Produção aumenta, mas qualidade ainda não satisfaz
PRODUÇÃO NACIONAL. Produção nacional de sal é cinco vezes inferior às necessidades do país. Quem produz queixa-se das condições e de alguma concorrência desleal, decorrente da importação deste produto. Autoridades garantem que estão a zelar pelo aumento da qualidade.
A produção de sal nacional aumentou durante o primeiro semestre deste ano em relação ao período homólogo do ano passado. No total, os produtores registaram 52.642,2 toneladas de sal comum, contra as 41.346 toneladas de 2016, segundo dados oficiais a que o VALOR teve acesso.
No semestre passado, Angola produziu mais 11.296,2 toneladas, apesar dos transtornos provocados pelas chuvas, adiantou a responsável da Direcção Nacional de Produção e Iodização do Sal, Cidalina Costa.
Os dados provisórios revelam que, do total produzido nesse semestre, 48.500,2 toneladas foram iodizadas, contra as 37.685,6 toneladas no ano passado. Apesar do aumento nesse semestre, os números continuam aquém das necessidades anuais do país, estimadas em 250 mil toneladas, ou seja, quase cinco vezes mais do que o pico de produção este ano.
Benguela foi a maior produtora, reclamando 37.480,4 toneladas do total produzido no semestre, seguida do Namibe, Kwanza-Sul e Bengo.
O Plano Nacional de Desenvolvimento (PND) 2013/2017 estipula uma meta de produção de 120 mil toneladas anuais. Durante todo o ano de 2016 produziu-se apenas 93 mil, menos 27 mil do que o previsto.
A ministra das Pescas contestou, entretanto, os números de produção dos últimos anos, com o argumento de que a produção do empresariado é, na verdade, superior ao apresentado ao seu ministério. Durante um conselho consultivo do seu pelouro, em Abril do ano passado, Victória de Barros Neto acusou os empresários de “sonegarem” informação estatística para fugirem ao pagamento de impostos.
Qualidade ainda “deficiente”
A qualidade deste produto, essencial à alimentação e ao funcionamento de algumas indústrias, também constitui problema. A directora nacional do Sal, Cidalina Costa, admite que os estabelecimentos comerciais “ainda têm dificuldades em receber o sal produzido no país devido à qualidade”.
Segundo considerou, o sal produzido em Angola ainda apresenta uma humidade muito considerável, conquanto algumas produtoras “não cumprem bem” os requisitos de iodização. “Ou seja, iodizam mais umas vezes, e menos outras.”
A responsável garante que o seu organismo tem tentado ultrapassar o problema da qualidade com a aplicação de multas e na partilha de informação sobre os padrões de qualidade aceitável.
Cidalina Costa insistiu que o desejo de melhoria da qualidade de sal é permanente e que essa constitui a grande meta a atingir em 2017.
Em declarações ao VALOR, Adérito Areias, um dos maiores produtores do sal no país, acredita, por sua vez, que Angola possui todos os elementos necessários para que se produza sal de qualidade, devido ao clima e às condições favoráveis da terra.
Importação, o “inimigo” dos produtores
O sal importado continua a ser o grande ‘vilão’ para os produtores nacionais. Vários empresários, principalmente das províncias de Benguela e do Namibe, garantem que é das batalhas “mais complicadas“ que travam há muitos anos.
Para Adérito Areias, as penalizações previstas na pauta aduaneira são insuficientes, pois os empresários “continuam a ver o sal importado e de menos qualidade a entrar no país”.
Em 2013, um empresário do Namibe lançou um grito de socorro ao Governo para que as autoridades salvassem a produção nacional, dada as elevadas quantidades de sal importado. Outro problema reside na dificuldade em aceder a divisas para a importação de insumos, equipamentos e embalagens. Adérito Areias considerou de “extremamente constrangedor” os gastos com combustíveis, visto que a produção depende integralmente de fontes alternativas.
Apenas 16 das 21 salinas em Angola estão activas.
JLo do lado errado da história