Primeira fusão na banca gera ?‘conflito interno’ entre colaboradores
BANCA. Diferenças salariais e de outros complementos já estão a criar ansiedades entre ?os colaboradores do banco que surge da fusão entre o Millennium Angola e o Atlântico, ?antes de um mês desde a oficialização do negócio.
Vários colaboradores do ex-Banco Millennium Angola (BMA) manifestaram-se contra uma ordem de serviço da administração do ex- Millenium que prevê a manutenção dos níveis de remuneração no novo banco saído da fusão com o Banco Privado Atlântico (BPA). Os colaboradores vão receber, no ‘Millennium Atlântico’, os mesmos salários e seus complementos, segundo fonte do ex-Millennium que cita comunicações internas. No entanto, os funcionários ex-Millenium mostram-se insatisfeitos com o que dizem ser “falta de paridade”.
“Todas as obrigações contratuais existentes migram de forma automática [para a fusão] ”, esclarece o banco, numa plataforma interna, em resposta à pergunta “Vamos assinar um novo contrato de trabalho?”, formulada pelo próprio banco para explicar aos funcionários questões levantadas pela fusão.
Desde 5 de Maio deste ano, os bancos Millennium Angola e o Privado Atlântico passaram a ser uma única entidade – o Banco Millennium Atlântico – em conclusão ao processo de fusão anunciado no ano passado.
De acordo com um regulamento interno do ex-BMA, no capítulo sobre remuneração, um gerente de balcão recebe o salário de 1.750 dólares, que, ao câmbio de 121,009 Kz fixado pela gestão do banco, chega ao valor de 211.765 kwanzas.
Para os gerentes de balcão do ex-BPA, os vencimentos mensais mínimos foram estipulados em 2.500 dólares e são pagos em kwanzas ao câmbio do dia, segundo a fonte. Ou seja, se um gerente de balcão recebia 2.500 dólares, passa a receber, por exemplo, 427.957 kwanzas (ao câmbio de 171,7 Kz) uma diferença de 102% face aos ordenados praticados pela gestão do Millennium.
As diferenças salariais justificam-se com as diferenças de raiz das duas entidades fundidas, já que o Millenium era vocacionado para a banca comercial, e o Atlântico para o segmento ‘private’, que exigia um conjunto de valências diferenciadas de uma equipa menor.
No entanto, os gestores comerciais do ex-Millenium e demais colaboradores descontentes já pensam em buscar alternativas de emprego.
Em resposta ao VE a nova entidade diz “desconhecer a informação citada e que tem a intenção de aproveitar todos os recursos disponíveis, ou seja todos os colaboradores, seu principal activo estratégico, para financiar as familias, empresas e projectos estruturantes que possam contibuir para o desenvolvimento sustentado da economia angolana”.
“Dizem-nos que, em função da fusão, poderá haver um reajuste nos salários, para todos. Mas o que é verdade é que essas alterações só vão abranger os colaboradores contratados antes de nove de Junho de 2015”, argumentou uma das fontes, citando uma ordem de serviço do ex-Millennium Angola.
Se no escalão de gerentes de balcão a diferença salarial é de 102%, a tendência é ainda maior quando comparada entre os colaboradores de base. No caso do assistente comercial do ex-BMA, por exemplo, foi fixado um salário mínimo de 750 dólares, equivalentes a 90.756 kwanzas, ao câmbio de 121,009 kwanzas. Já no ex-BPA, os assistentes ganham 1.400 dólares, correspondentes a 239.656 kwanzas, ao câmbio do dia 19 de Maio.
A Lei Geral de Trabalho estipula no seu artigo 164º que “o empregador é obrigado a assegurar para um mesmo trabalho ou para um trabalho de igual função, em função das condições de prestação da qualificação e do rendimento, a igualdade de remuneração entre os trabalhadores sem qualquer discriminação, com respeito pelas disposições desta lei”. Sendo que a fusão em causa é recente e não tem precedentes no país, a nova instituição poderá ser obrigada a criar novas categorias salariais para acomodar os funcionários em conformidade com a lei.
'KWANZA FRACO' PRESSIONA SALÁRIOS
Até 8 de Junho do ano passado, os salários dos colaboradores do ex-Millennium eram processados em kwanzas com indexação ao dólar, à taxa de câmbio de 121,009 kwanzas. Cinco meses depois, a comissão executiva decidiu ‘desindexar’ os salários ao dólar e fixou 150 kwanzas como a taxa de referência. Medida justificada com a desvalorização da moeda nacional.
Com essa última alteração, precisamente a 24 de Novembro de 2015, os colaboradores do Millennium passaram a receber os salários à taxa de câmbio de 150 kwanzas, alteração que que só viria a ter impacto nos vencimentos dos antigos colaboradores. Ou seja, os que entraram para os quadros do banco antes de 9 de Junho.
“A nova realidade cambial do país obriga-nos a reduzir drasticamente os custos indexados a moeda estrangeira e, nessa linha, para podermos continuar a desenvolver o Banco Millennium Angola de uma forma sustentada, a gestão do Banco Millennium Angola decidiu, em cordo com seus accionistas, a desindexação dos seus salários dos seus colaboradores ao dólar, a partir do mês de Novembro, fixando a remuneração de 1USD igual a 150 Kz”, informou a comissão executiva, em nota distribuída aos colabores.
De lá para cá, os colaboradores do BMA recebem os seus ordenados em kwanzas, obedecendo a duas taxas de câmbio: de 121,009 kwanzas, para os novos colaboradores e de 150 Kz, para os quadros contratados até 8 de Junho de 2015.
De acordo com a nova entidade (o Banco Millennium Atlântico), a fusão visa “potenciar as forças complementares do Millennium Angola e do Atlântico”. Com a operação, os accionistas, preveem criar um “banco universal incontornável em Angola, servindo com excelência todos os segmentos de clientes” da economia.
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