Primeiro ‘crowdfunding’ angolano arrecada três milhões de kwanzas
Startups. Fundadora da plataforma ganha em cada campanha de ‘angariação’ uma comissão de 5% do montante solicitado para uma determinada causa social. Bantu Markers tem uma centena de projectos em análise e encontra-se na fase de ‘caça’ de talentos.
O primeiro portal de ‘crowdfunding’ angolano de angariação financeira para apoio social arrecada três milhões de kwanzas, com mais de três campanhas iniciadas em Janeiro.
Criado pela ‘startup’ Bantu Markers e denominado Deya, o portal é um espaço em que pessoas individuais e instituições, públicas e privadas, podem dar início a uma campanha de recolha de montantes financeiros para apoiar vítimas de fenómenos nefastos, como a seca, fome, doenças, entre outros males. Além de outras iniciativas que sejam de cariz social, como apoio à educação, ambiente ou ajuda às mulheres empreendedoras.
A plataforma tem três campanhas, em que duas são promovidas por alguns lares de apoio às crianças e associações de ajuda às famílias carenciadas. A outra campanha é sobre a seca no Cunene, da iniciativa da associação dos colaboradores do Mercado de Capitais. Sozinha, essa campanha arrecadou, nos últimos dez meses, cerca de 1,2 milhões de kwanzas, representando cerca de 40% dos três milhões de kwanzas arrecadados no total.
Boa parte dos projectos iniciados em Janeiro terminou no meio do ano. Os mais populares são sobre a seca, bem como sobre o Lar Nazaré e de ajuda a uma menina com menos de um ano, que se encontrava internada no hospital David Bernardino e cujo quadro clínico exigia cuidados não disponíveis naquele hospital público. Esta campanha, embora popular, dado o número de participantes, arrecadou apenas 172 mil kwanzas, e o do Lar Nazaré, uma residência para acolhimento de vítimas de violação sexual, abandono entre outros, alcançou 126 mil kwanzas. O financiamento visa a construção de seis salas de aula e outros apetrechos.
Para criar uma campanha de angariação de fundos, basta aderir à página deyamais.com na internet e determinar o prazo de duração da campanha, bem como o montante que espera arrecadar. A ‘Bantu Markers’ fica com 5% do valor determinado. Ou seja, caso o projecto angarie o montante determinado período antes do fim do prazo, a ‘starup’ não tem interferência no montante subsequente, ficando apenas com os 5% do valor determinado. Os pagamentos são feitos por transferências bancárias ou por ‘PayPal’, um cartão pré-pago virtual, que permite fazer compras em sites internacionais. A plataforma foi criada em 2017, mas só em 2018 passou a operar em pleno.
Ao VALOR, Vanda de Oliveira, co-fundadora da ‘Bantu Markers’, considera 2019 como a melhor época da empresa por, segundo sublinha, ser o período que a instituição tem registado não apenas mais fluxo na página, mas também mais arrecadações. Os 10 meses deste ano representam um aumento de 60% em relação ao mesmo período do ano transacto.
Além do ‘Deya’, a ‘Bantu Markers’ tem cerca de 100 projectos em análise e, segundo Vanda de Oliveira, está à procura de talentos para dirigir determinados projectos que possam vir a ser aprovados. “Somos uma empresa que cria empresas no sector da tecnologia. Diferente das empresas convencionais, o nosso objectivo é lançar produtos e só depois a transformamos em empresa. Não formalizamos inicialmente uma empresa, porque em muitos casos as empresas têm uma alta taxa de mortalidade, por isso optamos por criar o produto, sempre na área da tecnologia, e caso se revele viável, aí legalizamos”, explica a co-fundadora da ‘Bantu Markers’, para quem as dificuldades devem ser aproveitadas para desenvolver tecnologia capaz de mitigar os impactos, e fazer negócio.
Mercado mundial de ‘crowdfunding’
A prática de ‘crowdfunding’ começou em 2005 e ganhou escala mundial a partir de 2009. Por hoje, há plataformas online de recolha de fundo em mais de 160 países. Dados disponíveis indicam que, nos EUA, o ‘crowdfunding’ é visto como um “importante centro de inovação”, lançando diariamente novos produtos, artes e serviços, em campanhas que chegam a arrecadar 14 milhões de dólares em cada dois meses. Em 2014, por exemplo, o mercado de ‘crowdfunding’ norte-americano movimentou 16,2 mil milhões de dólares, representando um aumento de 167% em relação a 2013, quando as campanhas ao redor do mundo geraram seis mil milhões de dólares. As projeções indicam que o mercado pode chegar a pelo menos 90 mil milhões de dólares até 2025.
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