ANGOLA GROWING
FAZEDORES DE BLOCOS ENFRENTAM ‘CONCORRÊNCIA’ DAS FÁBRICAS

Pedreiros em queda no mercado

CONSTRUÇÃO CIVIL. Já foram mais importantes nos bairros de Luanda do que são hoje. Os batedores de blocos, ou pedreiros, sofrem com a concorrência das fábricas que disponibilizam melhores produtos, com preços mais atractivos. Mesmo assim, há quem sobreviva na profissão

O número de fazedores de blocos de forma manual está a perder o impacto que teve há 10 anos, apesar do crescente número de habitações construídas um pouco por toda a parte. Esta queda é, sobretudo, provocada pelas fábricas de blocos. “A qualidade de fábrica é indiscutível e os preços não diferenciam muitos dos blocos manuais”, reconhece quem vive desta profissão.

Se há mais ou menos três anos, os pedreiros ou batedores de blocos eram mais procurados, hoje a realidade é bem diferente. A queda da compra de blocos feitos por pedreiros “desceu muito” desde que surgiram as fábricas e as pessoas se foram habituando a procurar produtos nos mercados formais.

O ‘slogan’ ‘Angola é um canteiro de obras’ veio mostrar a necessidade de aparecerem fábricas de blocos em grande massa. E são elas que, um pouco por toda Angola, vão ‘roubando’ o ‘pão de cada dia’ dos pedreiros ou batedores de blocos que sempre viveram desta prática, sobretudo nos bairros periféricos.

Os clientes, sobretudo empreiteiros, preferem hoje comprar blocos em fábricas, pela qualidade apresentada. O preço é que não diferencia muito do mercado informal e, muitas vezes, é ajudado com o transporte dos materiais, caso o cliente compre acima dos mil blocos.

Nas fábricas como a Concera e a Jean Peng, por exemplo, os preços não diferenciam muitos dos blocos feitos nos bairros.

Os blocos não têm um preço fixo, nos bairros e nas empresas. Varia muito de bairro para bairro. No Morro Bento, por exemplo, ao lado da empresa AAA um bloco de ‘tamanho 12’ (12 centímetros) custa 60 kwanzas. Manuel Epalanca, de 23 anos, responsável pelo fabrico de blocos, argumenta que os preços subiram muito, por causa da crise, mas lamenta a fraca procura. No entanto, está plenamente consciente de que as “fábricas oferecem mais qualidade e melhores preços”.

Apesar da “fraca procura”, Manuel Epalanca consegue gerir o que ganha para sustentar, o que ele chama os seus “vícios”, e ajudar a mãe a sustentar a família que vive no Kwanza-Sul. Sem grandes projectos, quer apenas terminar os estudos e, se for possível, arranjar outro emprego, “menos cansativo”, considera.

Ainda no mesmo bairro, os pedreiros Augusto Simão, de 33 anos, e Chico da Costa, de 32, trabalham nesta área há mais de três anos, mas admitem que tem havido, nos últimos tempos, uma “redução” de trabalho. Antes tinham ‘biscates’ quase todos os dias. Actualmente o número reduziu muito. Há semanas que não têm nada para fazer e aproveitam para se dedicarem a construir as suas próprias casas. É com o dinheiro dos blocos que vão sustentando a família e pagam os estudos dos filhos.

Por cada saco de cimento, os dois batedores cobram 600 kwanzas. Por dia, podem ‘bater, até dez sacos, trabalhando das nove até às 16 horas. Em média, facturam 6.000 kwanzas, por dia.

A profissão, por exigir muita força, uma forte exposição ao cimento e à areia e pelo tempo que dedicam ao fabrico, exige que a “alimentação seja reforçada”, alertam os pedreiros. Todos preferem comer “um bom funge à moda angolana”, mas “sem faltar o feijão e o vinho”. Acreditam que só a comer assim conseguem recuperar o esforço dispendido.

Fazer blocos é uma das alternativas para quem não tem emprego e sabe do ofício. “Estamos aqui pela falta de emprego, é só uma alternativa, para sustentar a família.” Augusto Simão não recomenda está profissão aos seus filhos, por considerar cansativa e prejudicial a coluna e pulmões, pensa que quando não se recebe uma boa alimentação e repouso necessário, o organismo não aguanta. As fábricas como a Concera, além da produção de blocos também prestam outros serviços como o fabrico de abobadilhas, lancil, pavê, lajetas, manilhas, tubos, vigotas, ripas aluga betuminoso para massas asfálticas, aluguer de equipamentos como maquinas para movimentação de terra entre outros.