Presidente fala em poupança, empresários em queda de consumo
IMPORTAÇÃO. João Lourenço destacou a poupança como ganho das novas políticas cambiais. Empresários, no entanto, falam numa redução drástica do consumo e já prevêem falências de superfícies comerciais.
No discurso sobre o estado da Nação, na passada semana, João Lourenço revelou que o país poupou, no primeiro semestre deste ano, 300 milhões de dólares na importação de alimentos, por causa da entrada do novo regime cambial. É uma conclusão que não convence muitos empresários que afirmam que “a poupança não representa aumento da produção, mas a redução do consumo”.
De acordo com o Presidente da República, fruto do novo regime cambial, o país consumiu no primeiro semestre desde ano apenas 980 milhões de dólares, enquanto, no mesmo período do ano passado, foram 1,3 mil milhões, poupando, portanto, 300 milhões de dólares.
Importadores, como o Alimenta Angola, Bem Barato e Angoalisar, admitem que “tenha sido o regime cambial a determinar a poupança”, mas “seja como for, no discurso à Nação, faltou apontar os produtos que o país já não precisa de importar”. “Era necessário sabermos da capacidade de produção e transformação existente, porque, na nossa actividade diária, ainda nos deparamos com a necessidade de comprar divisas para importar, por exemplo, massa alimentar ou arroz, para abastecer o mercado”, observa um executivo da Angoalisar, sugerindo que a poupança destacada pelo Presidente terá resultado, “sobretudo, do baixo consumo”.
“Fazendo um rastreio nas prateleiras das nossas superfícies comerciais, podemos observar que ainda dependemos em pouco mais de 50 por cento dos produtos importados com excepção de alguns tubérculos como a mandioca e hortaliças, o resto ainda tem de ser importado à guisa do alho que ainda vem da China”, acrescenta.
José Severino, presidente da Associação Industrial Angolana (AIA), afirma ter faltado “uma análise mais realista para se saber porque houve essa poupança”, apresentando a hipótese de ter havido uma “redução da massa salarial e, com isso, também recuou em grande medida o consumo, influenciado ainda pela covid-19”.
Luís Feliciano partilha da opinião do líder da AIA. O presidente da Associação Angolana de Comércio de Importação e Exportação (AACIE) não tem dúvidas de que “a poupança não representa um incremento na produção interna, mas sim uma redução drástica do poder de compra, fruto da desvalorização da moeda nacional”.
FALÊNCIA NAS GRANDES SUPERFÍCIES
O vice-presidente da Confederação Empresarial da CPLP também concorda que a redução do consumo terá concorrido para a poupança dos 300 milhões de dólares. Eliseu Gaspar reforça que “a política cambial” também teve influência, prevendo-se, por isso, “um cenário de falência nas grandes superfícies comerciais, porque eram autênticas lavandarias de moeda”. Além de que, “havia uma certa sobrefacturação nos pagamentos das mercadorias na origem, que também nem sempre chegavam ao país em boa qualidade”, afirma.
No ano passado, Sérgio Santos, ministro da Economia e Planeamento, havia referido que “o país vive uma redução das importações, tendo registado, no primeiro trimestre, uma queda à volta de 50% de importações”, e que, no segundo trimestre, “as importações caíram significativamente com base na tendência do aumento da produção nacional”, mas também não avançou números sobre as quantidades que o país produz.
“A Sonangol competia só com as empresas estrangeiras. Agora está a competir...