COM A TRANSFERÊNCIA DE COMPETÊNCIAS DE 10 MINISTÉRIOS

Poder autárquico começa a ser instituído

AUTARQUIAS. Governo de Luanda passa a gerir a Unidade Técnica de Resíduos Sólidos, antes sob tutela da Casa de Segurança do Presidente da República. Outros governos provinciais ficam com mais responsabilidades já com um ‘olho’ nas autarquias.

 

Poder autárquico começa a ser instituído

O Governo deu início, na passada segunda-feira, 29, ao processo de transferência de competências, antes tuteladas por departamentos ministeriais, para os órgãos da administração local, nomeadamente governos provinciais, tendo em perspectiva a evolução para as autarquias.

Nesta primeira etapa, foram eleitos 10 ministérios: o da Saúde, Pescas, Ambiente, Recursos Minerais e Petróleo, Comércio, Educação, Indústria, Cultura, Turismo e Energia e Águas. Estes, doravante, passam algumas das suas competências para os governos provinciais. Posteriormente, passam para os municípios no âmbito da conformação das autarquias.

Nas Pescas, por exemplo, competências como a elaboração de estudos e projectos de desenvolvimento de pesca artesanal; concessão de direitos para a exploração da pesca artesanal continental e a emissão de licenças para a aquicultura comunal passaram agora a estar sob a alçada dos governos provinciais, com excepção dos de Luanda e Namibe.

A partir de agora, pelo menos, 10 províncias, entre as quais Luanda, Benguela, Bengo, Cabinda e Kwanza-Sul, passam a assumir algumas das competências antes realizadas pelo Ministério da Indústria.

Nessa primeira fase, estas províncias vão, entre outros, efectuar o licenciamento de indústrias de proximidade, além de terem o aval de inspeccionar os estabelecimentos industriais das classes 3 e 4, em articulação com a inspecção do sector.

Nos recursos minerais e petróleos, os procedimentos como a emissão de alvarás mineiros para a construção civil e o licenciamento para a construção e exploração de postos de combustíveis com capacidade inferior a 200 metros cúbicos passam a estar ao abrigo da jurisdição dos governos de províncias.

Passam a estar igualmente sob jurisdição provincial a inspecção e fiscalização dos empreendimentos turísticos e a exploração de serviços de baixa tensão, na Energia.

O acto de assinatura dos termos de transferência de competências foi testemunhado pelo ministro de Estado e chefe da Casa Civil do Presidente da República, Frederico Cardoso. Para o próximo dia 20 de Novembro, está marcado o acto de transferência das competências dos governos provinciais para os 164 municípios, durante a feira das cidades e municípios. A prática começa em Janeiro de 2019. Em reacção ao processo em curso, o governador do Bié, Pereira Alfredo, que observa este acto como a confirmação do que já tem sido feito, reforça que é preciso continuar a formar os recursos humanos para que essas competências transferidas se possam reflectir na vida do cidadão.

“Precisamos, sim, de continuar a formar os recursos humanos para que este processo se traduza, efectivamente, naquilo que o cidadão espera de nós, que é melhor prestação de serviço”, realçou o governante, em declarações a jornalistas.

Por sua vez, o governador do Moxico, Gonçalves Manuel Muandumba, acredita que com este processo poderão ser ultrapassados grande parte dos problemas que a província que dirige enfrenta, tendo em conta o conjunto de projectos paralisados que estão sob tutela da administração central.

Norberto dos Santos “Kwata Kanawa”, governador de Malanje, é de opinião que o sector da agricultura é uma das prioridades que deve beneficiar deste processo de transferências para promover a agricultura familiar, através das comunidades, que ainda se encontra muito dependente do Ministério.

UNITA contesta

Já o líder da Unita, Isaías Samakuva, considerou a transferência do poder central para as províncias como sendo uma forma de o MPLA instalar os seus candidatos a autarcas nas primeiras eleições autárquicas de 2020. Segundo o comunicado final das VII Jornadas Parlamentares do maior partido da oposição, que encerrou na passada quarta-feira, 31, em Ndalatando, no Kwanza-Norte, “o objectivo do MPLA com o processo actual de desconcentração do poder central para o local é instalar os seus candidatos a autarcas e, com isso, fazer campanha eleitoral com os meios do Estado”.

Além de Isaías Samakuva, também o líder do grupo parlamentar da Unita, Adalberto da Costa Júnior, comentou a decisão do Executivo, tendo considerado que a medida do Governo “peca por ser tardia em relação às expectativas de desenvolvimento” de Angola.