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Governo defende-se que produto continua a entrar

OMC pede anulação de decreto que proíbe importação de cimento

MERCADOS. Angola proibiu a importação de cimentos desde 2014. OMC pressiona para que a decisção seja anulada por violar regras internacionais. Ministério do Comércio garante que a proibição só está no papel, “não é efectiva”, mas protege a indústria nacional.

 

 

OMC pede anulação de decreto que proíbe importação de cimento

Nos últimos anos, Angola tem sido criticada pelos membros da Organização Mundial do Comércio (OMC) por causa de um decreto que proíbe a importação de cimento, mesmo com o Governo a defender-se que o cimento continua a entrar.

A regra geral para os membros da OMC é proibido proibir. Por isso, apesar dos argumentos apresentados pelo Governo, a entidade mundial comercial pede a Angola que anule o decreto, visto que o país pode fazer recurso ao mesmo, por estar em vigor.

Há cerca de um mês, a OMC fez uma análise a meio-termo da política comercial angolana, que é feita de seis em seis anos, e voltou a criticar a existência do decreto. No entanto, admite que Angola teve avanços desde a última análise feita em 2015. Um dos progressos está relacionado com as tarifas impostas, que ultrapassam o tecto das taxas consolidadas pela OMC. Apesar das mudanças na pauta aduaneira em vigor desde Agosto, o país ainda precisa de internamente rever as tarifas. “Algumas taxas continuam acima da média. A taxa consolidada mais alta que Angola tem na OMC está a 35%. E temos taxas entre os 50% e 60%”, observa o orgnanismo.

Desde 2014 que Angola vem proibindo a importação de cimento, com o pretexto de a capacidade instalada do país ultrapassar largamente as necessidades internas e de se tomar “medidas disciplinadoras que visem acautelar a importação desnecessária de cimento, na defesa da produção e da indústria nacional”. Em Abril do ano passado, o decreto de proibição voltou a ser emitido. Apenas três províncias foram a excepção, mas com pedidos devidamente fundamentados.

Angola tem uma capacidade instalada de mais de oito milhões de toneladas/ano. Em 2017 , o consumo cifrava-se em mais de dois milhões.

O director de intercâmbio do Ministério do Comércio, Rui Livramento, entende que não existe uma proibição, mas sim “uma limitação”, que “também não é permitida” pela OMC. A proibição “é uma questão de protecção da indústria nacional”, salvaguarda Rui Livramento, visto que a “importação de cimento mais competitivo por parte de países do sudeste asiático causaria algum dano à indústria nacional e havia necessidade de estancar a importação de cimento”.

O responsável pelo intercâmbio comercial garante que Angola “não utilizou os instrumentos devidos”. Em declarações ao VALOR, à margem de um seminário de capacitação sobre medidas correctivas, Rui Livramento refere que o encontro serve para Angola perceber o que tem a nível do GATT?General Agreement on Tariffs and Trade, conhecido em português como Sistema Multilateral de Comércio, que permite que o país proteja as indústrias, com realce para as nascentes, sem precisar de proibir.

Dentro dos mecanismos do ‘GATT’, existe a possibilidade de limitar a importação durante um período, por causa da balança de pagamentos. Existe também a possibilidade de protecção das indústrias nascentes, como o cimento, por um período de 10 anos, mas não a proibição. Angola também pode solicitar a abolição do artigo que prevê o tratamento igual de produtos nacionais e importados aos países membros da OMC. “Haveria uma descriminação do cimento de fora porque iríamos subsidiar e criar incentivos para que os custos fossem reduzidos e o preço fosse inferior ao praticado”, realça.

Para 2019, o Ministério pondera não utilizar um decreto que proíba ou limite a importação do cimento e solicitar a derrogação na OMC das obrigações enquanto membro.

Autoridade de investigação precisa-se

Angola pode conhecer, nos próximos anos, uma autoridade que proceda à análise do impacto das importações na perda de empregos e que investigue como os produtos importados apresentam preços inferiores de cinco ou 10 vezes mais em relação aos nacionais.

Para Rui Livramento, o país precisaria de um ou dois anos para que a autoridade comece a dar os primeiros passos, mas tem de acautelar questões orçamentais e de capacitação dos membros.