiro’, acredita que uma maior intervenção do Governo na supervisão e fixação dos preços das matérias-primas resultará na aceleração e aumento da produção. “Por exemplo, há umas banheiras que fazíamos e que eram do agrado das camponesas. Em 2015, as banheiras eram 500 kwanzas e hoje estamos a comercializá-las a 5 mil kwanzas. Tudo porque as chapas de disco doze que, na altura, comprávamos a 4 mil kwanzas, agora estão a custar 29 mil kwanzas”, repara, não descartando a descontinuação da produção, face à actual conjuntura económica. Confessando que estão apenas em “biscates”, Nzolamesso Pedro nota que há dias em que não se ganha nada. “Aqui, ganha-se por peça. Se naquele dia a produção for aquém do desejado, poderá sair daqui com mil kwanzas ou mesmo nada no bolso.”

João Bartolomeu de Sousa, gerente da oficina ‘Jó Fogões’, explica que a sua empresa trabalha com dois tipos de materiais, um nacional e outro proveniente da China. A produção nacional chega a custar 2 mil kwanzas/kilo, enquanto a importada é comercializada em disco e os preços podem chegar aos 35 mil kwanzas, razão por que se tem optado mais pela matéria-prima local. “O preço da produção nacional tem sido melhor que da China”, compara.

Quanto aos preços dos produtos finais, estes variam de acordo com a tipologia e a quantidade. O jogo de sete panelas, por exemplo, chega a custar 8.500 kwanzas, enquanto o de cinco panelas ronda os 4.800 kwanzas. Apesar das falhas verificadas pela distribuição da matéria-prima, Sousa acredita existirem esforços por parte dos armazenistas, antevendo “dias melhores”, embora sinta que, a cada dia que passa, as coisas tendem a piorar. “Quando temos muita clientela a produção aumenta e eles [armazenistas] não têm capacidade para nos atender”, engrossa.

Já o responsável da oficina ‘Auto Deolinda Comercial’, António Lopes, sublinha que, devido às dificuldades impostas pela desvalorização do kwanza, o que se produz actualmente serve somente para se remediar. “Os armazenistas, devido ao câmbio, estão sempre a reclamar porque o Governo não os apoia”, conta.

Para Cláudio Mendes, funcionário da oficina ‘Terra Prometida’, as falhas registadas nos fornecedores têm prejudicado o nível de produção, mas, apesar dessas dificuldades, a produção tem sido boa, uma vez que se consegue atender a demanda. “As maiores dificuldades têm sido verificadas quando há maior afluência de clientes na nossa fábrica. Temos feito tudo para suprir a demanda, mas, quando o stock esgota, torna-se totalmente difícil lidar com a situação”, descreve.

Uma posição defendida também por Lucas João, funcionário da Coperme Lda, que entende que se deve dar mais atenção a estas empresas, para não acabarem como outras que, depois de muito lutar, pela desvalorização do kwanza e muito recentemente pela pandemia, acabaram por fechar as portas. “Aqui havia mais de 15 empresas e muitas delas acabaram por encerrar as suas actividades. Há tempos, fomos os fornecedores de panelas dos ministérios da Defesa e do Interior”, argumenta, insistindo que o “Governo deve tentar, pelo menos, dar ouvidos ao clamor dos empresários, sobretudo daqueles que muito ajudaram Angola”.

Em 2019, havia sido inaugurada a CITIC Alumínio (Angola) Co, Lda, na Zona Económica Especial Luanda-Bengo, uma empresa diversificada com foco no fabrico de aço, tornando-se no maior produtor de perfis de alumínio em Angola, com uma produção anual de 10 mil toneladas de vários tipos de perfis. O investimento, na altura, foi calculado em 40 milhões de dólares norte-americanos.