ANGOLA GROWING
MISTURA DE CINZA DOS RESTOS DA CANA, DENDÉM E CAL

Projecto angolano apresenta cimento de baixo custo

23 Feb. 2022 Mercado & Finanças

Indústria. Produção de novo cimento ecológico tem promessa de financiamento de 1 milhão de dólares pela mão de investidores namibianos, mas vai precisar de outros 2 milhões para a construção das casas-modelo.

Projecto angolano apresenta cimento de baixo custo

Angola poderá contar, ainda este ano, com um novo tipo de cimento de baixo custo que resulta segundo o investigador angolano Jorge Rufino, de uma descoberta no âmbito de uma pesquisa para a tese de doutoramento.

Produzido de uma mistura da cinza dos restos da cana-de-açúcar, do dendém e 5% de cal, depois de um conjunto de análises em laboratórios da Espanha e de Cuba, o novo tipo de cimento, denominado Ecoyeto, já conta, para a produção, com uma promessa de financiamento de 1 milhão de dólares, pela mão de investidores namibianos. O montante destina-se essencialmente à aquisição de equipamentos e à instalação da fábrica deste cimento ecológico, considerado de baixo custo, com os cálculos a apontarem para entre 1.500 e 2 mil kwanzas cada saco de 50 quilos.

Além do financiamento namibiano já garantido, segundo Jorge Rufino, a materialização do projecto fica dependente, entretanto, de um outro financiamento de cerca de 2 milhões de dólares para a construção de casas-modelo com este material. ‘‘Vamos construir e, quando a população se aperceber de que a construção é boa, vai querer aprender. Assim, nós vamos massificar, ensinando as pessoas como é que devem trabalhar, fazer a mistura e como se constrói’’, calcula.

Rufino assegura que o cimento já foi testado em várias regiões do país para verificar a reacção dos solos, tendo mostrado “melhor desempenho” em zonas arenosas. ‘‘Fizemos vários blocos de adobe e levantámos algumas paredes ao ar livre para avaliar a resistência e, durante 28 dias, comportou-se perfeitamente’’, conta.

O cimento servirá, principalmente, para o fabrico de adobes estabilizados, que, segundo Rufino, permite construções de casas com custos baixos, como são as construções na África do Sul, onde as habitações são maioritariamente feitas com adobe estabilizado. O especialista defende que as casas de adobe, construídas de forma empírica, têm muito tempo de vida e, com o uso desta solução, poderão demorar mais tempo ainda.

O especialista entende que o projecto “pode trazer solução aos problemas que o Governo nunca conseguiu resolver”, como as promessas de construção de milhares de casas para as famílias de baixa renda. “O Estado está obrigado a construir casas de pessoas de baixa renda, porque as de média e alta devem ser deixadas para os promotores imobiliários fazerem.”

Sem estar definido ainda o local de instalação da fábrica, as províncias de Malanje, Uíge e Cuanza-Norte adiantam-se entre as candidatas a receber a infra-estrutura.