PORQUÊ A FILHA?
As diferenças de circunstâncias e dos factos não dissimulam as semelhanças. A questão central mantém-se. João Lourenço quase que recorreu ao escárnio para atirar-se contra o seu antecessor que colocou filhos na liderança de instituições públicas importantes. No entanto, não foi preciso chegar a meio do seu último mandato para também, neste particular, exibir a sua face da contradição. Incoerência - insista-se - que se tem destacado sobremaneira entre os traços da sua personalidade política.

Os defensores do indefensável apressam-se hoje a mostrar alegadas diferenças. “Cristina Lourenço foi escolhida pelos accionistas e não nomeada pelo pai para comandar a Bodiva”, alardeiam. Quanto atrevimento!
Isabel dos Santos disse e escreveu em todo o lado que quem a havia proposto para presidente da Sonangol eram os colaboradores próximos do seu pai. Frenética e frequentemente destacou Edeltrudes Costa como o homem-chave por trás da sua indicação. Ninguém lhe dá ouvidos. Se era a filha, Edeltrudes Costa ou quis agradar ao chefe ou foi obrigado a agradar ao chefe. É o que se pensa, mas também é o que se verbaliza. Até em processo judiciais movidos contra Isabel dos Santos, a condição de filha do ex-Presidente foi usada ao limite pelo Estado angolano para condená-la. E José Eduardo dos Santos foi tratado, em algum desses processos, movidos por instituições públicas, como um ditador incorrigível e que a filha se aproveitou necessariamente dessa qualidade do pai.
Parafraseado, Marx já ensinou, entretanto, que a história teimosamente se repete como tragédia e como farsa. Razão mais do que suficiente para antecipar-se que é apenas uma questão de tempo. Os que se acotovelam hoje para dizer que a nomeação de Cristina Lourenço é diferente do que foi a indicação de Isabel dos Santos certamente vão desdizer-se amanhã. Lembrar-se-ão que afinal, tal como José Eduardo dos Santos, por agora, há também um todo-o-poderoso em Angola que, por sinal, é o pai da novel PCA da Bodiva. A historieta de que a escolha foi dos accionistas deixará de ter cabimento. Os defensores do indefensável recordarão que a Bodiva afinal é uma instituição detida largamente pelo Estado angolano, pelo que a palavra do accionista na hora da escolha de Cristina Lourenço terá sido necessariamente a palavra do Presidente-pai.
MAIS UMA ‘BANDEIRA’ DE MASSANO