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MOÇÃO DE CENSURA HISTÓRICA EM ESPANHA

PSOE 'deixa cair’ PP e forma governo

04 Jun. 2018 Valor Económico Mundo

QUEDA DE GOVERNO. Socialistas chegam ao poder, graças a uma moção a de censura que Espanha nunca tinha assistido em 40 anos. Governação vai depender da coligação com nacionalistas.

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Espanha tem um novo primeiro-ministro eleito na passada sexta-feira e que será empossado hoje. Trata-se de Pedro Sánchez, do Partido Socialista Espanhol (PSOE), que ‘derrubou’ Mariano Rajoy, do Partido Popular (PP), que liderou o governo nos últimos seis anos.

Sánchez substituiu Rajoy depois da aprovação de uma moção de censura no parlamento, que obteve 180 votos a favor, 169 contra e uma abstenção. Para fazer cair o governo, precisava de alcançar a maioria de 176 votos.

A aprovação da moção de censura implica a investidura do secretário-geral do PSOE, Pedro Sanchez como novo líder do governo e a destituição do primeiro-ministro Mariano Rajoy e todos os seus ministros.

Após a aprovação, Mariano Rajoy saiu do seu lugar e dirigiu-se a Pedro Sanchez para o cumprimentar, como novo primeiro-ministro. “Foi uma honra ter deixado Espanha melhor do que a encontrei”, declarou Rajoy num breve discurso antes da votação. “Quero ser o primeiro a felicitar Sánchez e aceitarei como democrata o resultado da votação mas não posso aceitar como tudo foi feito”.

Por sua vez, Pedro Sánchez que deverá tentar acabar a legislatura em 2020, disse que a assembleia escreveu “uma nova página na democracia do país”. E, perante os deputados, agradeceu “de todo o coração” os apoios parlamentares à moção de censura apresentada pelo PSOE. “Temos uma tarefa muito importante no que diz respeito à coesão social, é necessário estabilizar socialmente o nosso país”, afirmou.

A aprovação desta moção de censura é um momento histórico em Espanha, uma vez que o PSOE tem apenas 84 deputados (de um total de 350) mas conseguiu os mais de 176 votos necessários para afastar Mariano Rajoy com apoio do Unidos Podemos (extrema-esquerda), nacionalistas bascos e os independentistas catalães. Em 40 anos de democracia, foi a primeira vez que o parlamento espanhol enfrentou uma moção de censura.

A queda do executivo de Mariano Rajoy, que esteve seis anos à frente dos destinos de Espanha, é provocada depois de vários ex-membros do PP terem sido condenados a penas de prisão por terem participado num esquema de corrupção.

Analistas avançam, no entanto, que a aritmética parlamentar que garantiu o derrube de Rajoy não será fácil de replicar na governação, uma vez que Sánchez terá de conciliar os interesses do PSOE com os do Podemos e das forças nacionalistas.

As mesmas fontes acreditam ainda que um bom resultado do PSOE nas eleições que, apesar de não terem ainda data marcada, deverão acontecer dentro de poucos meses, dependerá da capacidade de Sanchez promover políticas populares.

Apoio dos vizinhos

O presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, escusou-se a comentar a situação política em Espanha, deixando escapar apenas que “o que é bom para Espanha corre bem para Portugal”. “Não vou comentar o governo espanhol, aquilo que desejamos sempre em relação aos países amigos é que sejam países com sucesso”, disse o chefe de Estado português.

O primeiro-ministro António Costa felicitou Pedro Sánchez e disse esperar que, com o novo governo espanhol, as relações entre Portugal e Espanha “continuem a melhorar”, no seguimento dos projectos que os dois países têm em curso.

“Quero desejar ao novo presidente do governo, Pedro Sánchez, as maiores felicidades e que, com o seu governo, as relações entre Portugal e Espanha continuem a melhorar e na senda que temos vindo a desenvolver”.

António Costa aproveitou ainda a ocasião para “enviar um abraço de muita amizade” a Mariano Rajoy, referindo-se que “foi um gosto trabalhar com ele novamente”, depois de já o ter feito há uns anos, quando ambos eram ministros.

De professor a primeiro-ministro

“A sua solidão, senhor Rajoy, representa o epitáfio de um tempo político, o seu, que já terminou”, disse Sanchez no Congresso dos Deputados. Nascido a 29 de Fevereiro de 1972, em Madrid, Pedro Sanchez nasceu numa família abastada, de um pai empresário e uma mãe funcionária pública.

Ao mesmo tempo que dedicava muitas horas ao basquetebol (mede 1,90 metros), estudou Economia, primeiro na sua cidade e depois em Bruxelas.

Amante da política desde jovem, foi conselheiro municipal em Madrid, entre 2004 e 2009, quando chegou a deputado e a sua carreira disparou. Impulsionado em 2014 para a liderança de um PSOE debilitado devido às primárias do partido, ficou atrás de Rajoy nas eleições de Dezembro de 2015.

Tentou formar governo com os partidos emergentes do Podemos e Cidadãos, mas a iniciativa desfez-se.

Na repetição das eleições de Junho de 2016, o PSOE registou o seu pior resultado desde o restabelecimento da democracia espanhola, em 1977. Sánchez foi deposto por uma rebelião interna que o culpava pelos maus resultados eleitorais. Voltou pela porta grande em Maio de 2017, quando os militantes o devolveram à liderança do seu partido.

Pedro Sánchez vai ser recordado pelo PP por causar a queda de um chefe de governo que já sobrevivera a várias crises ou “ficará na história de Espanha como o Judas da política”, afirmou recentemente Fernando Martínez-Maillo, número três da formação conservadora, recordado pelo jornal El País.